Falta ar-condicionado a pacientes com leucemia no Hospital das Clínicas de SP
Desconforto daqueles que passam por sessões de quimioterapia e se recuperam de transplantes de medula óssea é ainda maior
Saúde|Do R7
Pacientes com leucemia internados no ICHC (Instituto Central do Hospital das Clínicas) da USP, na região central de São Paulo, reclamam da falta de refrigeração nos leitos do 8º andar. O sistema de refrigeração central que leva o ar mais frio a cada um dos cerca de 10 leitos afetados no andar não funciona há pelo menos 11 dias.
E com as altas temperaturas na cidade — a máxima na última quarta-feira (26) alcançou 34°C —, o desconforto dos pacientes que passam por sessões de quimioterapia e se recuperam de transplantes de medula óssea é ainda maior.
A perda de sono seria a principal consequência. Todo mundo se queixa, conta uma paciente que prefere não se identificar.
— A pessoa não consegue dormir, não consegue descansar e fica toda suada.
Ela foi submetida na quarta-feira ao segundo transplante de medula em dois anos. Após um ano de realização do primeiro transplante, em maio de 2010, a paciente teve uma recaída e precisou passar por novo transplante. Ela foi diagnosticada há três anos com leucemia (câncer sanguíneo).
Na quinta-feira, outra paciente reclama do incômodo provocado pela falta do ar condicionado.
— Fiz meu transplante de medula anteontem. Depois, passei mal, cheguei a vomitar duas vezes. O médico disse que é natural do tratamento, mas com esse calor tudo piora.
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O desconforto com a situação, agravado pelo clima mais quente dos últimos dias, preocupa os familiares, como revela o pai da paciente:
— O transplante de medula já é uma agressão à pessoa, com esse calor deve dar um desgaste ainda maior, diz o pai da paciente.
Segundo ele, o sistema de refrigeração foi o único problema observado durante todo o período de internação de sua filha.
— Do ponto de vista médico, ela foi muito bem tratada. O problema agora é que estou vendo minha filha sofrer e várias outras pessoas também. Todos reclamam, mas a providência definitiva não é tomada.
Ouvidoria
Inconformado com a situação, ele resolveu acionar a ouvidoria do HC.
— Disseram que uma peça havia quebrado e seria necessário fazer uma licitação para substituí-la.
A preocupação do pai vai além do desconforto da filha. As complicações dos pacientes são sempre no pós-transplante e nessa temperatura ela pode ficar mais suscetível a alguma infecção, acredita.
De acordo com especialistas consultados pelo Estado, contudo, a falta de refrigeração nos leitos — os quartos geralmente são compartilhados por duas pessoas — não aumentaria a taxa de infeção hospitalar nem traria maiores complicações médicas, explica Garles Matias Vieira, médico do Departamento de Oncologia Clínica do Hospital A. C. Camargo:
— Esse calorão é incômodo, mas a ausência do ar condicionado não vai afetar a recuperação dos pacientes.
O mesma afirma José Medina, presidente da (ABTO) Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos.
— O calor é desconfortável para todo mundo. E quando a paciente for para casa, o desconforto vai ser levado também para lá. Esse calor não interfere no tratamento.
Para os pacientes que tiveram órgãos transplantados — em vez da medula óssea —, a ausência do ar condicionado também não seria um grande problema a ser enfrentado durante a recuperação, diz Valter Duro Garcia, do Registro Brasileiro de Transplantes de Órgãos.
— Para órgãos, o ideal é que tenha ar condicionado para o conforto do paciente, mas não é decisivo e a sua ausência não vai causar nenhuma infecção mais grave nos órgãos.
Consultado, o Instituto Central do Hospital das Clínicas da USP informou, em nota, que trata-se de um defeito pontual. Segundo a unidade, nesta sexta-feira (28) o problema já será resolvido e nenhum paciente teve o seu atendimento médico prejudicado. A nota não faz referência à necessidade de licitação para sanar o problema.