Novo diretor da PF critica acordo de delação feito com a JBS
Fernando Segovia disse ainda que Temer continuará sendo investigado
Brasil|Do R7
O novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, afirmou, em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (20), que a Procuradoria-Geral da República é a melhor instituição indicada para explicar possíveis erros no acordo de colaboração premiada firmado com executivos do grupo J&F. Ele afirmou que as investigações derivadas das delações necessitavam de mais tempo.
Segóvia avaliou que a procuradoria pode ter agido de maneira apressada na investigação em que o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou o presidente Michel Temer por corrupção no caso envolvendo as delações de executivos da JBS.
“A gente acredita que, se fosse pela égide da PF, essa investigação teria que durar mais tempo, porque uma única mala talvez não desse toda a materialidade criminosa que a gente necessitaria para resolver se havia ou não crime, quem seriam os partícipes e se haveria ou não corrupção”, avaliou.
A mala a que Segóvia se refere é a que foi flagrada por investigadores da PF com o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, ao sair de uma pizzaria em São Paulo. Loures foi acusado de ter recebido R$ 500 mil de um executivo da JBS em nome do presidente Temer.
"Quem colocou esse deadline (tempo limite), que finalizou a investigação, foi a PGR, talvez seja ela melhor para explicar por que foi feito aquilo naquele momento e por que o senhor Joesley sabia quando ia acontecer para ganhar milhões no mercado de capitais", afirmou.
Para o novo diretor-geral, que tomou posse hoje, se o acordo tivesse sido conduzido pela Polícia Federal, a investigação deveria ter durado mais tempo.
Sobre a existência do crime de corrupção na entrega da mala ao ex-assessor do presidente, o novo diretor-geral deu a entender que a investigação foi encerrada precocemente.
"É um ponto de interrogação que fica no imaginário popular brasileiro e que poderia ter sido resolvido se a investigação tivesse tido mais tempo", afirmou Segovia. "Talvez seria bom que houvesse transparência maior sobre como foi conduzida essa investigação".
Segovia defende instituto da delação premiada
Na coletiva, concedida logo após tomar posse, Segovia fez uma enfática defesa do instituto da delação premiada, tentou amenizar disputas da corporação com o Ministério Publico Federal e se disse lisonjeado com a presença do presidente Michel Temer em sua cerimônia de posse.
Segovia disse que a direção-geral não vai mudar o foco nas delações premiadas feitas pela Polícia Federal e que vai conversar com todos os ministros do Supremo Tribunal Federal para reforçar que, "como uma ferramenta de investigação", a delação "tem que fazer parte de um das atribuições da PF".
— Acredito que instituto da delação premiada é importantíssimo. Ela é fortíssima ferramenta para a investigação criminal.
Sobre as possíveis ilegalidades em delações firmadas pelo MPF, sem a participação da PF, como a do caso JBS, Segovia disse que caberá ao STF decidir sua validade. "Não caberá à PF tecer críticas".
Segovia afirmou que teve uma conversa preliminar com a nova Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, e que os dois pretendem estabelecer uma metodologia de trabalho entre PF e MPF. Segundo ele, nesta primeira conversa não se falou sobre a atribuição da PF nas delações.
— Não se pode tocar no ponto mais nevrálgico do problema (na primeira conversa).
"Acredito que agora neste novo momento, tanto da PGR como da PF, a gente vai tentar construir, neste momento de mais maturidade, vai conseguir trabalhar mais em conjunto e que as investigações sejam coordenadas", afirmou. "Não há necessidade de uma briga institucional entre o MPF e a PF."
O novo diretor-geral disse ainda que, ao entregar ao presidente Michel Temer o convite para que ele comparecesse à cerimônia de posse, revelou ao presidente a sua visão sobre a PF e que Temer lhe deu "carta-branca". "Ele falou que eu tinha carta-branca para engrandecer a PF e que isso fosse feito de forma republicana".
No fim da coletiva, ao ser indagado sobre a conduta da PF em relação às investigações contra o presidente, Segovia disse que Temer continuará a ser investigado, "com a celeridade dos outros inquéritos".
"Não temos mais nada a executar dentro dessas investigações que estão à disposição do Supremo Tribunal Federal", afirmou, em relação aos dois inquéritos que apuravam o crime de corrupção, obstrução de justiça e organização criminosa, que a Câmara dos Deputados decidiu não dar prosseguimento. Contraditado sobre a existência da investigação sobre possíveis irregularidades na elaboração da MP dos Portos, que supostamente concedeu benefícios à empresa Rodrimar, Segovia voltou atrás e afirmou que Temer "continuará a ser investigado".
Segovia disse também que conversou com presidente sobre investigações durante o ano que vem, que é eleitoral, e afirmou que jamais a PF deverá tomar qualquer viés político-partidário. "As investigações têm que buscar a verdade real dos fatos, não se pode ter preconceito. Quando se recebe uma denúncia de partido A ou B, deve-se estabelecer uma linha de instigação para saber se há desvios ou é uma denúncia caluniosa", disse.
Ao ser questionado se acredita que a Lava Jato tem viés político-partidário, o novo diretor-geral da PF disse que não acredita nisso e fez elogios ao juiz Sergio Moro, a quem classificou como alguém de conduta exemplar. "Se houvesse qualquer tipo de desvio já haveria quebra ou anulação da própria investigação", afirmou.