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COLUNA-Posse é chance para Dilma retomar iniciativa

Brasil|Do R7

(O autor é editor de Front Page do Serviço Brasileiro da Reuters. As opiniões expressas são do autor do texto.)

Por Alexandre Caverni

SÃO PAULO (Reuters) - O PT quer reunir muita gente em Brasília na quinta-feira para fazer uma grande festa na posse da presidente Dilma Rousseff para mais quatro anos no cargo mais alto do país. Com notícias ruins que não param, um fim de mandato melancólico e perspectivas nada animadoras para 2015, o governo está precisando mesmo de algum alento.

O quadro hoje não lembra em nada a situação de quatro anos atrás, quando a eleição de Dilma para ser a primeira mulher presidente da República "desempatou", por 3 X 2, a disputa PT X PSDB pelo comando do país.


A vitória em segundo turno contra José Serra não tinha tão larga vantagem como nas eleições de Luiz Inácio Lula da Silva, mas a diferença ainda foi bastante folgada: 56,05 a 43,95 por cento dos votos válidos.

A economia cresceu em 2010 impressionantes 7,5 por cento --ainda que se lembre da fraca base de 2009, quando o país foi atingido em cheio pela crise financeira internacional--, o emprego formal crescia com força e o ânimo era geral. As previsões eram todas, ou quase todas, otimistas.


Mas o crescimento evaporou --segundo o Banco Central, a economia deve se expandir só 0,2 por cento neste ano--, o emprego perde fôlego e há um desânimo meio generalizado, mais especialmente entre empresários e nos mercados financeiros.

No lado político, a eleição mais apertada desde a redemocratização do país --51,64 a 48,36 por cento dos votos válidos-- parece ter sugado boa parte da força do governo petista.


Projetos que o Executivo precisou ver aprovados pelo Congresso depois das eleições exigiram um esforço muito maior do governo do que seria de se esperar de uma administração que tivesse sido revitalizada pela vitória nas urnas.

Mesmo indicando alguns nomes claramente de seu agrado, como o futuro titular da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, Dilma parece cada vez mais refém dos partidos que formam sua base parlamentar na definição dos ministros que os representam no primeiro escalão do Executivo.

Antes mesmo de ter completado seu ministério, Dilma vê críticas duríssimas por escolhas de novos nomes --como o futuro ministro do Esporte, George Hilton, do PRB-- e por transferências --como a de Aldo Rebelo (PCdoB) para Ciência e Tecnologia.

E ainda faltam 14 ministérios ou secretarias com status ministerial para terem seus titulares definidos, seja com novos nomes ou manutenção dos atuais titulares. A dois dias da posse.

Sem falar no cavalo de pau que a presidente deu em relação a sua equipe econômica.

Depois de uma série de políticas que aumentaram os gastos públicos além de níveis saudáveis, Dilma parece ter se rendido à necessidade de um enxugamento de despesas e reequilíbrio das contas. E colocou no comando da economia um ministro, Joaquim Levy, que não agrada o PT, devido a sua visão mais ortodoxa da economia.

É bem verdade que Lula em seu primeiro mandato adotou um receituário econômico ortodoxo, muito diferente do que os petistas em geral e muitos de seus eleitores, e críticos, esperavam.

Não custa lembrar também que Lula não tinha completado as mudanças em seu ministério quando iniciou o segundo mandato e que o tucano Fernando Henrique Cardoso poucos meses após a posse trocou ministros e criou novas pastas.

Mas para quem olha de fora, a impressão que se tem é que o governo vive um tipo de paralisia e que a própria presidente não tem claro o rumo que quer dar para o país.

O escândalo de corrupção da Petrobras certamente tem peso importante neste cenário. Dezenas de políticos foram citados em depoimentos vazados de delações premiadas nas investigações da operação Lava Jato da Polícia Federal e há a expectativa de que vários outros possam estar envolvidos.

A situação é tal que a presidente disse que consultaria o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, antes de indicar ministros, para evitar futuros constrangimentos. Mas Janot disse que não podia fazer qualquer comentário em torno dessas investigações.

Mesmo excluindo o escândalo da Petrobras, o governo não deve ter vida fácil no Congresso à frente. Futuro provável presidente da Câmara, o atual líder do PMDB na Casa, Eduardo Cunha (RJ), embora nominalmente um aliado, causou problemas para o Palácio do Planalto em alguns momentos neste ano. Muito difícil imaginar que no comando de todos os deputados sua relação com o Executivo será das mais tranquilas.

A presidente pode estar esperando baixar a poeira da Lava Jato e a definição do comando da Câmara e do Senado para a nova Legislatura em fevereiro.

Mas não pode esperar muito mais.

É bom que ela use sua posse para passar uma mensagem clara para onde quer levar o país nos próximos anos e como pretende fazer isso. Já passou da hora de retomar a iniciativa.

* Esta coluna foi publicada inicialmente no terminal financeiro Eikon, da Thomson Reuters.

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