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Estudo inédito do Hospital das Clínicas utiliza tecnologia espacial para pacientes voltarem a andar

Trabalho foi feito com óculos americanos que melhoram caminhada de doentes com Parkinson

Saúde|Eugenio Goussinsky, do R7

Todos os pacientes que usaram os óculos tiveram melhora
Todos os pacientes que usaram os óculos tiveram melhora Todos os pacientes que usaram os óculos tiveram melhora

Um estudo inédito no Brasil, realizado pelo Hospital das Clínicas de São Paulo, teve repercussão mundial ao comprovar os benefícios do uso de óculos na função de andadores virtuais, o que diminui a quantidade de quedas dos pacientes com o Mal de Parkinson. Realizado em 2015, o estudo foi publicado na revista americana International Archives of Medicine, referência em pesquisas científicas.

Denominado Andador Virtual GaitAid, o produto utiliza tecnologia de realidade virtual aumentada, descoberta em pesquisas realizadas pela NASA (Agência Espacial dos Estados Unidos) e se torna um auxílio para o paciente andar e ter movimentos mais estáveis. A fisioterapeuta Carolina Souza, do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, coordenou o estudo, feito em 18 pacientes do Hospital das Clínicas, e constatou que em todos houve uma melhora na caminhada a partir da utilização dos óculos, que variou de 30% a 70%.

— Os pacientes com Parkinson em estágio mais avançado têm problemas para caminhar, alterações da marcha, passos mais curtos e por isso ocorrem muitas quedas. Eles caem, fraturam membros e têm muitas complicações. Essa alteração não tem tanta resposta em outros tratamentos, tanto medicamentoso quanto via cirurgia. Os óculos trouxeram uma possibilidade de diminuição das quedas. Os tratamentos se somam com objetivo de melhorar a qualidade de vida de uma maneira geral do paciente.

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Este tipo de equipamento, utilizado há cerca de cinco anos em países como Estados Unidos e Austrália, foi desenvolvido para preencher uma lacuna em relação ao equilíbrio do paciente. É utilizado a partir do estágio 2,5 da doença (entre cinco possíveis), uma síndrome degenerativa, ainda sem cura, que, em situações mais avançadas, provoca tremores e o chamado freezing (perda de ritmo e travamento) e a acinesia (atraso involuntário de movimentos), gerando forte instabilidade.

Algumas técnicas, como a colocação de listras distantes, eram utilizadas para treinar o paciente, mas elas ficavam restritas aos consultórios e clínicas, diferentemente dos óculos, conforme diz Carolina.

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— Os pacientes chegavam a andar bem, mas saíam e tinham dificuldades, não conseguiam transferir o treinado no consultório para o ambiente do dia a dia. Houve então o interesse em desenvolver uma tecnologia para facilitar essas chamadas "dicas externas".

Os óculos, desenvolvidos por uma empresa israelense e de fabricação americana, simulam um caminho virtual que coordena e ritma a passada, desencadeando uma resposta neurológica, conforme explica a fisioterapeuta.

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— Dão um caminho alternativo para o cérebro. As células vizinhas fazem o trabalho das que estão prejudicadas. Mas o paciente não vai com ele em todo o lugar. Usa um período do dia e, conforme vai usando, vai treinando e vai melhorando.

Bengala a laser também auxilia nos passos dos pacientes
Bengala a laser também auxilia nos passos dos pacientes Bengala a laser também auxilia nos passos dos pacientes

Perda da memória dos movimentos

No Mal de Parkinson, a região cerebral chamada substância negra (no mesencéfalo), que produz a dopamina, é inexistente. A substância age nos núcleos da base, lugar que armazena a memória de movimento e os programas motores. A estabilidade dos membros do paciente fica prejudicada sem a dopamina, em cada caso de uma maneira, causando tremores e congelamento de movimentos, que deixam de ser automáticos.

A memória afetada, neste caso, é a implícita, localizada na parte de trás do cérebro e que é responsável pelas habilidades motoras, inatas (como andar) e adquiridas (como dirigir). É uma situação diferente da do Mal de Alzheimer, que afeta a memória explícita, localizada na parte frontal do cérebro, relacionada a informações de fatos cotidianos e à consciência.

Mesmo se lembrando de detalhes de sua vida, o paciente de Parkinson "esquece" apenas de como se movimentar naturalmente. Sem causa definida, a síndrome a princípio pode afetar qualquer pessoa. Quando isso acontece o tratamento é fundamental e envolve a utilização de medicamento, baseado na substância levodopa, no treinamento e possivelmente na cirurgia. Carolina diz que a doença em si não é fatal mas, se não for contida, evoluirá para que, em cerca de cinco anos o paciente fique restrito à cadeira de rodas.

— Não se morre de Parkinson, mas sim das complicações causadas por quedas e outras situações que envolvam movimento.

Apesar de já estar no mercado, este tipo de equipamento, que também pode ser uma bengala a laser (a LaserCane) que indica as passadas, ainda não foi incorporado pelo SUS (Sistema Único de Saúde). O aluguel custa R$ 750,00 por mês e o valor de compra é de R$ 15.000,00. O valor pago pelo aluguel até 6 meses tem uma porcentagem abatida na compra. Já a bengala custa R$ 1.790,00 com pagamento em até quatro parcelas ou 5% à vista. O aluguel é de R$ 200,00 por 30 dias e este valor é descontado em caso de compra.

Segundo a neurologista Rachael Brant, que participou do estudo, o trabalho desenvolvido pelo Hospital das Clínicas é mais uma evidência de que o Brasil, que no início do mês teve uma equipe premiada em relação a técnicas de cirurgia para o Mal de Parkinson, está em um nível avançado de estudos relativos à doença.

— Este estudo em relação aos óculos evidencia o pioneirismo brasileiro na área de reabilitação da marcha de pacientes com Parkinson. É uma pesquisa clínica que já nos autoriza a utilizar o equipamento na prática. E vai ter um impacto grande no futuro.

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A Organização Mundial de Saúde informa que há cerca de seis milhões de pessoas com Parkinson no mundo, o número de pacientes deve duplicar em 20 anos, por causa do envelhecimento da população e da maior precisão do diagnóstico em pessoas mais jovens, também vulneráveis a tal síndrome.

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