Polícia investiga denúncias de abuso sexual contra meninas negras de comunidade quilombola em Goiás
Investigação chegou ao governo federal, que criou um grupo de trabalho envolvendo três ministérios para apurar
Brasil|Sandro Guidalli, Do R7

O governo federal tomou conhecimento, nesta quinta-feira (16), da suposta ocorrência de trabalho infantil e exploração sexual contra crianças e jovens negras em Cavalcante (GO), cidade a 310 km de Brasília e localizada na Chapada dos Veadeiros.
Os relatos dos abusos, que estão sendo investigados pela Polícia Civil, foram transmitidos à Seppir (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República) pelo presidente da Associação do Quilombo Kalunga de Cavalcante (GO), Vilmar Souza Costa. O assunto veio à tona há dez dias e a polícia local apura o possível envolvimento de vereadores e ex-vereadores do município em casos de assédio sexual cometidos contra crianças e adolescentes negras.
Segundo o presidente da associação, que presta auxílio às famílias remanescentes de ex-escravos na região, representantes da Seppir prometeram visitar a comunidade quilombola entre os dias 23 e 25 de abril. Ele pediu a instalação de escolas dentro da comunidade que reúne aproximadamente 7.000 pessoas.
Por causa da inexistência delas no interior da comunidade, distante 140 km da sede do município, crianças e adolescentes são obrigados a viver em casas de família onde supostamente ocorrem os abusos. Elas trabalhariam em troca de alimento e estariam em situação vulnerável por viverem longe dos pais.
Ao R7, o ouvidor nacional da Igualdade Racial, Carlos Alberto Silva, disse que os relatos são estarrecedores porque a prática do abuso seria constante.
— É preocupante a situação dessas meninas porque além de trabalharem sem receber salário, estão expostas à violência sexual.
Ele informou que uma comissão composta por representantes da Seppir, da Secretaria de Direitos Humanos e da Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República, além de membros da Fundação Palmares, vai se encontrar com o secretário de Segurança Pública de Goiás e com autoridades do Poder Judiciário goiano na próxima quinta-feira (23) no município. Eles discutirão o andamento das investigações e avaliarão o que pode ser feito de imediato para diminuir os riscos das adolescentes kalungas que vivem em casas de família na cidade.
De acordo com o Conselho Tutelar de Cavalcante, denúncias contra membros da comunidade kalunga são frequentes.
Segundo apurou a TV Record junto ao delegado Diogo Luiz Barreira, responsável pela investigação na Polícia Civil, o inquérito dessas denúncias surgiu no final de 2014, a partir de apontamento do Ministério Público de Goiás. O delegado também informou que Cavalcante registra, em média, cinco inquéritos similares por ano.
