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Órgãos públicos compram café 'superior' e vetam o comum

Licitações e contratos com fornecedores exigem produto com sabor elevado. Produto mais nobre tem valor em média 76% maior que os  tradicionais

Brasil|Márcio Pinho, do R7

Cafezinho 'gourmet' faz parte do cardápio do Congresso
Cafezinho 'gourmet' faz parte do cardápio do Congresso Cafezinho 'gourmet' faz parte do cardápio do Congresso

Órgãos do Executivo, Legislativo e Judiciário exigem que o café em pó comprado para consumo dentro de suas dependências tenha nível “superior”, considerando uma classificação adotada por certificadoras para atestar a qualidade do produto.

O café consumido por políticos, funcionários públicos e juízes é, portanto, um produto com sabor e aroma mais elevados que os tipos enquadrados como "tradicional" e "extraforte" e que são os encontrados de forma mais comum nos supermercados.

Os gastos do poder público com alimentação chamaram a atenção nas últimas semanas em razão da licitação aberta pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para comprar refeições que incluem lagostas e vinhos premiados.

A determinação de que o café a ser comprado precisa ser o "superior" está em editais de licitação de compras e nos contratos firmados com os fornecedores de diferentes órgãos públicos. São os casos do Ministério da Saúde, da Câmara dos Deputados e do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A preferência está presente também em compras feitas por alguns órgãos estaduais e municipais. 

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Os cafés mais nobres estão disponíveis apenas em parte dos supermercados, muitas vezes acompanhados de nomes como “premium” e “exportação”. Também entram nessa classificação produtos “descafeinados”.

Esses produtos custaram em média 76% mais que as marcas classificadas como “tradicionais” e extraforte” em 2018, segundo dados do portal da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). Enquanto um pacote de 500g de café tradicional custou R$ 9,69, o superior ficou por R$ 17,07. 

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O valor do varejo é maior que o pago pelos órgãos do governo, já que frequentemente compras públicas que envolvem grandes quantidades alcançam valores mais baixos. 

Leia mais: Justiça libera compra de refeições com lagosta e vinhos para STF

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São exemplos de marcas de café tradicional e extraforte: Caboclo, Seleto e Fort. Outras marcas bastante conhecidas também têm várias opções de café com as classificações "tradicional" e "extraforte" e uma ou outra variação na categoria superior. São os casos do Café do Ponto, Pilão, Melitta e 3 Corações.

Classificação

A classificação adotada pela Abic respeita um índice chamado Qualidade Global (QG), que reflete a percepção de atributos como aroma, acidez e amargor. Cafés que recebem nota até 4,5 são classificados como não recomendáveis. Os que recebem nota superior recebem selos de certificação e as seguintes descrições da Abic:

- Entre 4,5 e 5,9 estão os tradicionais e extrafortes, “comparáveis aos vinhos de mesa, com preço acessível para o consumo diário”;

- De 6 a 7,2 estão os superiores, “comparáveis aos vinhos superiores, melhores que os tradicionais e/ou extrafortes e com valor agregado”;

- Entre 7,3 e 10 estão os “gourmet”. “Café excelente, exclusivo e de alta qualidade, com sabor e aroma mais suaves por causa da seleção dos grãos e de torra controlada.

Extravagância

Órgãos públicos ouvidos pelo R7 defenderam a compra do café com selo de qualidade "superior" e citaram motivos como maior aceitação pelo público em geral

A Câmara diz que foram constatados problemas com o café tradicional, comprado até 2015, e que a mudança para a opção superior trouxe vantagens e não representou aumento de custo. 

O STJ destacou que o selo superior é uma modalidade intermediária adotada praticamente em todo o Judiciário. Afirma ainda que não há extravagância, já que não se trata do selo "gourmet", o mais elevado na classificação da Abic.

O Senado também defendeu a compra informando ter optado por um café considerado "bom", com posição intermediária na classificação. Disse ainda pagar valores abaixo do varejo na compra.

O Ministério da Saúde afirmou que está apurando informações sobre a compra.

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