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Mudança de comportamento é principal passo para largar o vício em cigarro

Tratamento é feito com critérios e ajuda o paciente a dividir a responsabilidade com uma equipe

Saúde|Eugenio Goussinsky, do R7

Nicotina é a responsável pela dependência dos fumantes
Nicotina é a responsável pela dependência dos fumantes

Para se iniciar uma caminhada, é preciso dar o primeiro passo. No caso dos fumantes, é preciso tomar a primeira atitude, que é a mudança de comportamento.

Tal postura é a mais importante em todo o processo, segundo a psicóloga Cristina Perez, consultora de Promoção da Saúde da Fundação do Câncer, no Rio de Janeiro.

— Há três aspectos no tratamento: o físico, que trata da dependência da nicotina; o psicológico e o comportamental, que é essencial, já que ele identifica os momentos que são associados ao cigarro e busca saídas.

Esta fase do tratamento, segundo a psicóloga, levanta questões para o fumante ter alternativas de apoio em relação aos seus hábitos. Por exemplo, se ele sempre fuma enquanto fala ao telefone, pode buscar a alternativa de fazer desenhos durante a conversa. Ou, após tomar café, logo ir escovar os dentes e realizar outra atividade.


Para o pneumologista Francisco Mazon, do Hospital das Clínicas, em São Paulo, mudar o comportamento tem essa relação com identificar os "gatilhos" que levam ao cigarro. Do ponto de vista do hábito, podem ser a associação a situações do dia-a-dia, como tomar café, cerveja ou se reunir com amigos. Do ponto de vista comportamental, de acordo com ele, costumam se apresentar em momentos relacionados às emoções do fumante, como em momentos de frustrações; para conter a angústia da espera ou até buscar vínculos de prazer em encontros sociais.

— Cada pessoa tem um padrão de vício. É importante identificar hábitos que levam ao ato de fumar e substituí-los por alternativas saudáveis. No nosso grupo de trabalho há a orientação para que a pessoa vá reduzindo o uso de cigarro gradativamente até uma quantidade mínima, em que seja possível parar de vez. Após um ano sem fumar, ela tem alta. Entre 10% e 30% tem recaídas neste período. Outros desistem e 70% conseguem vencer o vício.


Prazer traiçoeiro

A médica Jacqueline Issa, do Incor, também tem trabalhado para conhecer cada vez mais as armadilhas que fazem um indivíduo não conseguir evitar o tabaco.


— Ficar falando em força de vontade pode incomodar o fumante. Joga para ele toda a responsabilidade de encarar este objetivo, que para já é difícil. Ele precisa saber que tem alternativas e estará amparado por uma equipe em um tratamento para alcançar este objetivo. A isso eu chamo de boa vontade.

A dependência se inicia, como ela ressalta, por uma questão emocional: a busca do prazer.

— O ser humano gosta de sentir prazer e a nicotina tem essa propriedade (de dar prazer). Age também em momentos em que é preciso compensar alguma contrariedade ou dificuldade. O consumo durante as guerras e no pós-guerra se alastrou.

Mas, se é a mensageira do prazer, a nicotina, depois de dar o doce, se torna uma causadora do vício e da dependência. Traiçoeira, ela também tem estas propriedades. E frequentemente faz da pessoa uma vítima de seu poder sedutor, obrigando, muitas vezes, a um tratamento como única solução para dar fim a esta espécie de feitiço.

O ponto de partida mais comum é a reposição de nicotina. É necessário o acompanhamento de um médico porque, depois de o fumante ter se afastado do cigarro, o problema pode voltar se ele entrar em contato com a substância sem nenhum cuidado.

O processo, chamado de Terapia de Reposição de Nicotina, é feito por meio de gomas de mascar, os sprays e adesivos, de acordo com a necessidade. A meta é conseguir uma reposição de nicotina no organismo, mantendo sob controle os sintomas de abstinência. A redução é feita de maneira gradual, até a suspensão do contato com a substância.

—Em geral este tratamento é feito com pacientes com baixo nível de dependência do cigarro.

Além da terapia de reposição, pacientes que tenham uma dificuldade maior de largar o vício são orientados a utilizar medicamentos que facilitem o processo. Eles podem ser compostos por bupropiona (antidepressivo) e, em casos de moderados a graves, a vareniclina (que bloqueia o prazer vindo do tabaco) é indicada, segundo Jacqueline.

— A utilização de medicamentos para tratamento do tabagismo, sempre com orientação médica, tem um importante papel em muitas situações. Chega a aumentar entre três e quatro vezes a chance do paciente deixar de fumar, além de diminuir sintomas de abstinência. E ainda minimiza o ganho de peso.

Homens e mulheres

A dependência de nicotina também tem um fator genético que indica a tendência a ser fumante. Estes casos necessitam de um esforço maior. Há aqueles que conseguem parar sozinhos, mesmo estando expostos a recaídas, mas estes ainda são minoria. Em geral, 20% dos pacientes não conseguem deixar o tabaco.

Uma curiosidade citada por Mazon é que está havendo um emparelhamento entre fumantes homens e mulheres. Até alguns anos atrás, a quantidade de homens que fumavam era bem maior do que a de mulheres.

— Atualmente tal relação está mais equilibrada: cerca de 52% dos fumantes são homens e 48%, mulheres. Há mais homens parando de fumar e mais mulheres começando.

Para ilustrar a informação, redes sociais como o Facebook têm vários perfis de grupos que reúnem mulheres fumantes.

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Quando alguém consegue se afastar do cigarro, os benefícios chegam rapidamente. A circulação já melhora em algumas horas e a respiração, em alguns dias. A nicotina se dilui no organismo em cerca de 12 horas. Acontece que, depois de algum tempo, podem entrar algumas questões psicológicas, como ansiedade e depressão. Mas estas podem ser tratadas com uma terapia, importante para completar o processo de cura.

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