As queimadas em larga escala na Amazônia e no Pantanal - que atingiram níveis recordes em 2020 - tendem a agravar o quadro da epidemia de covid-19 nessas regiões, onde vivem populações extremamente vulneráveis e com sistema de saúde precário. O alerta foi feito em nota técnica divulgada nesta quarta-feira, 11, por pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz).
De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), somente em agosto o número de focos ativos de queimadas na Amazônia Legal chegou a 39.177. O número é cerca de 160% maior do que o total de ocorrência no mesmo período do ano passado. No Pantanal, o número foi de 5.935, 300% acima do mesmo mês em 2019.
A nota aponta risco de 30% no aumento da internação por doenças respiratórias de crianças moradoras de áreas próximas a queimadas. A exposição à fumaça pode gerar problemas respiratórios, processos inflamatórios e agravar os casos de covid-19.
"Além disso", diz a nota, "mesmo que não haja infecção pelo novo coronavírus, as pessoas afetadas pela fumaça podem enfrentar problemas de atendimento e diagnóstico na rede de saúde que já se encontra comprometida com a atenção aos casos graves de covid".
O estudo mostra que três regiões são as mais vulneráveis ao problema: o Pantanal, o Arco do Desmatamento no sudeste do Pará e no norte do Mato Grosso do Sul, e a porção ocidental da Amazônia Legal. Mesmo antes da epidemia de covid, estudos do Icict e de outras instituições já alertavam para o aumento da incidência de doenças respiratórias nas épocas de queimadas nessas áreas.
"Além de contar com uma rede insuficiente de atendimento básico e de alta complexidade, as pessoas se deparam com um sistema de saúde já saturado pelos crescentes casos de covid-19", resumiu Christovam Barcellos, vice-diretor do Icict. "Ou seja, o atendimento não dá conta; já não dava conta antes e agora está pior."