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Centenas de MPs 'só tratam de ilicitudes', diz ex-ministro Palocci

Ex-ministro dos governos Lula e Dilma prestou depoimento nesta quinta-feira (6) em processo n âmbito da operação Zelotes

Brasil|Diego Junqueira, do R7

Palocci prestou depoimento por vídeoconferência
Palocci prestou depoimento por vídeoconferência

O ex-ministro Antonio Palocci (governos Lula e Dilma) afirmou nesta quinta-feira (6) que há centenas de MPs (Medidas Provisórias) que são aprovadas para atender "ilicitudes" e que envolvem o pagamento de propina a membros do Congresso Nacional e do Executivo federal.

As declarações foram prestadas em depoimento hoje ao juiz substituto Ricardo Soares Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília, na ação penal que trata da tramitação da MP 471/2009. na qual foram renovados benefícios fiscais a montadoras de veículos nas regiões Norte, Nordeste e centro-Oeste.

— Existem lobbies que só tratam de ilicitudes, e trocam medidas provisórias por propinas, e existem lobbies que são absolutamente legítimos, segundo atender interesses de empresas, de servidores, de categoria profissional e de regiões do país, e isso ocorre tanto no Legislativo quanto no Executivo. Existem centenas de situações em que essas MPs são editadas de maneira republicana, vamos dizer assim, e existem sim centenas de situações em que essas MPs são feitas de forma atribulada, de forma açodada, de forma não técnica e pra responder as necessidades ou a envolvimentos de propinas pra membros de governo ou membros do parlamento. Normalmente é para ambos, às vezes é só pra governo e às vezes só parlamento, mas as propinas normalmente existem quando os lobbies menos comprometidos com as teses republicanas eles conseguem acesso ao Planalto ou acesso à Câmara dos deputados ou ao Senado. Isso aconteceu muitas vezes.

Palocci afirmou que a aprovação da MP não envolveu ilegalidades, tanto que ela foi aprovada em votação simbólica em 2010, de forma unânime pelos partidos do Congresso. No entanto, segundo o ex-ministro, uma emenda parlamentar incorporada à MP 627/2013 foi fruto de negociação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da silva com o lobista Mauro Marcondes, ocorrida em 2014. A defesa de Lula nega as acusações e diz que as declarações são "mentirosas" (leia o posicionamento completo ao final).


A sessão foi interrompida pelo advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, que reiterou várias vezes que o depoimento de Palocci sobre a MP 627/2013 está pendente de decisão judicial e não fazia parte da ação de hoje. O juiz Leite, contudo, afirmou ver correlação de fatos e permitiu as declarações.

Segundo Palocci, o filho de Lula o teria procurado em sua consultoria, em São Paulo, entre o final de 2013 e o início de 2014, para que o ajudasse a obter de empresas ao menos R$ 2 milhões para viabilizar um de seus empreendimentos. Mas o próprio Lula, segundo o ex-ministro, teria lhe informado posteriormente já ter obtido o dinheiro com o lobista Mauro Marcondes.


Palocci declarou que o filho de Lula desconhecia as tratativas da renovação da MP. Ele também não confirmou se houve de fato o pagamento ao filho de Lula, declarando apenas o que disse ter ouvido do ex-presidente Lula.

— O Luís Cláudio não tratou [da renovaçao da MP]. O Luís Cláudio me procurou e disse que precisava para o evento que ele lidera, para fechar o evento em 2014, de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões, e ele foi pedir para que eu o ajudasse a conseguir o recursos de minhas empresas conhecidas. Ele sabia que eu prestava consultoria para muitas empresas e conhecia muitas empresas, [então] ele foi pedir apoio. Eu não fiz nada porque não pude, e fui falar com ex-presidente Lula para ver se ele autorizava, porque sempre que alguém pedia em nome do ex-presidente Lula, eu consultava o presidente Lula. Aí que o ex-presidente me falou que: 'não precisa atender o Luís Cláudio porque eu já resolvi esse problema com o Mauro marcondes'. Aí perguntei [a Lula] por que ele [Luís Cláudio] me procurou. O presidente disse: 'porque ele não sabe que eu fiz isso, ele não sabe, por isso ele te procurou, mas pode esquecer porque eu já resolvi o problema dele com o Mauro Marcondes'.


Defesa

O advogado Zanin Martins, que defende Lula, disse que o depoimento do ex-ministro Antonio Palocci é "mentiroso".

"Por isso mais uma vez o ex-ministro recorre a narrativas que envolvem conversas isoladas com Lula, expediente que já havia recorrido em depoimento prestado perante a Justiça Federal de Curitiba", escreveu o advogado do petista. Leia o posicionamento:

"O ex-ministro Palocci aproveitou de seu depoimento na ação penal 003754446.2017.401.4.01.3400 para, de forma inusual, tomar a iniciativa de fazer afirmações sem qualquer relação o processo, com o nítido objetivo de atacar a honra e a reputação do ex-presidente Lula e de seu filho Luis Claudio. Ao ser confrontado pela defesa de Lula, Palocci teve que reconhecer que (1) recebeu benefícios de redução de pena e também patrimoniais com sua delação; (2) que um dos temas tratados em sua delação diz respeito a medidas provisórias; e que (3) foi advertido pela autoridade policial que firmou o acordo que se a narrativa do ex-ministro não for confirmada ele poderá perder os benefícios recebidos. Palocci, portanto, não é uma testemunha – que fala com isenção – mas alguém interessado em manter as relevantes vantagens que obteve em sua delação. O ex-ministro ainda reconheceu que as supostas conversas que afirmou ter mantido com Lula e Luis Cláudio não tiveram a presença de qualquer outra pessoa, não havendo, portanto, qualquer testemunha sobre a efetiva ocorrência dos encontros e do teor do assunto discutido. Palocci sabe que suas afirmações são mentirosas e que por isso não poderão ser confirmadas por qualquer testemunha. Por isso mais uma vez o ex-ministro recorre a narrativas que envolvem conversas isoladas com Lula, expediente que já havia recorrido em depoimento prestado perante a Justiça Federal de Curitiba. Cristiano Zanin Martins".

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