Mais de 90% dos portadores de hepatite C não sabem que têm a doença
Pacientes podem desenvolver cirrose e câncer de fígado
Saúde|Do R7
Protagonista de uma pandemia silenciosa, a hepatite C é responsável por graves complicações como cirrose e até mesmo câncer de fígado. Em todo o mundo, estima-se que 90% das pessoas que possuem desconhecem que carregam a hepatite C.
Segundo a Dra. Maria Lucia Ferraz, vice-presidente da SBH (Sociedade Brasileira de Hepatologia), as estatísticas tornam urgentes novos meios de investigação:
— Menos de 10% das pessoas sabem que têm a doença. Assim, quase todos os infectados ainda precisam descobrir ou mesmo terminar a investigação para direcionar melhor o tratamento.
No Brasil, a doença causada pelo vírus VHC atinge cerca de 1,5% da população. Por demorar, em geral, 20 anos para apresentar sintomas, a hepatite C tem seu diagnóstico feito com anos de atraso. Hoje, o principal desafio é localizar todos aqueles que sofrem da doença. Sem uma complicação típica da doença — como vomitar sangue ou desenvolver cirrose — fica difícil descobrir quem têm ou não a doença, avalia Dr. Hugo Cheinquer, hepatologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Segundo ele, a doença é vista como uma bomba-relógio, com o número de infectados que apresentam complicações podendo explodir daqui a alguns anos.
— Quando a pessoa se infecta com o vírus da hepatite C ela não sente nada. O vírus pode ficar no organismo por até 20, 30 ou 40 anos sem causar nada, aparentemente. Somente então, quando se descobre um câncer de fígado, por exemplo, que a pessoa vem saber que tem a doença. Como, então, tratar uma pessoa que não sabe que tem a doença?
Um em cada cinco pacientes com hepatite C desenvolverão cirrose (alterações no fígado marcadas pelo excesso de tecido fibroso). Uma vez com cirrose, o paciente pode apresentar complicações como ascite (caracterizada pelo acúmulo de água na cavidade abdominal), encefalopatia hepática (quando o fígado não consegue mais remover as substâncias tóxicas no sangue e há piora na função cerebral), além de um tumor hepático.
Segundo relatório da Economist Intelligence Unit, intitulado “A Pandemia Silenciosa: Combatendo a Hepatite C com Políticas Inovadoras”, a doença “é uma das principais causas de cirrose e câncer de fígado primário – uma complicação com taxas de sobrevivência especialmente baixas”. Além disso, “o VHC é também a maior causa de transplantes de fígado no mundo”.
HIV
Atualmente, a doença mata mais do que o HIV. As estatísticas americanas a partir de 2007 mostraram que a mortalidade pela hepatite C ultrapassou a de Aids. A notícia, explica Cheinquer, era esperada por conta do avanço no tratamento da Aids, auxiliado pelos poderosos coquetéis.
Além disso, segundo o documento, embora a magnitude da pandemia seja desconhecida devido à falta de diagnósticos possíveis, a OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que cerca de 150 milhões de pessoas no mundo vivam atualmente com a doença, que é infecciosa e transmitida pelo contato sanguíneo. Assim, a transmissão ocorre por compartilhamento de seringas contaminadas pelo usuário de drogas injetáveis, agulhas ou alicates não esterilizados.
A transmissão sexual é rara e só acontece quando há feridas na área genital que permitam o contato sanguíneo. Outro modo de transmissão, ainda, é o vertical, que pode ocorrer na hora do parto. Beijo na boca e objetos compartilhados na hora de comer e beber, como canudos e colheres, portanto, não transmitem a doença.
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Cheinquer lembra que para diagnosticar a doença, para qual não existe vacina, os Estados Unidos decidiram fazer testes em toda população nascida entre 1945 e 1965. O objetivo, ele contou, é identificar ao menos 80% das pessoas com o vírus.
— A maioria dos países tem o mesmo problema hoje: a grande parte das pessoas infectadas está em cassa e não sabe que tem o vírus. Nosso desafio hoje é saber quem são esses pacientes.
O alerta deve ser redobrado. Por ser silenciosa, a doença é descoberta em um estágio já avançado. Em uma estimativa conservadora, o hepatologista alerta: entre 5% e 10% das pessoas infectadas pela hepatite C morrerão por complicações no fígado.