Brasil é líder mundial em assassinatos de ativistas ambientais
Segundo ONG Global Witness, ativistas que atuam em países com grandes áreas de reservas naturais são os que mais sofrem com a violência
Brasil|, com Diego Junqueira, do R7

Pelo menos 207 ativistas ambientais foram mortos em 2017 em todo o mundo, segundo levantamento divulgado nesta terça-feira (24) pela organização internacional Global Witness. Foi o ano com mais mortes desde que o estudo começou a ser feito, em 2002. O Brasil lidera o ranking, segundo a ONG, com 57 mortes — ante 49 no ano anterior.
Atividades ligadas ao agronegócio são as maiores responsáveis pelos assassinatos, diz a organização, superando pela primeira vez a área da mineração.
"À medida que o agronegócio cresce, as florestas tropicais são derrubadas e a mineração continua a gerar enormes receitas para as
grandes corporações globais, ocorrem ataques cada vez mais brutais aos defensores da terra e do meio ambiente", escreve a Global Witness em seu relatório.
A organização mapeia desde 2002 as mortes de defensores da terra e do ambiente no mundo e observa aumento desses crimes em países em desenvolvimento que ainda mantêm porções significativas de recursos naturais. Os casos compilados são de líderes indígenas, ativistas comunitários e ambientalistas.
No Brasil, segundo o relatório, chama atenção o fato de que cerca de metade das mortes registradas foi em três chacinas, totalizando 25 assassinatos. A primeira é de 19 de abril, quando nove sem-terra foram mortos em Colniza (MT).
Em 24 de maio, dez pessoas foram mortas por policiais militares e civis em ação contra ocupação em uma fazenda em Pau D'Arco (PA). A terceira chacina citada foi em 7 de agosto, quando seis pessoas foram achadas mortas na comunidade quilombola Iuna, em Lençóis (BA).
Segundo a Global Witness, o País tem sido o "mais perigoso para defensores da terra ou do meio ambiente na última década, com média de 42 mortes por ano desde 2012". Ainda de acordo com a ONG, o governo federal tem cortado verba de órgãos de proteção indígena e de regularização de terras e flexibilizado a conservação ambiental.
A Global Witness também diz que o Brasil se destaca pela falta de punição a agressores e assassinos.
"Num dos maiores ataques de 2017, indígenas Gamela foram agredidos no Brasil. Machetes e rifles foram usados na tentativa de tomar o controle de suas terras, deixando 22 gravemente feridos, alguns com as mãos decepadas. Meses depois, ninguém foi indiciado pelo incidente, refletindo uma cultura mais ampla de impunidade e falta de ação no apoio aos defendores por parte do governo brasileiro".
A organização também critica a gestão do presidente Michel Temer e o Congresso Nacional de "enfraquecer" as leis.
"Ao invés de tomar medidas para acabar com os ataques contra os defensores, o presidente Michel Temer e os legisladores brasileiros estão ativamente enfraquecendo as leis e as instituições destinadas a proteger os direitos à terra e os povos indígenas. Ao mesmo tempo, eles decidiram tornar mais fácil para as grandes empresas — aparentemente imperturbáveis pelo devastador custo humano e ambiental de suas atividades — intensificarem a exploração de ecossistemas frágeis", diz o relatório.
Governo
Em nota distribuída à imprensa na tarde desta terça, o Palácio do Planalto chamou do documento de "fake news".
"O relatório da ONG Global Witness apresenta dados equivocados, inflados, frágeis e metodologia duvidosa. Morte atribuída por investigação policial ao tráfico de drogas, por exemplo, é transformada em resultado de conflito agrário".
O Planalto também defende o agronegócio por ser "responsável por grande parte da geração de emprego e renda no país. Eventuais crimes são localizados e não se pode generalizar acusações a todos agricultores brasileiros, sem fundamento. Ao contrário do que afirma o equivocado levantamento, o presidente Michel Temer aumentou área de preservação, criou a maior reserva marinha do mundo e trabalha em respeito ao meio ambiente".