Ativista relata ameaça de morte após denunciar João de Deus
Sabrina Bittencourt enviou ao R7 áudios que recebeu de Rodrigo Mello Oliveira, cunhado de Chico Lobo, administrador da Casa Dom Loyola. Ele nega
Brasil|Juliana Moraes e Thais Skodowski, do R7
A ativista Sabrina Bittencourt, uma das principais responsáveis por ajudar mulheres vítimas de João de Deus e divulgar as denúncias de abuso, disse que está recebendo ameaças de Rodrigo Mello Oliveira, cunhado de Chico Lobo, administrador da Casa Dom Loyola, local em que o médium realizava os atendimentos.
Ao R7, Sabrina encaminhou o áudio que Oliveira enviou para ela por meio das redes sociais. “Sabrina, deixa eu te falar uma coisa: tudo o que você tiver que falar do médium João de Deus você tem que falar para ele e provar para ele na Justiça”, disse. “Agora, das famílias e das pessoas que moram na cidade, aqui ninguém é bandido, não. Você tem que ter respeito pelas pessoas”, continuou.
No áudio, Oliveira ainda acusa Sabrina de ofender a população que mora em Abadiânia. “Você é uma brasileira que não mora no Brasil. Você não vive aqui para vir e falar. Ofender as pessoas daqui é muito fácil, né? Você ‘tá’ achando que está protegida, né? Só que toda a sua família e tudo o que você tiver no Brasil você vai perder”, afirmou.
Oliveira, em entrevista ao R7, afirmou que "jamais a intenção" foi ameaçar. "Ela está difamando a minha família. A minha família vai entrar na Justiça contra ela pedindo danos morais, porque ela está afirmando que meu cunhado é estuprador. Então, ela está afirmando isso sem provas, nem conhece a gente. A gente é trabalhador, é pessoa de [boa] índole. Não é ameaça alguma", complementou.
Ele ainda disse que o "você vai perder tudo" enviado no áudio está relacionado com a indenização que vai pedir.
Áudios
Na mesma conversa, em resposta ao primeiro aúdio de Oliveira, Sabrina declarou que está colaborando com as pessoas que a procuram para pedir ajuda. “Isso é uma ameaça ou uma promessa? Eu não tenho nada no Brasil e ninguém da minha família. Somente estou dando voz às milhares de pessoas que foram mortas, enganadas, estupradas por João Teixeira e sua quadrilha. Todos vocês serão julgados conforme a lei”, escreveu ela.
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“Eu só colaboro com pessoas sérias e que não deixarão mais 40 anos de impunidade! Não haverá uma nova geração de tráfico de crianças em Goiás nem que seja a última coisa que faça na vida”, declarou Sabrina.
A ativista também diz ter provas contra João de Deus. “Somos milhares de pessoas de olho no que vocês estão fazendo agora e sou imparável! Mesmo morta, mesmo que vocês mandem alguém me matar, tudo o que tenho de provas está nas mãos de gente honesta da polícia internacional, Polícia Federal e Ministério Público! Acabou pro lado de vocês. Aceitem e se entreguem que é melhor para todos.”
Oliveira mandou outro áudio para Sabrina após a resposta. “Quem não deve, não teme. Eu, na verdade, não temo nada porque estou no meu país. Não sou brasileiro para mudar pra outro país e pra falar da vida das pessoas de outro país e das pessoas que nem conhecem. Estou aqui e minha cara está aqui. Tá ok? Não preciso fugir pra outro país, não”, falou.
Ao R7, ele disse que entrou em contato com a ativista para ela "ponderar as palavras" e que não aguenta ver "a angústia" da família. "A cidade toda foi prejudicada, todo mundo perdeu o ganha-pão, e ainda, ouvir certo tipo de comentário sobre a família da gente, a gente sabe a índole da gente, todo mundo é trabalhador", afirmou.
Entenda o caso
João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, é acusado por diversas mulheres de abuso sexual durante os atendimentos espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, interior de Goiás.
O Ministério Público denunciou o médium em 28 de dezembro por quatro crimes: dois por violação sexual mediante fraude e dois por estupro de vulnerável.
Durante as buscas nas casas de João de Deus, foram encontradas armas, esmeraldas e malas de dinheiros. A Justiça de Goiás concedeu habeas corpus pelo porte ilegal de arma. O médium, no entanto, continua preso por ser investigado pelos crimes de estupro, estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude. Para esses crimes, o habeas corpus foi negado.
O MP recebeu mais de 600 e-mails com denúncias contra o médium. As mulheres que denunciaram João de Deus têm idade entre 9 e 67 anos.
Até o momento, a Polícia Civil colheu depoimentos de 16 mulheres. O Ministério Público, porém, já ouviu mais de 100. Além disso, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 50 milhões das contas do médium.
Na última quarta-feira (2), João de Deus passou mal e foi levado às pressas para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). Na quinta-feira (3), teve alta e voltou para o Núcleo de Custódia, no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO), onde está preso.
O advogado criminalista Alberto Toron, que representa João de Deus, nega as acusações de abuso sexual contra o médium.
Nesta segunda-feira (7), as denúncias contra o médium voltaram a ser analisadas pelo TJ-GO (Tribunal de Justiça de Goiás).