Delator diz que Dirceu tentou intervir junto a Gabrielli por contrato
Delação foi enviada pela Polícia Federal ao STF na segunda-feira (20)
Brasil|Do R7
O executivo da Toyo Setal Julio Camargo, um dos delatores da Operação Lava Jato, afirmou em novo depoimento prestado no dia 8 de abril que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu interveio pela contratação da empresa junto ao ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli. O depoimento faz parte do material encaminhado na segunda-feira (20) pela Polícia Federal ao STF (Supremo Tribunal Federal) relativo aos inquéritos que apuram envolvimento de políticos no esquema de corrupção e propina na estatal.
Camargo disse à PF que conheceu o petista em uma festa de aniversário do ex-ministro, quando ele já tinha deixado a Casa Civil. O convite foi feito por um amigo em comum. Os dois tiveram mais de 20 encontros, segundo os relatos de Camargo, a maioria no escritório ou na residência de Dirceu.
No novo depoimento, Julio Camargo afirma que tinha meios de dar suporte financeiro à Petrobras, mas em contrapartida a estatal deveria celebrar contrato com um consórcio do qual a Toyo fazia parte. Diante da sinalização de mudança da Petrobras desse modelo de negócio, o executivo teria buscado ajuda de Dirceu. O ex-ministro disse, segundo o relato de Camargo, "ter feito gestão junto a Gabrielli no sentido de entender por qual razão a Petrobras havia mudado a sistemática".
Ele declara que doou valores ao PT, mas destaca que nunca ofereceu vantagens "devidas ou indevidas" a José Dirceu.
O executivo lembra de ter dado apenas um uísque e um vinho ao ex-ministro, o último como presente em um aniversário. Apesar disso, Camargo diz ter autorizado viagens de Dirceu em seu avião em "várias oportunidades", mas não se lembra de o petista ter feito menção a ninguém da Petrobras nas viagens.
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Ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, Gabrielli disse não se lembrar de nenhuma discussão geral sobre modelo de contratação da Toyo.
"Não tenho a menor ideia sobre o que se refere sua consulta. Não lembro de nenhuma discussão geral sobre modelo de contratação da Toyo e é muito difícil lembrar, sem maiores detalhes, especialmente sem relacionar qual projeto esta questão poderia estar associada. Quanto a conversas deste teor com José Dirceu tenho certeza que nunca tive", afirmou o ex-presidente da estatal.
O advogado de José Dirceu nas investigações relativas à Lava Jato, Roberto Podval, afirmou que o depoimento de Camargo aponta que nenhum negócio foi firmado. Podval diz ainda "não ver ilicitude" no caso, uma vez que Dirceu não estava mais no governo e possui empresa de consultoria.
Venezuela
Dirceu e o executivo da Toyo também conversaram sobre Venezuela, segundo o delator. A Toyo enfrentava problemas na execução de contratos no País e Dirceu chegou a sinalizar que "conseguiria uma entrada" de Camargo com o presidente da PDVSA, estatal venezuelana responsável pela exploração de petróleo, de acordo com o depoimento. O executivo não teve autorização da Toyo para continuar com a negociação, conforme a delação.
Cunha
O executivo da Toyo relata ainda ter se encontrado com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em duas ocasiões. Os dois trataram sobre questões do setor portuário. Na época, estava em tramitação no Congresso a medida provisória conhecida como MP dos portos, que regulamentou o setor. Cunha teria perguntado a Camargo se haveria disponibilidade de a Toyo, por meio de banco japonês, conseguir financiamento para projetos de investimentos nos portos.
O peemedebista teria prometido "fazer gestões" para a contratação da Toyo caso o financiamento fosse obtido. As conversas cessaram depois que Camargo afirmou que não conseguiria obter o financiamento.
Cunha disse ao Broadcast ter sido procurado por diversas pessoas na época da tramitação da MP dos Portos. Uma delas poderia ter sido Camargo, segundo o presidente da Câmara. Ele destaca que o executivo queria investir e a nova legislação previa investimentos privados em áreas externas dos portos.
O depoimento de Julio Camargo foi uma das diligências solicitadas pela Procuradoria-Geral da República no inquérito que investiga o senador Edison Lobão (PMDB). O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa disse em delação premiada que recebeu do parlamentar a solicitação da entrega de R$ 1 milhão.
O doleiro Alberto Youssef disse que já foi levar dinheiro para o Maranhão em razão de uma operação com Julio Camargo e que não sabe quem era o destinatário dos valores. No depoimento do início de abril, Julio Camargo negou ter dado a Youssef valores para pagamentos no Maranhão ou para pagamentos de interesse de políticos do Estado.