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Bolsonaro se mostrou na ONU após timidez em Davos, diz especialista

Análise é que presidente fez defesa prevista da soberania da Amazônia e levou também a Nova York debates de questões ideológicas

Brasil|Márcio Pinho, do R7

O presidente Jair Bolsonaro, em discurso na ONU
O presidente Jair Bolsonaro, em discurso na ONU

O discurso do presidente Jair Bolsonaro nesta terça-feira (24) na ONU foi uma espécie de cartão de visitas dele para a comunidade internacional e uma oportunidade para ele se mostrar e levar para fora as ideias que defende no Brasil, segundo especialistas ouvidos pelo R7.

Eles avaliam que a fala de Bolsonaro na Assembleia-Geral da ONU teve como um dos pilares a defesa da soberania brasileira e da Amazônia, o que já era previsto em razão da repercussão internacional sobre as queimadas. E teve também um componente ideológico, passando por temas como religiosidade, família, período militar e críticas à esquerda, ao socialismo e à imprensa.

Rodrigo Prando, cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirma que a participação do presidente na ONU foi melhor que a ocorrida em Davos, em fevereiro, quando falou por apenas seis minutos, menos que o tempo disponível. Além disso, Prando argumenta que Bolsonaro não demonstrou ter passado recentemente por uma cirurgia. “Em Davos ele estava debutando. Hoje se mostrou muito mais em sua inteireza, para o bem e para o mal”, diz.

Segundo o cientista, o presidente acertou ao defender a soberania da Amazônia, mas não confirmou a expectativa de um discurso de perfil mais conciliador após as recentes polêmicas com o presidente francês, Emannuel Macron. Bolsonaro citou países como Cuba e Venezuela, além da própria França e da Alemanha em uma comparação sobre área destinada à agricultura em relação ao Brasil.


“Ele acabou sendo o Bolsonaro de sempre, que é um estilo de governo mais confrontador. Não fingiu que seria uma pessoa diferente do que é internamente. Para o público que é seu apoiador convicto, o discurso estava ótimo. Para os críticos, a avaliação não foi boa”, diz.

Prando opina que o discurso teve uma preponderância ideológica, mas que poderia ter sido mais diplomático para suavizar as críticas ao Brasil no cenário internacional e construir mais pontes. E poderia ter dado mais atenção às questões econômicas, como a reforma da previdência, citada muito brevemente.


Leia mais: Leia na íntegra o discurso de Jair Bolsonaro na Assembleia da ONU

Para Rodrigo Fernando Gallo, especialista em política e relações internacionais e professor do Instituto Mauá de Tecnologia, a fala de Bolsonaro mostrou como ele e o governo de modo geral pensam algumas questões que constroem a identidade do seu mandato. “Questão relacionada a gênero, modo como se posiciona em relação ao regime militar, é de fato um momento em que ele fala para sinalizar para uma população interna que ele tem coerência do que ele fala dentro e fora do Brasil. Mas isso acaba mandando um recado para o sistema internacional do que é esse Brasil do Bolsonaro”, diz.


Para o especialista, o presidente ainda estava mapeando o cenário em Davos porque tinha acabado de assumir. Agora, com nove meses de gestão, já criou condições para articular um discurso na política externa.

Gallo opina que o presidente cumpriu a expectativa de abordar a questão da soberania da região amazônica em um discurso "moderado", ao não entrar diretamente na polêmica com a França e trazer novos desgastes ao país. Na sua fala, o presidente disse de forma genérica que “um ou outro país” mentiu e agiu com espírito colonialista.

“Pode não ter sido o melhor discurso que o Brasil já teve. Mas a gente tem vivido momentos de crise na política externa, e já passamos da época dos grandes discursos. Em linhas gerais, dá para dizer que atendeu a expectativa e que o saldo foi até positivo para ele”, avalia Gallo.

Para o especialista, isso evita um novo embate com Macron ou outro chefe de estado que ainda deve discursar e evita que eventuais críticas fiquem sem resposta.

Gallo afirma que parte do discurso foi voltada também para o que o presidente considera avanços de seis primeiros meses de governo, tanto em relação à economia, com uma retomada de confiança, como a temas internos, como a redução dos homicídios. Nesse sentido, citou o ministro da Justiça, Sergio Moro, no que seria uma espécie de sinalização política doméstica em um momento de várias polêmicas envolvendo o nome do ex-juiz, como as disputas sobre a votação do pacote anticrime.

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