Com transtorno bipolar, Maurício Mattar toma remédios e diz: "nada mais me tira do sério"
Especialista alerta que quem sofre com a doença "tem fama de briguento e encrenqueiro"
Saúde|Vanessa Sulina, do R7
Depois de sofrer anos com as frequentes oscilações de humor, Maurício Mattar resolveu buscar ajuda médica e afirma que hoje seus relacionamentos “estão maravilhosos”. Diagnosticado com transtorno bipolar, há dois anos, o ator frequenta o psiquiatra e toma remédio. Com o tratamento, ele garante: “nada mais me tira do sério”. Segundo a ABTB (Associação Brasileira de Transtorno Bipolar), estima-se que pelo menos dois milhões de brasileiros sofrem do transtorno.
— A bipolaridade não aparece de repente. Você nasce ou não com ela. Na verdade essa é uma característica minha que nunca foi tratada.
Segundo a psiquiatra e presidente da ABTB, Angela Scippa, o transtorno bipolar foi considerado pela OMS a sexta causa de incapacitação entre todas as doenças médicas e a terceira entre as psiquiátricas. A médica explica que a origem está ligada a genética e a fatores ambientais, ou seja, influências do meio em que a pessoa vive, que podem agir de forma combinada.
— O sintoma principal da doença é agitação excessiva, pensamento e voz acelerados. É comum também a pessoa ter ideias grandiosas e ser muito autoconfiante, além de ter gastos desmedidos. Outros sintomas são a impulsividade, falta de sono, aumento da atividade sexual. É importante esclarecer que o transtorno bipolar tem duas fases, que é a de mania e a de euforia.
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Por causa dos sintomas, Mattar disse que “você acaba machucando pessoas por meio das palavras que ficam soltas”.
— O que acontecia comigo era que uma hora tudo estava tranquilo e maravilhoso e, às vezes, uma vírgula me fazia perder a paciência. Nessas horas que você perde as estribeiras, fala certas coisas que não gostaria. Logo depois que passa, você se arrepende, como se fosse uma calmaria. Essa oscilação é constante e para eliminar é necessário você dosar com medicamento. De dois anos para cá, consegui conviver melhor nos grupos de trabalho e na minha casa. A relação com minha família foi a primeira a ser notada, se equilibrou.
Diagnóstico tardio
Segundo a médica, a pessoa pode demorar até dez anos para descobrir o diagnóstico do transtorno bipolar. Isso ocorre porque os sintomas podem ser confundidos com os de outras doenças, como a depressão, por exemplo.
— Quando os sintomas do transtorno aparecem de maneira brusca, fica mais fácil identificar e tratar. Mas quando esses sintomas se “arrastam” por anos e surgem aos poucos, fica mais difícil identificar a doença. Assim, em muitos casos as pessoas adquirem fama de encrenqueiras ou de briguentas quando na verdade sofrem de transtorno bipolar.
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Doença de jovens
Geralmente, a doença se manifesta inicialmente na adolescência — 60% dos casos antes dos 20 anos de idade, mas pode ocorrer em qualquer idade. Para Angela, isso acontece, pois é “uma característica da doença”.
— O transtorno bipolar pode se desenvolver em qualquer fase da vida, mas geralmente é na adolescência, justamente por ser originada daqueles dois fatores: vulnerabilidade genética e fatores do ambiente.
Saiba viver bem
Apesar de não ter cura, é possível viver bem e normalmente com o uso de remédio e tratamento complementares, de acordo com psiquiatra do departamento de psiquiatria da Unifesp (Universidade de São Paulo) Eduardo Tischer. O especialista explica que a pessoa terá que tomar um “estabilizador de humor”, além de fazer um tratamento complementar.
— O controle é feito por medicamento, mas não é o único meio. Além da própria medicação, terapia pode ajudar, como melhorar a qualidade de vida fazendo atividade física, evitar ingestão de álcool, por exemplo. Ou seja, todo um conjunto de fatores.