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Dutra: rodovia que transporta meio PIB do país vai a leilão nesta sexta

Via que liga as duas maiores cidades brasileiras, Rio e São Paulo, terá concessão renovada por 30 anos; CCR, atual gestora, é favorita

Brasil|Do R7

Mais da metade do PIB do Brasil passa pela Dutra, rodovia que liga São Paulo ao Rio
Mais da metade do PIB do Brasil passa pela Dutra, rodovia que liga São Paulo ao Rio

Com 70 anos, a rodovia Presidente Dutra (BR-116), que liga as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, pode escrever nesta sexta-feira (29) mais uma importante página de sua história, com o leilão de renovação de sua concessão por mais 30 anos.

Os planos são de modernização da via que ajuda a explicar o desenvolvimento do país. Por ela passam 50% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro e moram em suas margens, em municípios que ela ajudou a criar, cerca de 23 milhões de pessoas. 

O economista Alessandro Azzoni afirma que a história de algumas cidades próximas não pode ser contada sem menção à rodovia. "A região de São José dos Campos (SP), no Vale do Ribeira, só se expandiu por causa da Dutra. Cidades paulistas como Arujá e Guarulhos, que virou uma extensão de São Paulo e se desenvolveu absurdamente, também devem tudo à via", comenta. 

A rodovia, que antes era menor e se chamava BR-02, foi inaugurada em 19 de janeiro de 1951, com a participação do presidente Eurico Gaspar Dutra.


A duplicação só foi ocorrer dezesseis anos depois, em 1967. Em março de 1996, foi cedida por 25 anos à CCR, que administra a Nova Dutra desde então. 

A atual gestora dos 402 quilômetros de extensão da rodovia é de novo a favorita no leilão na sede da B3, a Bolsa de Valores brasileira, mas terá concorrentes de peso.


"Quando foi feita a primeira concessão, em 96, havia poucas empresas interessadas. Hoje a gente vê grupos fortes tentando tomar a rodovia. A CCR é a favorita, mas pode ficar sem sua menina dos olhos", diz Azzoni.

Melhorias

O Ministério das Minas e Energia calcula R$ 15 bilhões em investimentos previstos no "maior leilão rodoviário da história", de acordo com a pasta.


O vencedor do certame leva também a Rio-Santos (BR-101).

Segundo o edital, publicado no Diário Oficial da União, serão 625 quilômetros de extensão sob nova concessão, "atravessando 33 municípios dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro e gerando mais de 222 mil empregos ao longo dos próximos 30 anos". 

“A Dutra vai ser a rodovia mais moderna do Brasil. Estamos prevendo uma redução tarifária para o motorista de até 30% na viagem entre Rio de Janeiro e São Paulo; isso é extremamente relevante”, disse o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, em entrevista ao site do governo federal.

Entre as inovações previstas para a Dutra está o teste, na região de Guarulhos, do sistema free-flow para pagamento eletrônico de tarifas, sem a necessidade de uma praça de pedágio.

O ministério esclarece que esse modo de cobrar os motoristas permitirá um valor variável de acordo com a demanda de veículos na pista em cada momento.

Também está prevista a tarifa diferenciada entre as pistas simples e duplas e o desconto para usuários frequentes da rodovia.

"Certamente você vai ter ali ampliação em alguns trechos urbanos, melhoria de asfalto, atendimento mais rápido, novos serviços, segurança maior etc. Estão colocando também o sistema de identificação por placa, para não ter parada nos pedágios", cita Alessandro Azzoni. Ele recorda que a Dutra era, antes da concessão, conhecida como rodovia da morte, pelo excesso de acidentes que ocorriam em suas pistas. 

Em sua opinião, as rodovias na mão da iniciativa privada estão dando certo porque envolvem um alto custo e não precisam passar pela burocracia dos serviços públicos. "Seria impossível fazer a segunda via da Rodovia Imigrantes [que leva à Baixada Santista (SP] se isso coubesse ao governo, demoraria anos", exemplifica o economista.

História

O site Diário do Transporte, voltado para notícias sobre o setor no país, diz que a Dutra impulsionou também as indústrias de ônibus interestaduais.

"A inauguração da Dutra foi marcada por uma fila de ônibus Twin Coach, importados dos Estados Unidos pela Viação Cometa S.A., que estreava seus serviços entre as duas cidades."

"Como hoje, a ligação Rio-São Paulo já era o principal filão dos transportes interestaduais por ônibus. A concorrência entre as empresas era acirrada. Para se diferenciarem, as duas principais companhias que faziam a linha entre os anos de 1950 e 1960 adquiriam ônibus com itens de conforto, segurança e até de design não apresentados pela indústria nacional na época", prossegue o portal especializado.

Ainda conforme matéria do site, após importar os Twin Coach, a Cometa trouxe para o Brasil, em 1954, os GMPD 4104, apelidados de Morubixaba. A Expresso Brasileiro, por sua vez, comprou os Flxible, ou Diplomata, em 1956, mas eles acabaram retidos na alfândega por mais de dois anos.

Entre os episódios trágicos da antiga rodovia da morte se destaca o acidente que levou a vida do ex-presidente da República Juscelino Kubitschek. Em 22 de agosto de 1976, o Opala que o levava de São Paulo ao Rio ultrapassou a mureta divisória do quilômetro 164 e se chocou com um caminhão.

Na época, a polícia chegou a investigar a hipótese de um ônibus da viação Cometa ter batido de propósito na traseira do carro do político, mas a tese foi descartada por falta de provas. 

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