Pacientes com hemofilia reclamam de falhas no fornecimento de remédio
Reclamações vêm de sete Estados brasileiros
Saúde|Da Agência Brasil
Pacientes com hemofilia estão sem receber a quantidade adequada de medicamento para evitar os sangramentos característicos da doença. A denúncia foi feita nesta sexta-feira (17) pela FBH (Federação Brasileira de Hemofilia) — data em que é lembrado o Dia Mundial da Hemofilia. Segundo a entidade, as reclamações vêm de Minas Gerais, do Rio de Janeiro, Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul, Ceará e da Paraíba.
De acordo com a farmacêutica do Hemocentro do Espírito Santo Maria Orletti, enquanto a média mensal, em 2014, de recebimento do Fator 8, hemoderivado usado para ajudar o paciente na coagulação do sangue, era 750 mil unidades internacionais (UI), neste mês, foram recebidas apenas 260 mil UI.
O estudante mineiro Venicius de Barros, de 38 anos, mora em Barbacena e desde 2012 pegava mensalmente o medicamento suficiente para 30 dias, em Juiz de Fora, a 120 quilômetros de onde mora.
— No mês passado, fui pegar as 12 doses necessárias, mas só recebi seis. Quando acabaram, retornei lá para pedir as outras seis e só me deram quatro.
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Este mês, Venicius diz que recebeu novamente apenas a metade do medicamento necessário para o mês.
— Estou tomando metade da dose porque tenho medo de faltar, de ter um sangramento e precisar com urgência do fator.
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Ele conta que a redução das doses já causou um sangramento no ombro no mês passado.
Segundo a vice-presidenta da FBH, Mariana Freire, o Ministério da Saúde mudou, em 2012, a forma de tratamento para as pessoas com hemofilia. Até então, os pacientes só recebiam a medicação quando tinham sangramentos. Depois da mudança, eles passaram a receber os fatores de coagulação para evitar essas situações. Além das doses necessárias a cada paciente, os hemocentros precisam contar com um estoque estratégico, usado para situações de sangramentos, mas, com a redução dos repasses, esses estoques estão comprometidos.
Para ela, está havendo racionamento dos hemoderivados desde novembro do ano passado, além do fracionamento das doses, o que dificulta a vida dos pacientes que, muitas vezes, precisam viajar para buscar o tratamento em um dos 193 hemocentros que distribuem a medicação.
De acordo com a hematologista Margareth Ozelo, membro da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular, a prevenção é o tratamento mais adequado para quem tem hemofilia. Ela lembra que a profilaxia permite ao paciente ter qualidade de vida e evita as sequelas dos sangramentos.
— Os sangramentos nos hemofílicos ocorrem principalmente nos músculos, os chamados hematomas, e nas articulações, as juntas. Por causa disso, o paciente acaba por desenvolver deformidades, dificuldade para movimentação em braços e pernas, comprometimento articulares.
Ela acrescenta que no Hemocentro da Universidade de Campinas, onde é professora, não faltou medicamento, porém, os pacientes estão tendo de voltar com mais frequência para completar a dose.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que em nenhum momento houve desabastecimento de hemoderivados para os pacientes atendidos pela rede pública de saúde.
— A liberação fracionada dos frascos, em março deste ano, teve como objetivo assegurar o fornecimento do medicamento a todos os pacientes atendidos. É importante destacar que os estoques de Fator 8 Plasmático (9 milhões de UI) para os estados e municípios estão regularizados desde a semana passada. No total, o Ministério da Saúde adquiriu 180 milhões de unidades em dezembro de 2014, número suficiente para abastecer o país por um ano.















