Diretoria sabia sobre risco de rompimento, diz engenheiro da Vale
Felipe Figueiredo Rocha afirmou na CPI de Brumadinho, no Senado, que "deu publicidade" às informações ao comando da mineradora
Brasil|Da Agência Senado
A CPI de Brumadinho ouviu, na tarde desta terça-feira (23), o engenheiro Felipe Figueiredo Rocha, da área de Recursos Hídricos da Vale.
O pedido para ouvir Rocha se baseou na informação do Ministério Público de que ele, em uma reunião interna da mineradora, apontou a situação de risco de algumas barragens.
O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) lembrou que o presidente afastado da Vale, Fábio Schvartsman, afirmou “que se Felipe quisesse poderia ter alertado a respeito do risco do rompimento de barragens da Vale” a qualquer momento.
Leia também
Kajuru questionou se o engenheiro apresentou para a Vale a avaliação de risco das barragens. Felipe Rocha confirmou que foi feita uma apresentação sobre os riscos das barragens da empresa, que citava a barragem B1. Ele acrescentou que tem até a lista de presença das reuniões.
"Os riscos da barragem, apesar de não serem iminentes, foram apresentados para a diretoria da Vale. A todas apresentações e todas informações a que eu tive acesso eu dei publicidade", declarou o engenheiro.
De acordo com Felipe Rocha, o relatório sobre as recomendações acerca da barragem B1 foi enviado para a diretoria. Rocha informou que a análise de risco era feita por um consórcio que incluía a empresa Tüv Süd. Depois, ele consolidava as informações e as apresentava em um painel de especialistas.
Segundo Rocha, apesar dos relatórios, os funcionários da área geotécnica não demonstraram preocupação. O engenheiro acrescentou que, por ser da área de recursos hídricos e não da área geotécnica, não tinha condição de avaliar as causas do rompimento da barragem de Brumadinho.
O relator da CPI, senador Carlos Viana (PSD-MG), questionou se a Vale tinha acesso aos relatórios de auditorias antes de serem finalizados e entregues. Felipe Rocha disse que nunca trabalhou na área de auditorias, mas ressaltou que havia uma versão do relatório para comentários. A Vale poderia tecer comentários e enviar para a empresa de auditoria, que assim faria uma versão final.
O engenheiro Felipe Rocha agradeceu a oportunidade de esclarecer algumas situações relacionadas à tragédia de Brumadinho, disse que seu único compromisso é com a verdade e informou que paga sua própria advogada. Ele negou, no entanto, que a Vale tenha proposto pagar uma banca de advogados em troca do seu silêncio.
Segundo Rocha, não é possível indicar a Vale como culpada pelo rompimento da barragem, pois ainda há uma investigação em curso. Ele afirmou ainda que sua área não é a responsável pela definição de limite de risco das barragens e negou que tenha recebido orientações da empresa para direcionar seu depoimento à CPI.
Felipe Rocha ainda leu um e-mail sobre a situação da barragem do Córrego do Feijão que, segundo ele, seria uma forma de evidenciar que os diretores foram comunicados que a barragem merecia um monitoramento melhor.
Objetivo
O senador Carlos Viana sinalizou que seu relatório está bem adiantado e será apresentado em breve. Uma das sugestões do relatório deve ser o aumento da tributação das empresas de exploração mineral.
— Está claro que essas empresas são sub-tributadas em nosso país e temos a obrigação de propor uma nova forma de cobrança. Vamos dar uma resposta muito firme sobre o que está acontecendo para que tragédias como essa não se repitam — afirmou o senador.
A CPI de Brumadinho é composta por 11 membros titulares e 7 membros suplentes. O objetivo da comissão é apurar as causas do rompimento da barragem na Mina Córrego do Feijão, da empresa de mineração Vale, em Brumadinho (MG), e investigar a segurança de outras barragens. A CPI é presidida pela senadora Rose de Freitas (Pode-ES) e tem até o dia 10 de julho para concluir seus trabalhos.