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Mulheres negras, como Tia Eron, são maioria no Brasil, mas apenas 0,39% na Câmara dos Deputados

Deputada deu voto decisivo na cassação de Cunha e lembrou: 'ninguém manda nessa nega aqui'

Brasil|Mariana Londres, do R7, em Brasília

Tia Eron deu voto decisivo pela cassação de Cunha no Conselho
Tia Eron deu voto decisivo pela cassação de Cunha no Conselho Tia Eron deu voto decisivo pela cassação de Cunha no Conselho

No centro das atenções do Brasil na última terça-feira (14), a deputada Tia Eron (PRB-BA) usou a sua fala na sessão do Conselho de Ética para nos lembrar de uma estatística estarrecedora: a baixa representatividade da mulher negra no Congresso Nacional.

Ao proferir seu voto decisivo pela cassação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no colegiado, Tia Eron disse que: ‘ninguém manda nessa nega aqui’ e lembrou que o processo se arrastava há sete meses ‘e precisaram chamar uma mulher para resolver o que os homens não conseguiram’.

A deputada que deu o voto decisivo pela cassação de Eduardo Cunha no Conselho de Ética faz parte da maioria da população brasileira. As mulheres são 51,4% dos brasileiros e os negros, 53,6%, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Apesar disso, ao lado de Tia Eron, entre os 513 deputados federais eleitos há apenas uma segunda mulher negra na Câmara, a colega de partido Rosângela Gomes (PRB-RJ). A deputada Benedita da Silva (PT-RJ), precursora entre as mulheres negras na política brasileira, está de licença médica. Com a licença de Benedita, as mulheres negras são 0,39% da Câmara dos Deputados.

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Para o cientista político Leonardo Barreto, doutor em Ciências Políticas pela UnB (Universidade de Brasília), a baixa representatividade das mulheres negras na política brasileira decorre das duas grandes barreiras de preconceito enfrentadas por elas, uma barreira dupla: de gênero e de raça.

Barreto lembra que o País tem uma média histórica de apenas 10% de mulheres na política (na Câmara são 10%, 52 deputadas entre 513 eleitos), ambiente ainda dominado pelos homens. Na opinião dele, esse número vai demorar muito a subir se não houver cotas de cadeiras para mulheres, como acontece em outros países (na Argentina, por exemplo). A lei eleitoral brasileira exige que 30% dos candidatos dos partidos sejam mulheres, mas não estabelece cotas nas vagas. Com isso, o número de mulheres eleitas ainda é pequeno.

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— Os mecanismos de preconceito da sociedade brasileira não impedem apenas o voto às mulheres negras. A primeira barreira é chegar a ser candidato. A maior parte das legendas não consegue cumprir a cota de 30% [de candidatas mulheres]. Tanto que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) reconheceu isso e determinou que parte do dinheiro do fundo partidário tem que ser usado para formação política para mulheres, para formar essas candidatas. Mas isso é recente e ainda não há muito efeito prático.

Para Barreto, a melhor solução para aumentar a representatividade das mulheres seria criar cotas de vagas, algo como 40% das cadeiras, durante um período de tempo, 20 ou 30 anos.

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— Tem toda uma literatura de Ciência Política que dá a receita de que você quebra a estrutura de preconceito colocando mais pessoas lá dentro, que sirvam de exemplo para que novas acabem entrando. É um processo de empodeiramento, que poderia acontecer de forma natural, mas você pode acelerar isso por meio de cotas.

Para Benedita da Silva, é preciso reforma política que garanta acesso das mulheres às cadeiras e Educação igualitária
Para Benedita da Silva, é preciso reforma política que garanta acesso das mulheres às cadeiras e Educação igualitária Para Benedita da Silva, é preciso reforma política que garanta acesso das mulheres às cadeiras e Educação igualitária

A deputada Benedita da Silva (PT-RJ), que foi a primeira senadora negra eleita no Brasil e hoje é deputada federal licenciada, em tratamento médico, concorda que só uma reforma política poderia resolver o problema da ausência de mulheres negras no Congresso Nacional. Benedita conversou por telefone com o R7.

— Não acredito que sem uma profunda reforma política, haverá mais participação de mulheres. Precisamos de mais políticas públicas voltadas para as mulheres. E isso me preocupa. Há sobretudo essa ausência da mulher negra [na política] e um aumento da violência contra a mulher, com estupros, assassinatos, violência doméstica que tem acontecido num universo penoso da política de gênero.

A deputada lembrou que é importante ter mais mulheres na política, não só negras, mas também as indígenas que têm representação ainda menor.

— Minha trajetória foi difícil e não está completa ainda, enquanto não tivermos mulheres na Câmara e no Senado, nas prefeituras e na Presidência. E não é só isso que basta. Precisamos acesso igual à Educação. Para uma nação que tem maioria feminina e maioria de mulheres negras seria muita importante essa investida. 

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