Análise: Presidente da Vale ofende memória dos mortos em tragédia
Ele disse que a "Vale é uma joia que não pode ser condenada, por maior que tenha sido sua tragédia". Dá a entender que a empresa é maior que 166 vidas
O engenheiro Fabio Schvartsman, CEO da Vale, é um homem rico. Aliás, podre de rico. Desfruta, estima o mercado, de uma remuneração anual que passa perto dos R$ 20 milhões. É uma espécie de Tite ou Felipão dos CEOs, mas seus títulos no momento não carregam brilho, apesar de ser sempre enaltecido pela sua larga experiência. Sua indicação teria tido a influência do atual deputado federal mineiro Aécio Neves.
Com tanto dinheiro na conta, ele desconhece a vida dura do povo brasileiro. E precisa acreditar piamente no que diz, ainda que hoje talvez seja o único que compartilhe das próprias convicções. Quando chegou à empresa, em 2017, para recuperar a imagem do desastre ambiental de Mariana e seus 19 mortos adotou um mantra em aparições públicas e encontros com investidores: “Mariana nunca mais”. A tragédia, sabemos, se repetiu ainda mais eloquente, com as imagens de corpos sepultados pela lama gritando diante de nossos olhos. Como ele mesmo reconheceu, foi uma “tragédia humana terrível”. Eis os números: 166 mortos e 155 desaparecidos.
Schvartsman é um senhor sexagenário elegante, de rosto simétrico, emoldurado por acessórios adequados e ternos bem cortados. Seria um orgulho dos altos executivos brasileiros que circulam paparicados e cheios de razão pelos salões de Davos, na Suíça, onde ele se encontrava quando se deu o rompimento da barragem inativa da Mina do Córrego de Feijão, em Brumadinho. Desde então, Schvartsman tem se dedicado a dar explicações, sem que sua arrogância seja arranhada. Seu discurso de ocasião, Mariana nunca mais, virou pó. Mas, na Comissão Externa de Brumadinho, na Câmara dos Deputados, nesta quinta-feira (14), ele disse que a empresa “é uma joia brasileira, que não pode ser condenada, por maior que tenha sido sua tragédia”. Pelas suas palavras, dá a entender que a Vale é maior, imensamente maior, que 166 vidas e outras tantas que ainda irão engrossar a mórbida estatística de mortos.
Na mesma reunião, ele foi fotografado sentado quando todos se levantaram num minuto de silêncio para as vítimas. Não é preciso dizer mais nada. Na sua insensibilidade, Schvartsman é uma vergonha. Uma vergonha ao país e uma vergonha ao capitalismo, que raras vezes, soube ser tão selvagem.
Schvartsman é uma espécie de Maria Antonieta dos trópicos. Tomara que encontre em breve uma guilhotina.