Jogos violentos têm o mesmo efeito de uma dose de cocaína, diz especialista
Médico psiquiatra dá dicas para identificar o vício e evitar que os jovens ultrapassem esse limite
Tecnologia e Ciência|Marcella Franco, do R7
Perseguições de carro, tiros, mulheres lindas e caça a zumbis. Tanta variedade pode fazer a realidade virtual dos jogos de videogame online parecer realmente tentadora aos olhos dos jovens. Mas e quando o que era para ser diversão vira vício, e começa a prejudicar a vida social e até mesmo a saúde desses jogadores?
“Os efeitos cerebrais dos jogos, fisiologicamente falando, são semelhantes aos de uma droga ou de uma dose de bebida”, explica o doutor Hermano Tavares, médico psiquiatra e coordenador de um ambulatório especializado em patologias desse tipo no Hospital das Clínicas, em São Paulo, e que oferece 20 vagas por ano para tratamento do transtorno.
Psicólogo e gamer assíduo comentam diferença entre diversão e vício
Teste: Você é viciado em videogames?
Games não criam assassinos, afirma criador da Atari
Tavares acrescenta que o vício em jogos online atinge principalmente adolescentes e adultos jovens, com idades entre 20 e 30 anos. Além disso, trata-se de um público em sua grande maioria masculino.
— Ainda temos uma predominância de homens, que se interessam mais por jogos violentos. As mulheres, quando viciadas, gostam mais de jogos de fantasia. Acredito, aliás, que daqui a pouco tempo essa divisão de públicos tenda a se equilibrar, e assim teremos o mesmo número de mulheres e homens viciados.
Para o psiquiatra, um dos principais fatores que impulsionaram o número de pessoas dependentes desse tipo de diversão é o fato de que os jogos se tornaram, nos últimos anos, mais acessíveis e mais baratos.
— Nos anos 80, custava muito caro ter um videogame. O realismo dos jogos também aumentou, eles ficaram mais envolventes, divertidos e perigosos. É uma droga muito potente. Fora isso, a internet teve um papel importante nesse movimento ao propiciar a formação de comunidades geográficas virtuais. Hoje é possível jogar em parceria com alguém do outro lado do mundo, morador do Japão.
Para Odair Braz Junior, jornalista que cobre o mercado de videogames, o assunto é sempre polêmico.
— É bem complicado associar jogo violento a vício. Tudo pode viciar: de Candy Crush a games de futebol, que não são nada violentos. Como também pode-se viciar em refrigerantes, poker e boliche. O importante é sempre saber dosar o tempo que se gasta jogando e observar as faixas etárias de cada game.
Como identificar o vício
Para ajudar a identificar se você ou algum parente sofre do vício em jogos online, Tavares dá dicas de pontos a serem observados (ver lista). Como, por exemplo, reparar se a pessoa em questão joga mais tempo do que se propõe.
Outro sinal de alerta é o grau de satisfação que essa atividade proporciona — se antes duas horas eram suficientes, hoje em dia nem jogar por dez horas seguidas consegue proporcionar o mesmo grau de prazer.
— A pessoa viciada que fica alguns dias sem jogar já fica inquieta, irritada, e com pouca tolerância à abstinência.
Tavares explica, no entanto, que há formas de se prevenir o vício, e que elas passam basicamente pelo controle dos pais na adolescência.
— Pais e mães não deveriam, sob qualquer hipótese, deixar que seus filhos menores de 18 anos jogassem jogos violentos, especialmente os de violência gratuita, como GTA e similares.
Segundo ele, esses jogos em especial causam uma descarga aguda de dopamina no cérebro que tem o mesmo efeito de uma carreira de cocaína.
— Você deixaria seu filho beber antes dos 18 anos? Pois então também não deveria deixá-lo exposto a esse tipo de divertimento.