PF: Organização que mandava droga para Europa tinha 'banco privado'
Investigações apontam que esquema de tráfico internacional de cocaína incluíam helicópteros escalados para trazer as cargas do Paraguai ao Brasil
Brasil|Do R7
O esquema de tráfico internacional de cocaína desmantelado nesta terça-feira (18) pela Operação Além-Mar contava com quatro organizações criminosas parceiras que dividiam a operacionalização da logística de comércio da droga.
As etapas incluíam desde o uso de helicópteros por "pilotos do tráfico" escalados para trazer as cargas do Paraguai ao Brasil até, na outra ponta, a lavagem de dinheiro por empresários que funcionavam como verdadeiros "bancos privados", segundo os investigadores.
Leia masi: PF e Interpol buscam suspeitos de tráfico internacional de drogas
A Polícia Federal no Pernambuco passou dois anos monitorando os criminosos em regime de colaboração com autoridades internacionais, a exemplo da NCA (National Crime Agency), de Londres, e revelou que o esquema seguiu operando mesmo na pandemia.
Durante a fase de investigação, os agentes apreenderam mais de dez toneladas de cocaína, prenderam suspeitos que ocupavam cargos mais baixos na hierarquia do esquema e foram identificando todos os quatro braços da operação, descritos abaixo:
1º - Estabelecido em São Paulo e responsável pela "importação" da cocaína pela fronteira com o Paraguai, transportando a droga por helicópteros até o Estado e distribuindo-a no atacado para organizações criminosas estabelecidas no Brasil e na Europa.
2º - Sediado em Campinas, recebia a cocaína para distribuição interna e exportação para Cabo Verde, na África, e Espanha, Bélgica, França e Holanda, na Europa.
3º - Estabelecido em Recife, é integrado por empresários do setor de transporte de cargas, funcionários e motoristas de caminhão cooptados e provê a logística de transporte rodoviário da droga e o armazenamento de carga até o momento de sua ocultação nos contêineres que serão embarcados para outros países.
4ª - Também é sediado em São Paulo, na região do Brás, e atua como banco paralelo, disponibilizando sua rede de contas bancárias - titularizadas por empresas fantasma, de fachada ou em nome de "laranjas" - para movimentação de recursos de terceiros, de origem ilícita, mediante controle de crédito/débito, cujas restituições se dão em espécie e a partir de TEDs, inclusive com compensação de movimentação havida no exterior (dólar-cabo).
O ponto de partida do esquema era liderado por Sérgio de Arruda Neto, o Minotauro, que está preso desde o ano passado, e consistia na importação da droga trazida do Paraguai por aeronaves abastecidas em uma fazenda localizada no município de Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Mato Grosso do Sul. O endereço foi um dos 139 vasculhados pelos agentes mais cedo.
De acordo com a PF, o transporte era feito por helicópteros como estratégia para diminuir os riscos de fiscalização. As aeronaves eram adaptadas: os bancos era retirados e davam lugar a tanques extras que aumentavam a autonomia do voo. Ainda assim, não era possível seguir viagem sem escala para reabastecer, o que era feito em Teodoro Sampaio, no interior paulista.
Quando chegava em São Paulo, a carga era transferida a caminhões já preparados para ocultar a droga, que seguiam para depósitos portuários. O deslocamento ficava a cargo de grandes empresários do setor de transporte. Pelo menos cinco foram presos hoje pela PF.
Na sequência, o carregamento era escondido em contêineres e embarcado em navios de carga para outros países. O lucro era lavado por uma organização criminosa parceira composta por empresários de regiões famosas de comércio na capital paulista, como o Brás e a rua 25 de março, ambos no centro da cidade.
A partir do detalhamento do esquema, a PF deflagrou hoje a Operação Além-Mar, que prendeu 33 pessoas, cumpriu mandados de busca e apreensão em 139 endereços e apreendeu veículos (55), helicópteros (3), aeronaves (2), embarcações (3), HDs (52), celulares (74), e R$361 mil em espécie.
"A mera apreensão de drogas, por si só, não vai impedir que essas organizações continuem atuando. A partir do momento em que você atua nessa descapitalização, ou seja, você rastreia, congela, bloqueia, confisca e aliena os bens dessas organizações efetivamente você vai estar impedindo que essas quadrilhas continuem a perpetrar crimes", informou a PF, que usou como critério de investigação a evolução patrimonial dos bens dos envolvidos.