Livro "Gênios da Humanidade" revela as grandes invenções criadas pelos negros em todo mundo
Obra é uma ferramenta poderosa no combate ao racismo; leia a entrevista com o autor
Brasil|Juca Guimarães, do R7
Uma, ou melhor, várias verdades sobre a contribuição dos negros no desenvolvimento social, filosófico e tecnológico da humidade vêm à tona com o lançamento do livro "Ciência, Tecnologia e Inovação Africana e Afrodescendente" (editora DBA), do professor mestre Carlos Eduardo Dias Machado e da jornalista e ex-consulesa da França Alexandra Baldeh Loras.
A obra muito bem fundamentada e repleta de dados históricos revela que a raça negra não é composta apenas de pessoas que só sabem trabalhar duro em tarefas braçais, correr, dançar, cantar ou jogar futebol. É composta também de cientistas brilhantes que inventaram, entre outras coisas, a geladeira, a escrita, o microfone e o videogame.
Apenas por isso, o livro se torna uma importante ferramenta de combate ao racismo e recuperação da autoestima do brasileiro. Mas a obra não para por aí. Alexandra e Carlos Eduardo também apresentam uma profunda reflexão sobre a omissão histórica da genialidade negra nas ciências e propõe um novo desafio a ser lançado, o de plena igualdade racial, em todas as áreas de atuação humana por um efetivo equilíbrio de poder para todos sem qualquer distinção de raça, cor, etnia, sexo, credo ou nacionalidade.
Confira a entrevista exclusiva que o professor Carlos Eduardo concedeu ao R7. O livro "Ciência, Tecnologia e Inovação Africana e Afrodescendente" (editora DBA) foi lançado este mês, tem 256 páginas e custa R$ 50.
R7: Quanto tempo levou a pesquisa e a produção do livro?
Carlos Eduardo: A primeira versão do livro levou 9 meses. Posteriormente com as negativas das editoras eu resolvi ampliar o livro. Fiquei 11 anos batalhando pela publicação revendo e atualizando o texto. É importante dizer que este foi o meu primeiro livro, pois nunca tinha escrito algo tão grande. Percebi que este tema merecia uma publicação para divulgar os feitos científicos e tecnológicos negros.
R7: O livro pretende abrir um novo horizonte sobre a participação dos negros na história da humanidade?
Carlos Eduardo: Sim o livro é bem fundamentado para valorizar a ciência, tecnologia e inovação criada pelos negros no mundo ao longo do tempo. O continente africano tem o registro mais antigo do mundo de realizações tecnológicas humanas: as ferramentas de pedra mais antigas do mundo foram encontradas no leste da África, e mais tarde a evidência para a produção de ferramentas por nossos antepassados hominídeos foi encontrada em toda a África Subsaariana. A história da ciência e da tecnologia em África desde então, devido a hegemonia branca tem recebido pouca atenção em comparação com outras regiões do mundo, apesar de notáveis desenvolvimentos africanos em matemática, metalurgia, arquitetura, agricultura entre outros campos.
R7: Quais as inovações e criações mais surpreendentes criadas por negros?
Carlos Eduardo: O semáforo, geladeira, filamento de carbono da lâmpada, videogame, celular, microfone, pilão, calendário, a matemática, astronomia, escrita e a filosofia.
R7: Qual a sua opinião sobre o ensino da história da África nas escolas e como este conteúdo deveria ser incluído no currículo?
Carlos Eduardo: É de fundamental importância ensinar história da África antes da escravidão, colonialismo e racismo. Mas esta tarefa ainda é implementada por ativistas e simpatizantes da promoção da igualdade racial. Existe muita resistência ao tema por preconceito e por medo de que os jovens vão aprender “macumba” na escola. Este cumprimento da lei federal deveria abranger toda a escola e não individualmente professoras comprometidas.
R7: A educação é uma ferramenta essencial na luta contra o racismo?
Carlos Eduardo: Não há dúvida, mas qual educação que se quer? A educação que temos é eurocêntrica e precisa receber os aportes das civilizações da África e América. Ainda há muita resistência por preconceito e por agarrar-se às velhas práticas que excluem a maioria da população num estado de constante alienação.
R7: Especificamente no Brasil, quais foram as contribuições mais importantes dos afrodescendentes no desenvolvimento do país?
Carlos Eduardo: A mineralogia, mineração e fundição de metais no chamado Ciclo do Ouro. Os europeus sabiam do exímio conhecimento africano com a metalurgia em régios como o oeste e centro do continente. Destaco também as inovações produzidas pelos irmãos Antônio e André Rebouças no século 19 na construção da estrada de ferro que liga Curitiba a Paranaguá para a engenharia nacional.
R7: Em relação a pergunta anterior, o reconhecimento dessa contribuição é prejudicado por conta do racismo e da escravidão?
Carlos Eduardo: Sim porque impediu o desenvolvimento da maioria da população. Veja viemos de centenas de organizações políticas africanas desde o século 30 a. C., havia um conhecimento sofisticado em diversas áreas, no continente haviam cidades, houveram universidades como Per Ankh, Sankore, Al-Azhar e Al-Karouine, haviam escritas, literatura, filosofia e retórica. Este conhecimento amplia a nossa visão de mundo e nos encoraja a descolonizar as nossas mentes e os currículos.