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Quase 80% dos enfermeiros de SP já sofreram agressão no trabalho

Entre os médicos, 84% dizem ter sofrido violência verbal; profissional relata ter sofrido estupro

Saúde|Marcella Franco, do R7

Mais de 70% dos médicos acham que episódios violentos aumentaram nos consultórios nos últimos três anos
Mais de 70% dos médicos acham que episódios violentos aumentaram nos consultórios nos últimos três anos Mais de 70% dos médicos acham que episódios violentos aumentaram nos consultórios nos últimos três anos

Ameaças, xingamentos, violência física e assédio sexual. Essas são algumas das situações a que médicos e enfermeiros do Estado de São Paulo denunciam estarem expostos em suas rotinas de trabalho com pacientes em hospitais tanto do serviço público de saúde, quanto em entidades privadas. A acusação foi apresentada na tarde desta quarta-feira (9), em uma iniciativa conjunta do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) e do Coren-SP (Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo).

Com base no crescente número de queixas, ambos os conselhos encomendaram uma pesquisa ao Instituto Datafolha, que trouxe dados alarmantes. Dos 617 médicos ouvidos, 77% entendem que houve uma piora nos últimos três anos em relação aos episódios de violência contra os profissionais. Entre os 47% que relatam ter conhecimento de situações de agressão a colegas próximos, 84% falam em violência verbal, 80%, em violência psicológica, e 20%, em violência física.

De acordo com Bráulio Luna Filho, presidente do Cremesp, a situação é preocupante e deve nortear, inclusive, mudanças na formação de futuros médicos.

— Temos que treinar os médicos para essas situações de conflito. Estamos pensando em colocar isso no currículo escolar, porque precisamos ensinar os profissionais a ter uma tolerância maior. A violência é maior ainda com quem está no pronto-atendimento, como os clínicos e pediatras. Imagine, por exemplo, como é o cenário de se atender mães com filhos doentes. Quando abrimos o canal para denúncias, em um mês já tínhamos mais de cem.

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Só no Estado de São Paulo, são 460 mil profissionais de enfermagem atuantes, entre enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares. Destes, 86% são mulheres. Na pesquisa, que ouviu 4.293 profissionais, 74% disseram não se sentir seguros em seus locais de trabalho.

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Enquanto 81,54% afirmam ter sofrido violência psicológica, e 23,77% dizem ter sido vítimas de violência física, outros 10,68% revelam que já passaram por algum episódio de assédio sexual no exercício de sua profissão.

Fabíola Mattozinho, presidente do Coren-SP, vê a cultura da impunidade e do machismo como alguns dos principais motivos que levam aos altos números expostos na pesquisa, como, por exemplo, o caso de uma enfermeira que sofreu estupro de um paciente logo após seu turno, na região do Grande ABC, no início de 2015.

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— Temos problemas de falta de segurança, maus-tratos e racismo não só entre os pacientes, mas também de seus acompanhantes. Essas mulheres têm medo de perder o emprego, de não ter como sustentar a casa. Elas fazem jornada tripla, cuidado das famílias e muitas vezes trabalhando em dois empregos. E, muitas vezes, são desestimuladas pela própria chefia a denunciar e buscar ajuda. Estamos trabalhando para que essas profissionais saiam do silêncio.

Entre os depoimentos de enfermeiros, houve casos de profissionais que contaram ter ouvido de pacientes ameaças como, por exemplo, "sei que horas você sai", ou "vou esperar você lá fora". Ainda assim, apenas 12% das vítimas denunciam esses episódios, e 96% deles dizem não acreditar que suas revelações "vão para frente", com qualquer tipo de justiça.

A pesquisa ouviu também pacientes, e revelou que um terço deles relatam ter se sentido estressados em algum momento de sua visita a hospitais e consultórios — 24% na recepção, 9% no procedimento e 5% na espera pelo atendimento. 

A maior queixa, de acordo com Luna Filho, é sobre a pontualidade no atendimento: 58% reclamam da fila ou da espera.

— As pessoas ouvidas no geral não se autoincriminam, mas dizem que já ouviram falar ou presenciaram algum episódio de violência contra médicos e enfermeiros. Somente 2% deles assumem ter protagonizado alguma agressão. E, quando se explora estes 2%, eles se referem à conduta do médico. São pacientes que se queixam de que o profissional foi grosso, por exemplo. São queixas de caráter subjetivo.

Para Fabíola, a solução estaria em conscientização social e melhora na infraestrutura.

— Os profissionais de enfermagem estão tão voltados à assistência que acabam incorporando a ideia de que a agressão é normal, e tntam compreender esse tipo de atitude. 

Enquanto isso não acontece, Luna Filho prevê consequências imediatas e negativas à classe médica.

— A rede pública tem as piores condições, pois a maioria fica em locais periféricos, em que já há um histórico de dificuldade de acesso ao sistema de saúde. No sistema privado, os pacientes ficam ainda mais irritados, porque estão pagando para ser atendidos. O resultado disso já está aparecendo. Hoje, nas escolas, mais da metade dos alunos que ingressam são mulheres. E elas provavelmente vão acabar fugindo tipo de serviço.

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