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Especialista rebate boatos que questionam segurança da vacina contra H1N1: "É um raciocínio egoísta"

Correntes sugerem que vacina conteria elementos tóxicos e não teria sido testada o suficiente

Saúde|Marcella Franco, do R7

Mercúrio presente na fórmula é usado em quantidade "desprezível", e não deveria ser motivo de preocupação, diz infectologista
Mercúrio presente na fórmula é usado em quantidade "desprezível", e não deveria ser motivo de preocupação, diz infectologista

Desde o início da divulgação de que há um surto de H1N1 em curso no País, junto com o pânico de famílias buscando com urgência a imunização surgiu também uma corrente que alega que a vacina contra a doença não seria segura ou eficaz o suficiente, baseando-se em argumentos que questionam desde a composição da fórmula do imunizante até a real necessidade de recebê-lo.

Entre outras alegações, circula pelas redes sociais a tese de que a vacina contra o H1N1 conteria mercúrio em uma quantidade considerada tóxica para o corpo humano. O infectologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações Renato Kfouri responde que, de fato, o elemento químico está presente na lista de ingredientes da vacina, mas de um jeito diferente daquele defendido pelos boatos recentes.

Ele explica que o mercúrio é utilizado como conservante, e que desempenha um papel “excelente” em termos de durabilidade especialmente em frascos multidoses, quando uma única embalagem contém cerca de 50 doses a serem distribuídas ao longo de vários dias. As multidoses são mais frequentes em campanhas públicas, enquanto nas clínicas privadas são utilizados apenas os frascos de monodose, tanto para a vacina da gripe quanto para as demais vacinas.

— É um mito dizer que esse mercúrio vai trazer algum problema. A quantidade dele na vacina é mínima, desprezível, e não há nenhuma evidência de que ele possa fazer algum mal. Aliás, é importante dizer que se encontra muito mais mercúrio em alimentos que consumimos diariamente e na carne animal do que há na vacina.


Vacinação ainda é melhor forma de prevenir doenças, afirmam especialistas

A respeito do raciocínio de que expor as crianças a doenças, evitando a imunização, pode ajudar a fortalecer o organismo delas, Kfouri é categórico.


— Imaginar que uma pessoa deve ter paralisia infantil para que seu corpo fique imune é um pensamento irresponsável e que não faz o menor sentido para qualquer profissional de saúde. É um risco muito grande entender que ter doença é mais saudável que se vacinar. Dar a vacina contra poliomielite e não dar outras é praticar a filosofia seletiva, achando que apenas algumas doenças são “boas” para o organismo enquanto outras não são. É incoerente.

O médico acredita que o raciocínio que move a imunização, seja contra qual vírus for, envolve o senso de coletividade e cidadania. Isso porque, explica Kfouri, quando uma pessoa é vacinada, outros indivíduos também são beneficiados por esta imunização, já que, deste modo, a disseminação do vírus é brecada.


Ele rebate o tópico sobre a eficácia dos imunizantes usando exemplos como a própria poliomielite já mencionada, além do sarampo e rubéola congênita, doenças já erradicadas justamente graças às vacinas.

— As vacinas são introduzidas para uma população não só para evitar a mortalidade, mas também o adoecimento. Imagine, por exemplo, o número de leitos hospitalares que teríamos evitado usar se tivéssemos uma vacina eficiente contra a dengue. Além disso, existem pessoas que não podem receber a vacina, ou porque tem Aids, porque são transplantados etc, e elas também se beneficiam ao não adoecer já que, com todos vacinados, não há ninguém para lhes transmitir aquele vírus. Pensar ao contrário disso é um raciocínio muito egoísta.

Embora já seja utilizada desde a década de 40, ainda assim a vacina contra a influenza também tem despertado a desconfiança em relação à sua segurança — sugerindo se tratar de uma vacina “recente”, compartilhamentos na internet questionam a existência ou não de testes a longo prazo dos efeitos colaterais que a imunização poderia produzir.

— Como acontece com qualquer produto lançado pela indústria farmacêutica, é realizado um estudo que engloba entre 30 mil e 60 mil indivíduos, o que é realmente muito diferente de se observar o que acontece em 60 milhões de doses. No entanto, temos uma vigilância pós-licenciamento que vai comprovar que esses testes já feitos continuam valendo com milhões de aplicações. E, ainda que alguma coisa aconteça, a quantidade de pessoas que vão ser favorecidos por este produto é enorme. Depois de dez anos, o número de vidas salvas ou doenças evitadas é muito superior.

Vacinas ainda são essenciais para controlar catapora, rubéola, sarampo e caxumba

Kfouri também rechaça a ideia de que o calendário de vacinação sobrecarregaria o sistema imune.

Para o infectologista, trata-se de mais um “modismo” presente especialmente nas classes mais esclarecidas e que ignora o fato de que a quantidade de substâncias infectantes presentes nas doses é mínima.

— Quando você está doente e entra no pronto-socorro com um problema, eles te injetam coisas na veia e você nem pergunta o que é aquilo. Você está doente e aceita tomar um tratamento. Só que, quando vamos colocar meia dúzia de moléculas no organismo de alguém através de uma vacina, as pessoas ficam preocupadas. Justo elas, que tomam coisas muito mais pesadas do ponto de vista terapêutico e não reclamam. Quem tem câncer, por exemplo, toma quimioterapia e nem pergunta se vai fazer mal. Daí na hora da prevenção tudo parece ser risco, e o raciocínio deveria ser o contrário. Até porque as vacinas já demonstraram seu valor através de décadas.

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