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Caso do morador de rua e mulher com graves problemas mostra como as redes são desumanas

As pessoas viraram hienas morais, perderam o pudor, a compaixão, a autocrítica, a empatia e o mínimo de discrição

Brasil|Marco Antonio Araujo, do R7

A internet criou uma subcelebridade e foi cruel e fútil ao tratar de um caso delicado
A internet criou uma subcelebridade e foi cruel e fútil ao tratar de um caso delicado

O jornalismo já teve manuais de redação e códigos de ética. Todos, sem exceção, eram claros em um sentido: a vida sexual de toda e qualquer pessoa não é notícia. É questão de foro íntimo, inviolável. Poderia ser a amante de um presidente da República. Oferecia algum risco às instituições? Se não, joga a nota na lata de lixo. Outros tempos.

Hoje, um (ex-)morador de rua se torna subcelebridade, dá entrevistas, é convidado para camarotes, por ter feito sexo, em um carro, na rua, câmeras filmando, com uma mulher casada – ao que tudo indica, em estado de extrema vulnerabilidade emocional e mental.

O que fazem as redes sociais, nova fonte de informação para uma humanidade cada dia mais desumana? Transformam um incidente que não deveria ter maiores consequências (além das previstas em lei e que não dizem respeito a ninguém além dos envolvidos) em um fenômeno midiático tão cruel quanto desnecessário.

A mulher, após semanas internada para tratamento psicológico e psiquiátrico, finalmente veio a público desabafar. Nem chegou a dar sua versão da história. Apenas concedeu à horda ávida por detalhes sórdidos um desabafo de uma pessoa desolada, destruída, exposta, ridicularizada, emocionalmente destroçada. Um massacre.

A que serve esse tipo de entretenimento pervertido e doentio? As pessoas perderam o discernimento, o pudor, a compaixão, a autocrítica, a empatia e o mínimo de pudor e discrição? Viramos hienas morais? Juízes implacáveis de quaisquer deslizes ou fraquezas alheios? O que ganhamos com tanta maldade? Por que não deixamos todos nós vivermos nossas vidas e sofrimentos em paz? Vamos nos ocupar com o que realmente importa.

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