O descarrilamento de um trem cargueiro, seguido de choque com uma composição de passageiros na linha 7 — Rubi da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), na última quarta-feira (18), reascendeu a discussão sobre o uso compartilhado de trilhos por trens de carga e de passageiros.
A ferrovia paulista surgiu, há mais de 140 anos, com o objetivo central de servir ao transporte de mercadorias. Porém, ao longo dos anos, com o crescimento da Grande São Paulo e, consequentemente, com uma demanda cada vez maior, houve uma inversão de papeis e o deslocamento de usuários se tornou prioridade. É o que aponta o especialista em engenharia de transportes, Horário Augusto Figueira.
— Na região metropolitana de São Paulo não é mais possível [o uso dos trilhos compartilhados], porque os intervalos de trens no sistema da CPTM já são tão pequenos que não tem o que chamamos de brecha técnica para você inserir os gigantescos trens de carga. Compartilhado eu não vejo mais como. A gente está no limite.
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Para Figueira, o País fez uma má escolha ao priorizar o transporte rodoviário na década de 50. Segundo o especialista, se o investimento nos trilhos tivesse continuado, hoje haveria mais opções para resolver a atual situação.
— Nós vamos abrir outra via para carga? Bom, do jeito que a cidade foi ocupada ao longo da ferrovia, hoje precisaria de grandes desapropriações. E, atualmente, o custo de desapropriação ficaria muito grande. Então você vai ter que procurar outro traçado, fora da mancha urbana. O que eles querem fazer, então, é o “ferroanel”, para carga de passagem e carga que vai para o porto.
O responsável pelo atendimento da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária), Anderson Alves Conte, diz que é possível manter um sistema compartilhado. Ele ressalta, porém, que os trens de carga estão perdendo espaço atualmente, além de ser necessário mais investimento nas ferrovias.
— Tem que ter manutenção e as operadores de trem de carga e de passageiros precisam conversar. É claro que, à medida que vai aumentando o número de passageiros no trem metropolitano, tendo que diminuir os intervalos entre os trens, vai ficar cada vez mais inviável passar a composição de carga. É preciso criar uma linha onde esse trem passe por fora [do grande fluxo].
A CPTM informou em nota que "está modernizando o sistema e se preparando para reduzir ainda mais os intervalos entre os trens, o que inviabilizará, num futuro próximo, o compartilhamento das vias". A empresa disse ainda que "a implantação do ‘ferroanel’ (vias exclusivas para os trens de carga), projeto que está sob a responsabilidade do governo federal, torna-se urgente e inadiável, sendo a solução definitiva para a questão".
Ainda segundo a companhia paulista, o compartilhamento existe por causa de um convênio com o governo federal, firmado em sua fundação, em 1992. A única linha que não divide os trilhos é a 9—Esmeralda (Osasco-Grajaú). O transporte de carga é realizado à noite, entre 22h e 3h, e das 10h às 15h. A quantidade de carga transportada, por mês, é de 2,9 milhões de toneladas, e as composições chegam a ter 1.500 m de extensão.
*Colaborou Thiago Pássaro, estagiário do R7