Mourão: 'Presidente não tem como controlar tudo no governo'
Ao comentar as recentes denúncias de corrupção em contratos de compras de vacinas, vice corroborou o discurso de Bolsonaro
Brasil|Daniel Trevor, da Record TV em Brasília, com R7
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, minimizou as denúncias de corrupção em torno da compra de vacinas contra a covid-19 e reforçou o discurso de Jair Bolsonaro, que disse nesta semana desconhecer tudo o que acontece nos ministérios. Para o general da reserva do Exército, a bandeira anticorrupção que elegeu sua chapa ao Palácio do Planalto em 2018 não fica abalada com os episódios recentes.
"Não acho isso [que a imagem do governo ficou maculada]. O presidente falou algo que é certo: ele não tem condições de controlar tudo o que está acontecendo dentro do governo, então, compete a cada ministro controlar o seu feudo. E se for detectado algo irregular, que se tome as providências de acordo com a lei. Isso é normal", afirmou na manhã desta quarta-feira (30) a jornalistas em Brasília.
Leia também
Questionado especificamente sobre a revelação de Luiz Paulo Dominguetti Pereirada, da empresa Davati Medical Supply, que relatou ao jornal Folha de São Paulo ter recebido proposta de propina em encontro informal com Roberto Dias para tratar de compra de 400 milhões de doses da vacina Astrazeneca/Oxford, Mourão preferiu não polemizar.
"É um relato, né? Você sabe que esses assuntos não chegam para mim. Só tomo conhecimento por vocês, pela imprensa. Não tenho como avaliar."
O Diário Oficial da União trouxe em sua edição de hoje a confirmação da demissão do diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, que foi denunciado por Dominguetti Pereirada. Ele relatou ter sido pressionado pelo agora ex-servidor da pasta para pagar propina na compra da vacina Astrazeneca/Oxford.
"É aquela história. Pode ter havido o fato aí. Na realidade é o seguinte. Existe a CGU [Controladoria-Geral da União], e ela tem que acompanhar essa questão de contratos. Acredito que ela fica de olho. Não em contratos de R$ 50, R$ 60 milhões, mas em contratos grandes ela tem que estar em cima", comentou o vice-presidente sobre a demissão de Dias.
Com a revelação do caso, o governo Bolsonaro se tornou alvo de outra denúncia de corrupção na compra de vacinas em menos de uma semana. Na sexta-feira (25), o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Ricardo Miranda, afirmaram à CPI da Covid que a estrutura do governo foi utilizada para o superfaturamento e favorecimento da vacina indiana Covaxin.
O departamento de logística do Ministério da Saúde, alvo das duas denúncias sobre compra de vacinas, é "loteado" por nomes ligados ao Progressistas (PP) desde quando o atual líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PR), comandava a pasta, entre 2016 e 2018.
Perguntado se o governo deveria afastar Barros, que nega as acusações, Mourão afirmou que "essa é uma questão do presidente". "Tem que ver se é verdade isso aí, até que ponto tem que ver o que ocorreu aquilo que foi falado pelo denunciante [deputado Luís Miranda (DEM-DF)] na sexta na CPI [da Covid no Senado]."
A nova denúncia também deve ser investigada pela Comissão Parlamentar de Inquérito. "Vamos convocar o senhor Luiz Paulo Dominguetti Pereira para depor na #CPIdaPandemia na próxima sexta-feira, dia 02/07", escreveu o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-BA), em suas redes sociais.
Mourão destacou ainda que, hipoteticamente, se tivesse recebido denúncia em contrato de compra de vacinas, "encaminharia ao Ministério da Saúde para ele tomar as providências", o que representantes do governo federal alegam ter feito. Buscando alinhamento com Bolsonaro, Mourão disse que não teria relatado o caso à Polícia Federal.
"Eu não tenho comandamento na Polícia Federal. Então, encaminho ao ministério competente. De vez em quando aparece denúncia aqui para mim e eu encaminho ao ministro."
Sobre o superpedido de impeachment que será protocolado nesta quarta-feira na Câmara pela oposição, o general afirmou não vê espaço para ele prosperar. "O próprio ministro [do STF] Gilmar Mendes tocou nesse assunto em uma palestra que ele fez. Estamos a um ano e pouco das eleições, vamos esperar até outubro do ano que vem e ver o que acontece", finalizou.
Segundo a liderança da minoria na Câmara, o superpedido foi elaborado pela ABJD (Associação Brasileira de Juristas pela Democracia) e tem como signatários parlamentares de diferentes campos políticos, entidades representativas da sociedade e personalidades. "Apresenta todos os crimes cometidos por Bolsonaro desde o início do mandato", informa o comunicado em nota.