Comercialização de documentário sobre João de Deus é suspensa
Distribuidora Paris Filmes anunciou suspensão imediata do filme em todas as plataformas digitais após denúncias contra o médium
Brasil|Do R7
A distribuidora Paris Filmes anunciou nesta terça-feira (11) que suspendeu "imediatamente" a comercialização do documentário João de Deus - O Silêncio É uma Prece em todas as plataformas digitais. Lançado em maio nos cinemas, o filme tem direção de Candé Salles (de Para Sempre Teu Caio F.) e roteiro de Edna Gomes.
A decisão ocorre após adivulgação de supostos abusos sexuais cometidos pelo médium no "hospital espiritual" que mantém em Abadiânia, interior goiano.
Até a manhã desta terça-feira, 78 mulheres registraram denúncias contra João de Deus no Ministério Público de Goiás.
O anúncio ocorre um dia após a editora Companhia das Letras suspender a distribuição do livro João de Deus: Um Médium no Coração do Brasil, publicado pelo selo Fontanar em 2016. O livro é de autoria de Maria Helena Pereira Toledo Machado, professora de História da USP (Universidade de São Paulo).
Segundo a sinopse, o filme "mostra que a paz está presente por todo espaço, entrando a fundo na dinâmica da casa e nos trabalhos locais" na Casa Dom Inácio de Loyola, onde João de Deus realiza "cirurgias espirituais".
O filme traz entrevistas com o médium e com seguidores e admiradores, tais como a atriz Cissa Guimarães, que também é narradora da produção. Além disso, mostra imagens das chamadas "cirurgias espirituais", nas quais João de Deus utiliza utensílios domésticos, como faca de cozinha e tesoura, para realizar cortes e incisões.
Na época do lançamento, Luiz Carlos Merten, crítico de cinema do jornal O Estado de S. Paulo, descreveu o filme como "bem feito, bem montado", mas que "em nenhum momento busca tensionar ou desmistificar o personagem". "Os depoimentos apontam sempre na mesma direção", escreveu na época.
Além do documentário, a obra João de Deus - O Filme está em fase de pré-produção. Na semana passada, a empresa Lynxfilm Produções Audiovisuais conseguiu autorização para captar até R$ 4 milhões para o filme por meio de incentivos fiscais.
Entenda o caso
João de Deus é acusado de abuso sexual durante os atendimentos espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, interior de Goiás, por diversas mulheres. O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) criou uma força-tarefa para ouvir vítimas do médium e, até sexta-feira (14), vai ouvir 10 mulheres e encaminhá-las para o MP-GO (Ministério Público de Goiás), órgão responsável pelo caso.
De acordo com o Ministério Público do Estado de Goiás, 40 mulheres entraram em contato para denunciar o médium após a criação da força-tarefa que conta com quatro promotores, seis delegados e duas psicólogas.
Ao R7, a a promotora Maria Gabriela Manssur, do Gevud (Grupo de Atuação Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica), da capital paulista, informou que, no total, mais de 200 casos já chegaram ao conhecimento do Ministério Público.
Outro lado
O advogado criminalista Alberto Toron, que representa João de Deus, se posicionou sobre as acusações de abuso sexual contra o médium em entrevista ao programa "Fantástico", também da Rede Globo. Ele afirmou que o médium “nega e recebe com indignação a existência dessas declarações”.
“O que eu quero esclarecer, que me parece importante que se esclareça ao grande público, é que ele tem um trabalho de mais de 40 anos naquela comunidade, atendendo a todos os brasileiros, atendendo gente de fora do país, sem nunca receber esse tipo de acusação”, disse o advogado.
Ainda segundo Toron, João de Deus vai se apresentar à Justiça nos próximos dias para colaborar no que for necessário.
O R7 tenta desde segunda-feira (10) ouvir o advogado, mas ainda não obteve resposta. Uma entrevista com o médium também foi pedida, também sem posicionamento do acusado.