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Odebrecht sobre propina a Bendine: 'Não precisa perguntar, está óbvio'

Palavra 'propina' nunca foi dita por ex-presidente do BB, afirmou empresário

Brasil|Juliana Moraes, do R7

Marcelo Odebrecht falou sobre os pedidos de Bendine
Marcelo Odebrecht falou sobre os pedidos de Bendine

O empresário Marcelo Odebrecht, delator da Lava Jato, declarou ao juiz federal Sérgio Moro, nesta quinta-feira (9), que não tinha dúvidas de que o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine estava pedindo propina para ele.

“Por que me reuniria com Bendine na casa do André, onde o André fala uma coisa exatamente que vai falar depois? Não restou a menor dúvida de que havia o pedido”, declarou o empresário.

“Eu não pagaria naquela altura do campeonato. Imagine se alguém da Odebrecht, depois de eu preso, pagaria, num cenário de alto risco, R$ 2 milhões via equipe de operações estruturadas que estava sendo desmobilizada por uma consultoria que, se fosse lícita ou legítima, teria que ter nota fiscal e a Odebrecht pagava”, continuou.

Segundo ele, a palavra propina nunca foi dita explicitamente e, por isso, nunca chegou a perguntar para Bendine se o pedido se tratava de uma vantagem indevida.


“Essas coisas não precisam perguntar [propina], está óbvio. Se tenho uma reunião com ele, escondida, em que um entra por um lado e o outro pelo outro, a secretária não se comunica, é óbvio... A ilicitude por trás está óbvia”, afirmou.

Ainda no depoimento desta quinta, que faz parte da ação penal que investiga Bendine por supostamente solicitar propinas milionárias à construtora, Marcelo Odebrecht falou que ficou com medo do pedido feito por Bendine. “Esse pedido de pagamento que existia por trás, era uma faca de dois gumes. No fundo, podia consolidar uma relação favorável ou, se a gente negasse, tornar uma relação complicada”, argumentou. “Não foi uma coisa fácil ceder. Mas foi fruto de várias aproximações sucessivas”, completou.


O empresário fez questão de dizer que só começou a dar ouvidos para Bendine devido ao cargo de presidência que ele assumiu na Petrobras. “Teve duas fases. Na primeira, até janeiro, não dei crédito a esse pedido porque achava que no Banco do Brasil ele não teria influência”, explicou. “A partir do momento em que se colocou como interlocutor da presidente para resolver os problemas derivados da Lava Jato e, principalmente, quando assumiu a posição da Petrobras, aí comecei a ter que ter as evidências”, acrescentou.

Ainda de acordo com ele, o pedido veio por meio de operadores. “Na prática, o pedido não veio dele diretamente e eu não dava espaço para ter esse pedido. A gente precisava chegar a uma conclusão, mas o pedido existia. Fernando dizia que existia via André. Tanto que foi pago R$ 3 milhões. Eu precisava ter certeza de que esse pedido existia e também da capacidade dele [Bendine] em nos atingir como presidente da Petrobras”.


Marcelo Odebrecht bateu na tecla de que só passou a prestar atenção em Bendine após ele se tornar presidente da Petrobras e reiterou a propina de R$ 17 milhões. “Só comecei a dar atenção a essa questão quando ele se tornou presidente da Petrobras. Só comecei a interagir com o Fernando [Reis] e a conversar com o amigo dele, digamos assim, por conta da Petrobras”, comentou ele, que ainda fez questão de falar o valor exigido.

“O pedido sempre foi de R$ 17 milhões. Sempre esse. Mesmo quando vinha da Petrobras, o pedido que vinha era esse do 1% do tal do R$ 1,7 bilhões”, acrescentou.

O empresário também falou que Bendine chegou ao posto da Petrobras com a missão de ser mais amigável do que Graça Foster. “Ele nunca se colocou como ameaçador. Pelo contrário, se mostrou disposto a ajudar a empresa. Ele dizia que uma das razões de ter sido eleito presidente da Petrobras foi justamente para acabar com o clima que havia de embate com as empresas por conta da Petrobras. Ele veio para acalmar”, opinou. 

“Na verdade, dizíamos que ele veio com a missão de ser conciliador com as empresas envolvidas na Lava Jato, mais do que a Graça”, completou.

Ele ainda admitiu que Bendine tinha um relacionamento mais amistoso do que Graça Foster. “Internamente, eu dizia para o pessoal que a gente estava tendo com ele um posicionamento muito mais favorável ou amigo do que no final da gestão Graça”.

Arena Corinthians não deu certo

Marcelo Odebrecht aproveitou para dizer que a única vez em que se com o Banco do Brasil foi para o financiamento da Arena Corinthians, em Itaquera, zona leste de São Paulo. “Único financiamento com o Banco do Brasil que me envolvi na minha vida, e que não teve sucesso, foi o assunto da Arena Corinthians”, falou ele, entre risos.

“Até juntei aos autos do processo o relato sobre a Arena para mostrar a única relação que tinha tido de horas e horas de reunião. O que acabou gerando uma relação que não precisava. Eu não precisava ter cerimônia com Bendine para marcar reunião, ele acabou forçando essa barra via André e Fernando. Eu nunca conversei sobre esse tema, mas estava sendo discutido”, afirmou.

Assista ao vídeo com o depoimento de Marcelo Odebrecht:

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