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Baianos inventam forma especial de se comunicar

Escritor reúne mais de 1.600 expressões e cria livro sobre baianês

Bahia|Shizue Miyazono, do R7 BA

“Ó paí, ó” (“Olhe isso”), "Vamo bater um baba?" (“Vamos jogar uma pelada?”), "Aí cê me quebra, né, pai?" (“Assim você me deixa sem dinheiro, né, amigo”), "Vô quexá aquela pirigueti!" (vou cantar aquela pirigueti), "Que mangue é esse, mermão?" (“Que bagunça é essa, amigo?”). “Fulana é mais de fritar bolinho!” (“Fulana só fala, não faz”).

Calma, não se ‘avexe’ se não entendeu nada. Isso só prova que você não é baiano ou nunca passou muito tempo na Bahia. O baiano tem uma maneira toda especial de se comunicar, é o tão falado "baianês", que devido a tantas expressões ganhou até dicionário.

O autor do livro, o carioca Nivaldo Lariú, conta que o seu olhar "estrangeiro" foi fundamental para perceber todo o encanto da linguagem popular baiana.

- Sou de Itaperuna e ainda adolescente li Capitães de Areia, de Jorge Amado, e fiquei fascinado com o que ele falava sobre a vida na Bahia. Depois de me formar em Engenharia, vim trabalhar na Telebahia. Fui inicialmente fazer um curso com um grupo de engenheiros baianos e aí comecei a ter contato com uma "língua diferente", carregada de humor e criatividade.


O livro aconteceu quando o escritor começou a anotar as várias expressões que ouvia e, em cinco anos, já tinha listado quase 800 verbetes.

“Oxente”


O jeito de falar dos baianos causou estranheza à jornalista catarinense Alice Coelho, 35 anos, que há 13 mora em Salvador.

- No meu caso, que venho do sul, percebi logo o falar meio cantado, o jeito irreverente de ser, a informalidade é uma forma própria do baiano, que é despojada, engraçada e mais relaxada do que o pessoal do sul.


A jornalista revela que, depois de tantos anos, já incorporou algumas palavras em seu vocabulário.

- O “oxente” já faz parte do meu dia a dia. Sempre que viajo ou falo com meus parentes eles dizem que já me “abaianei”, mas os baianos sempre percebem o sotaque sulista. Para mim, já misturou tudo.

A estudante de Sergipe, Jéssica Costa Santos, 20, vê autenticidade e criatividade no jeito de falar dos baianos. Ela diz achar muito bacana, pois demonstra ser um povo engraçado e trabalhador.

Para a sergipana, o 'baianês' acaba se destacando porque muitas palavras são abreviações engraçadas e muito criativas que refletem também o valor cultural de um povo.

“Porra”

Hoje, após 21 anos de lançamento, o Dicionário de Baianês está na quinta edição, com cerca de 1.600 expressões. Dentre tantos verbetes, é impossível escolher o que mais caracteriza a Bahia, mas, segundo Lariú, existe uma palavra, que apesar de não ser específica na "Terrinha", se destaca pela imensa coleção de variações usadas pelo baiano.

- “Porra” na Bahia, além de não ser palavrão, nem possuir conotação pejorativa, pode ser substantivo, adjetivo, advérbio, interjeição, vírgula, a porra toda... No dicionário existem duas páginas só para listar as variações da expressão.

Para o engenheiro, a forma de falar não influencia na visão que as pessoas têm dos baianos.

“Digaí, freguês”

Ele explica que há uma discussão enorme sobre quem fala cantando no Brasil, por exemplo. Ou quem fala mais devagar.

- Nada se compara a você chegar em frente ao tabuleiro de uma baiana de acarajé e ouvi-la perguntar doce e melosamente: "Digaí, freguês, vai querer o quê?"

Segundo ele, a questão do sotaque, como em qualquer lugar do mundo, é reflexo de um processo histórico ligado à forma de colonização que a região vivenciou. A população baiana é fruto da mistura do europeu colonizador, de diversas nações indígenas que aqui habitavam e das várias etnias africanas que aqui chegaram depois do tráfico de escravos.

- O caldo cultural dessa mistura resultou num povo com algumas características comuns - inclusive a linguagem e o sotaque - diferentes das de outras partes do país. Costumo dizer que o baiano é sábio, pois encontrou a fórmula ideal de se trabalhar e se divertir. Isso deve provocar alguma inveja... Mas é claro que existem os olhares preconceituosos e babacas que querem generalizar o comportamento de uma população pelo seu jeito de falar. Isso é uma grande bobagem, pois somos todos brasileiros.

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