Secretaria da Igualdade Racial quer resposta de MuBE e Estrela sobre boneca "Neguinha do Espanador"
Ministério Público e Secretaria da Igualdade Racial de SP também serão acionados
São Paulo|Caroline Apple, do R7
Após denúncias, a Secretaria de Política de Promoção da Igualdade Racial, em Brasília, irá pedir explicações à Brinquedos Estrela e ao MuBE (Museu Brasileiro da Escultura), juntamente com o Ministério Público de São Paulo e a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial municipal, sobre a exposição da boneca "Neguinha do Espanador", que faz parte da mostra Mail Art Cupcake Estrela, que está em cartaz no shopping Market Place, na zona sul de SP.
A boneca, da artista Rita Caruzzo, foi considerada racista por integrantes de movimentos negros, que repudiaram a retratação da mulher negra na forma de um ser subserviente, o que, segundo eles, remetem a herança escravagista, presente nos dias de hoje.
O MuBE emitiu uma nota onde afirma que "repudia qualquer atitude de segregação, quanto a gênero, classe, etnia, crença ou outra forma de discriminação" e que "os processos criativos ocorrem de forma aberta e democrática, com multiplicidade de visões, sem qualquer tipo de censura".
O caso da denúncia não foi comentado pela assessoria de imprensa do MuBE, que se limitou em dizer que o museu já se pronunciou por meio de nota oficial.
A artista Rita Caruzzo foi acionada pela reportagem e deverá se pronunciar ainda nesta quarta-feira (28).
Nota Estrela
"A Estrela recebeu ofício da Ouvidoria Nacional da Igualdade Racial, com cópia para a Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial de São Paulo e o Ministério Público do Estado de São Paulo, e vai apresentar os esclarecimentos necessários bem como o argumento da artista plástica. A empresa foi precursora no lançamento de bebês e bonecas da raça negra e mantém em linha alguns produtos. Estrela tem bonecas afro descendentes desde a década de 40. Foi precursora de produtos étnicos e hoje na coleção tem: Coleção Brigaderia- Chocolate com Pimenta, Fofolete Dark Fashion-Pierre Lobo Doutora Brinquedos e Meu Bebê."
Mulher negra não deve ser representada como serviçal
Para Renata Felinto, doutoranda em artes pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) e artista visual especialista na representação da mulher negra, a obra é um "desrespeito" e que a forma como o negro é representado na sociedade parte de uma escolha.
— Historicamente o lugar destinado à mulher negra foi o de objeto para uso sexual e doméstico. Mais de 70% das funcionárias domésticas são negras no nosso País e essa condição se dá não por uma escolha, mas pela necessidade básica. Mas hoje há muitas mestrandas e doutorandas amparadas por programas sociais de educação. Essa artista é, no mínimo, desinformada quando retrata a mulher negra no lugar de submissão, exploração e humilhação, porque é dessa forma que o trabalho doméstico é visto no Brasil. Isso traz à tona claramente a herança escravagista. É desrespeitar esse segmento da população e minar a luta contra o racismo.