Grupo Negras Empoderadas participa da pré-estreia de 'Pitanga' sobre a obra do ator Antonio Pitanga
Filme tem direção da Camila Pitanga e Beto Brant; visão feminista e acolhedora emociona
Brasil|Juca Guimarães, do R7
No último sábado, dia 1, foi exibido no Espaço Itaú de Cinema, no Shopping Frei Caneca, para um grupo de 200 mulheres negras, que fazem parte do grupo Negras Empoderadas, a pré-estreia do documentário "Pitanga", com a presença dos diretores Camila Pitanga e Beto Brant e também do ator protagonista o ator Antonio Pitanga, de 77 anos.
A ideia da sessão especial, que teve na sequência um bate-papo de quase uma hora, surgiu quando a musicista, coach e estudante de cinema Sara Negritri assistiu a uma palestra do Beto Brant, em fevereiro, onde estuda, para os alunos do curso de filmworks da AIC (Academia Internacional de Cinema), sobre o documentário.
Sara perecebeu a importância que o filme tem para o Brasil e vários outros aspectos. “No Pitanga, vi a representação do Brasil. Na Camila, o reconhecimento do valor da mulher negra. No Beto, o tratamento de igualdade. No filme, vi a renovação da linguagem sobre o negro, sem estereótipos. Entre outra outras conexões lindíssimas e de extrema importância.”
"Então, conversei com o Beto sobre a possibilidade de fazer algo com as mulheres negras Empoderadas e fiz o convite. Passei então o contato da Mayara Silva, que organizou os detalhes com as mulheres do grupo", disse Sara.
Em fevereiro, Mayara organizou uma sessão de cinema para que 300 mulheres negras assistirem juntas o filme "Estrelas Além do Tempo", em São Paulo, e promoverem um bate-papo sobre racismo e feminismo. Foi uma experiência maravilhosa e enriquecedora. O senhor Pitanga é um mestre muito generoso e tem uma história incrível. Durante a sessão, as reações das mulheres negras são muito parecidas, os momentos de suspiros e emoção foram sincronizados. Foram 1h50 de filme com muito conteúdo sobre formação política e social", disse a advogada Mayara Silva, uma das organizadoras do grupo Negras Empoderadas. O encontro também foi importante para contextualizar a luta atual sobre igualdade.
"No começo do filme ele corta uma rede de pesca e explica 'eu cortei a rede pra gente não conseguir pegar peixe, porque quando a gente corta a rede a comunidade toda vai sentir fome; e aí todo mundo vai gritar junto e então sim seremos ouvidos'. É esse sentimento do nosso grupo. Estamos todas juntas no grupo das mulheres porque precisamos gritar juntas", disse. "O filme mostra que é urgente a necessidade de conscientização de igualdade no Brasil. Quantos Pitangas não podem sequer estudar? Quantos nem chegam a fase adulta? Quantas Camilas são silenciadas e traumatizadas? Temos muito a aprender uns com os outros ", disse Sara Negritri.
A atriz Camila Pitanga falou sobre como foi se aprofundar na história do pai e da importância dele na história da cultura brasileira. No bate-papo, Antônio Pitanga contou mais detalhes da sua vida e ouviu atentamente as observações da plateia.
"O jeito como ele falou da mãe, das mulheres com quem se relacionou, da filha e das netas foi inspirador. Ele nos abençoou com sua sabedoria. Nos sentimos apoiadas. Foi gratificante", disse Sara.
Antes da exibição do filme, foi apresentado o curta-metragem "Sr. Peixoto”, com roteiro e participação da Sara Negritri, sobre as relações de poder no mundo corporativo e tensões raciais. A história se passa durante uma entrevista de emprego onde uma mulher negra, Mariana (interpretada pela Sara), cujo currículo é excepcional, é contestada e confrontada pela entrevistadora, visivelmente inconformada com a situação.
O curta-metragem tem um desfecho inesperado. "Muitas mulheres negras se identificam com as questões abordadas no filme, isso explica a exibição", disse Sara.