Brasil Covas diz que falas do governo atrapalham entregas da China

Covas diz que falas do governo atrapalham entregas da China

Diretor do Butantan afirmou também que ordem de Bolsonaro contra a vacina interrompeu negociações com Ministério da Saúde

  • Brasil | Do R7

Covas falou que  ordem de Bolsonaro parou acordo

Covas falou que ordem de Bolsonaro parou acordo

Edilson Rodrigues/Agência Senado - 27.05.2021

O diretor do Butantan, Dimas Covas, afirmou nesta quinta-feira (27), à CPI da Covid, que o Ministério da Saúde interrompeu as negociações com o instituto paulista, em outubro do ano passado, após o presidente Jair Bolsonaro declarar que não compraria a vacina, desenvolvida ao lado do laboratório chinês Sinovac.

Segundo Dimas Covas, as falas de integrantes do governo federal prejudicaram o desenvolvimento do imunizante no país e, posteriormente, a entrega de remessas de insumos da China.

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Covas afirmou também que o governo federal jamais investiu no desenvolvimento da vacina CoronaVac, ao contrário do que fez com o imunizante de Oxford e da AstraZeneca.

"Pela medida provisória, o valor é de R$ 1,9 bilhão [à vacina de Oxford]", disse o diretor do instituto.

"Eu uso a seguinte figura. Nós temos 100 vizinhos, 99 são cordiais, nos tratam bem, nos convidam para ir na casa deles. E um é o mal comportado, sempre tem uma observação a fazer. Na festa de fim de ano, você vai chamar aquele ou os outros 99?"

Ele explicou que "a China hoje é o maior exportador de imunizantes para covid no mundo, e 30% das vacinas que ela já produz manda para outros países". 

O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), colocou um vídeo no qual, no fim de outubro, Bolsonaro manda um recado ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), dizendo que "ninguém vai tomar a sua vacina na marra, não, tá ok, procura outro para pagar a tua vacina".

Dimas Covas confirmou, na sequência, que a declaração do presidente interrompeu a negociação com o ministério.

"Isso mudou a perspectiva no próprio ministério. Todas as negociações que haviam, com trocas de equipes técnicas, trocas de domcumentos, a partir desse momento foram suspensas."

Ele contou que um dia antes a pasta assumiu um compromisso de negociação, que ficou suspenso e só foi concretizado em 7 de janeiro.

O diretor do Butantan declarou que as primeiras doses da CoronaVac em solo nacional chegaram em novembro  de 2020.

"O contrato com a outra vacina, da AstraZeneca, foi feito em agosto. Essa [CoronaVac], apesar de já estar em solo brasileiro, foi fechada em janeiro [de 2021], seis meses depois."

Ao responder a declaração do relator da CPI, que citou que em um só dia, 18 de agosto de 2020, o Brasil descartou 130 milhões de doses (60 milhões da CoronaVac e 70 milhões da Pfizer), Dimas Covas citou que houve um erro claro do governo federal. 

"Eu, como médico e cientista, sempre estive convencido da importância da vacina."

O depoente relatou ainda que o Butantan recebeu um tratamento que o deixou decepcionado. "Questionar o Butantan é questionar a saúde pública do Brasil. Essa campanha desqualificando a vacina e o instituto, sem dúvida nenhuma trouxe prejuízos à imagem do Butantan. Logicamente, quando começou a vacinação, essa imagem mudou muito."

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