Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Estupradores de cadáveres têm “sexualidade monstruosa”, diz especialista

Necrofilia é doença rara; necrófilos transpõem a morte e a putrefação

Saúde|Marcella Franco, do R7

Caso se confirme a suspeita de necrofilia nos recentes casos de violação de túmulos no Paraná, o desdobramento natural é que a polícia busque, localize e puna os responsáveis pelos crimes. Mas, e quanto ao que antecedeu o delito, será que é possível encontrar explicação lógica para o que leva alguém a agredir e violentar um cadáver?

Indivíduos como os que arrombaram os caixões no Paraná possivelmente em busca de satisfação sexual são chamados de necrófilos na psiquiatria. Trata-se de uma grave e rara parafilia — desvio do comportamento sexual —, que não é só moralmente condenável, mas que também encontra sanção na lei: um necrófilo pode ser condenado de um mês a três anos de prisão.

O psiquiatra forense Guido Palomba explica que a necrofilia era mais presente na humanidade na antiguidade, mas que ainda hoje em dia é registrada nos autos policiais.

— É uma das formas mais monstruosas de degeneração do instituto sexual. Para alguém chegar a este extremo de ter sexo com um morto é preciso passar por tantos obstáculos que só uma gravíssima doença mental pode explicar.

Publicidade

Ele próprio já se deparou com dois casos assombrosos em sua carreira. No primeiro, um marido ciumento matou e degolou a esposa, jogando seu corpo e a cabeça em um poço logo após o crime. No entanto, relembra Palomba, três dias depois, arrependido e “com saudades”, como relatou à polícia, içou de volta os pedaços da mulher e os levou para casa.

Lá, amarrou a cabeça de volta ao corpo usando barbante e arame, e praticou ato sexual com ele. A segunda ocorrência de necrofilia a que Palomba teve acesso foi com uma mulher, funcionária do IML (Instituto Médico Legal), que costumava se masturbar ao lado dos corpos masculinos que chegavam à organização.

Publicidade

Ao contrário dos pedófilos, que em sua grande maioria apresentam episódios de abuso na infância, os necrófilos não exibem em seu histórico de vida características em comum, que pudessem ser interpretadas como um indicativo de causa do desenvolvimento da doença na idade adulta.

Psiquiatra do ambulatório do tratamento de dependências de comportamento do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Aderbal Vieira Junior define a necrofilia como um interesse sexual antinatural.

Publicidade

— Temos um processo evolutivo que nos selecionou para buscar seres humanos viáveis com quem possamos nos reproduzir. O necrófilo vai de encontro a isso. Ele vai atrás de um cadáver, que é algo apodrecido, isso enquanto a maioria das pessoas tem uma aversão natural à putrefação.

Para Palomba, a necrofilia não é formada em nenhuma fase da vida, e sim inata.

— Estes indivíduos provavelmente nasceram assim e vão morrer assim. É uma doença que não tem cura nenhuma. Por isso, ele vai acabar sendo pego mais cedo ou mais tarde. Deveria haver um lugar para esses indivíduos morarem longe da sociedade. E arrisco dizer que a necrofilia é apenas uma das aberrações comportamentais destas pessoas. Um exame minucioso mostraria que eles apresentam muitas outras.

Vieira Junior avisa que o ideal em casos como este é medicar o paciente imediatamente, para protegê-lo e também proteger a sociedade, evitando “que uma tragédia aconteça”. Mas, ainda assim, o psiquiatra esclarece que, mesmo com tratamentos farmacológicos e psicoterapia, os necrófilos jamais vão conseguir se transformar em pessoas com interesses sexuais considerados normais.

— Suponho que o necrófilo seja similar aos outros parafílicos. É algo muito estável, como a pedofilia, por exemplo. É difícil transformar um pedófilo em alguém com interesse em adulto. Nós, que gostamos de ter relações sexuais com seres vivos e adultos, não vamos conseguir virar necrófilos, assim como os necrófilos não vão conseguir virar pessoas normais.

Logo no princípio da internet, décadas atrás, Vieira Junior se lembra de ter encontrado um site que incitava a prática da necrofilia. Nele, havia orientações de participantes a novos interessados no tema, tais como métodos de proteção contra as bactérias do cadáver durante o ato sexual, e formas de se esconder da fiscalização dos cemitérios.

— Esta série de crimes recentes comprovam que os necrófilos continuam existindo, e que eles estão se organizando.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.