Logo na entrada já damos de cara com rampas de acesso. As portas são muito largas. Não fica difícil saber o trabalho desenvolvido ali. O espaço é organizado e arejado. Vinícius e Alfredo nos dão boas-vindas. Um cada ao seu jeito. Eles são pacientes e também moradores da Associação Cruz Verde, em São Paulo, instituição filantrópica que cuida de pessoas com paralisia cerebral grave. Sorridentes, eles buscam qualidade de vida mesmo com as severas limitações. Ambos são cadeirantes e têm dificuldades motoras e intelectuais.
Uma das pessoas responsáveis em cuidar destes “filhos” que a vida lhe deu é a enfermeira Andrea de Carvalho.
— Nós precisamos ter atenção a todo momento, eles nos ensinam a ser seres humanos melhores a cada dia.
Um desses filhos adotivos de Andrea é Alfredo — o mesmo que nos recebeu tão bem na entrada. Ele, 47 anos de idade, está na instituição há 34 anos. Sua família biológica o abandonou ainda criança. Assim como ele, 70% dos pacientes são deixados na associação pelos pais que preferem não cuidar dos filhos por causa da deficiência. Maria das Graças Sousa, de 60 anos, é outro exemplo. Está na entidade desde 1970. Apesar destas dificuldades, eles não deixam de sonhar. Dudu, paciente da Cruz Verde, escreveu um livro chamado Minha Casa Verde onde conta histórias de vida e como passa mais de 40 anos na associação.
O começo
Foi em 1958 que o médico Antônio Branco Lefèvre, com ajuda de outros médicos, fundou a Associação Cruz Verde, em uma casa no bairro de Moema, zona sul da capital paulista. Com a crescente procura e percepção da complexidade nos tratamentos, conseguiu com a ajuda de empresários, construir a única e atual sede da Cruz Verde, na Vila Clementino, em São Paulo.
Hoje, a associação cuida de 204 pacientes internados dos mais variados e complexos quadros clínicos. Tamanha condição demanda uma estrutura complexa de alto custo que envolvem médicos e enfermeiros 24 horas por dia. As despesas mensais ultrapassam R$ 1,3 milhão por mês. Explica-se: 30% dos pacientes alimentam-se por meio de dieta enteral — alimentação via sonda com nutrientes específicos para manter o organismo funcionando — além disso, a instituição tem, ao todo, 300 funcionários remunerados, custos com cilindros de oxigênio, dentistas e neurologistas para cuidar de todos internados e pacientes externos que vão para tratamentos semanais. São 1800 atendimentos mensais deste tipo, todos com procedimentos gratuitos. Os custos, em média, de cada um dos 204 internados fica em torno de R$ 6.535 por mês, já as despesas entre todos pacientes, externos e internos, é de R$ 782 por mês.
Toda a diretoria da instituição é voluntária.
Superintendente da Cruz Verde há mais de 20 anos, Marilena Pacios, destaca o trabalho realizado na associação.
— Nós procuramos dar dignidade a essas pessoas que são abandonadas pela sociedade e até própria família na maioria dos casos. Apesar de toda dedicação, e de ser referência em casos de paralisia cerebral grave, nem tudo são flores no dia a dia da Cruz verde.
Em tese, a verba do SUS (Sistema Único de Saúde), deveria custear todos os gastos hospitalares da Cruz Verde, mas a realidade é bem distante disso.
— A tabela de repasse está desatualizada desde 2004. Hoje, essa verba corresponde a apenas 65% de nossas despesas mensais.
Entretanto, a questão é ainda mais profunda conforme explica Felipe Versati, coordenador de marketing da Cruz Verde.
— O SUS não entende que os casos que tratamos são muito específicos, pois cada paciente têm uma demanda totalmente diferente do outro. Já tentamos demonstrar isso, mas eles não entendem.
De acordo com Versati, além da iniciativa privada, ações de como a do cantor Fábio Jr, que realizou recentemente um show beneficente em prol da entidade para angariar recursos usados nos tratamentos, ajudam a instituição.
Como ajudar?
A Associação aceita doações de objetos ou depósito de dinheiro:
Razão Social: Associação Cruz Verde
CNPJ: 60.762.846.0001-90
Banco Bradesco
Agência 2282
C/C13.000-1
Banco Itaú
Agência 0368
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Site e Redes Sociais: www.cruzverde.org.br / facebook.com/acruzverde / instagram.com/cruzverdeoficial
Endereço: Rua Dr. Diogo de Faria, 695 - Vila Clementino
Telefone: (11) 5579-7335
Andreia de Carvalho é enfermeira, mas pode ser chamada de mãe de muitos filhos. Mais especificamente de 204. Há 12 anos, ela está na Associação Cruz Verde, que é referência no tratamento de casos de paralisia cerebral grave. — A gente aprende mais com eles, pois desenvolvemos nosso lado humano diariamente. Os cuidados são amplos, já que, todos eles moram na instituição. Muitos são abandonados pela família ainda crianças e ganham ali uma nova perspectiva de cuidados e afeto. Conheça a seguir algumas histórias dos pacientes da Cruz Verde!