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Posto que deu nome à Lava Jato funciona normalmente em Brasília mesmo com o dono preso há dois anos

Foi deste posto que o Ministério Público Federal descobriu o maior esquema de corrupção do País

Brasil|Mariana Londres, do R7, em Brasília

Apesar do dono estar preso há dois anos, o Posto da Torre continua funcionando normalmente no centro de Brasília
Apesar do dono estar preso há dois anos, o Posto da Torre continua funcionando normalmente no centro de Brasília

Quem chega ao Posto da Torre, na região central de Brasília, vê apenas um típico posto de combustíveis movimentado de uma grande cidade: funcionários bem treinados, serviço eficiente, promoções, loja de conveniências. Mas foi a partir dos negócios que aconteciam neste local, negócios legais e ilegais, que o Ministério Público Federal e a Justiça brasileira desvendaram o maior esquema de corrupção do País, envolvendo a Petrobras, políticos, empresários e doleiros. Foi este o posto que batizou a Operação Lava Jato, que completa dois anos nesta quinta-feira (17).

Localizado a apenas três quilômetros do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e da suprema corte brasileira o local era, na verdade, de acordo com o Ministério Público Federal, o endereço de uma complexa rede de contravenções.

Ao visitar o local nessa semana, a reportagem do R7 encontrou o posto em pleno funcionamento. O complexo é administrado por Kátia Chater Nasr desde 17 de março de 2014, quando o seu irmão, Carlos Habib Chater, foi preso pela Lava Jato. Apesar de estar no local, ela não quis atender à reportagem. Carlos Habib Chater continua preso em Curitiba e não fez delação premiada. Foi condenado a cinco anos e seis meses de prisão por tráfico de drogas, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Kátia é investigada por ter sido sócia da casa de câmbio que funcionava no local, a Valortour.


O R7 conversou com funcionários. Os que aparentam saber da operação desconversaram. A gerente trabalha no local há poucos meses e garantiu nunca ter ouvido falar do envolvimento do negócio com a Lava Jato.

A lavanderia que batizou a Operação Lava Jato está aberta
A lavanderia que batizou a Operação Lava Jato está aberta

Ironicamente, o estabelecimento não tem e nem nunca teve um Lava Jato. O nome decorre de uma lavanderia de roupas que ainda funciona no local, um negócio lícito usado como fachada para um esquema de lavagem de dinheiro. Em cima da lavanderia ficava a Valortour, casa de câmbio que fazia operações legais e ilegais do câmbio negro, segundo as investigações.


Oito meses antes do início da Operação Lava Jato, promotores do Paraná começaram a monitorar, com autorização da Justiça, conversas telefônicas do dono do Posto da Torre, o libanês naturalizado brasileiro Carlos Habib Chater. A investigação era na verdade sobre tráfico de drogas pois havia indícios de envolvimento de Chater em uma grande apreensão de drogas no interior de São Paulo: um caminhão com quase 700 kg de cocaína.

Pelas conversas de Chater, o Ministério Público Federal identificou uma rede de lavagem de dinheiro comanda por quatro doleiros, que tinham atuações interligadas. As investigações foram batizadas separadamente. A investigação sobre Chater foi chamada de Lava Jato e o nome acabou sendo usado mais tarde para todos os casos.


As outras redes de doleiros eram comandadas por Nelma Kodama, investigada inicialmente no âmbito da Operação Dolce Vita; Raul Srour (Operação Casa Blanca) e a rede do doleiro que acabou ficando mais conhecido, Alberto Youssef (Operação Bidone), já que foi a sua delação que levou a Justiça do Paraná e o MPF a desmembrar todo o esquema de propina e desvio de dinheiro da Petrobras.

Se um posto de gasolina foi a ponta do iceberg da Lava Jato, foi um carro, um Land Rover, que levou os investigadores do Ministério Público até a Petrobras. Ao monitorar as conversas dos doleiros, o MPF descobriu que Alberto Yousseff havia doado um Land Rover Evoque para o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Como ‘não existe almoço grátis’ pareceu óbvio aos investigadores que a doação encobria algum crime.

Além de loja de conveniências e lavanderia, o posto tem uma lanchonete. A casa de câmbio foi fechada
Além de loja de conveniências e lavanderia, o posto tem uma lanchonete. A casa de câmbio foi fechada

Em meio a frentistas treinados e uniformizados e serviço impecável do posto funcionava no local um verdadeiro ‘caixa eletrônico’, onde políticos do Congresso Nacional abasteciam não apenas seus carros oficiais, mas os seus cofres com dinheiro de propina que saía da Petrobras.

Assim como Youssef, que era chamado de ‘primo’ na quadrilha, o dono do Posto da Torre, Carlos Chater, é libanês. Chegou pequeno a Brasília junto com os pais e dois irmãos. Kátia, a atual administradora do posto, é a mais velha. Teve outros dois irmãos nascidos na capital federal.

Depois de três décadas de operação de câmbio, de acordo com as investigações ele era especialista em dólar-cabo, transferências financeiras internacionais sem registro no Banco Central, comprou o posto dos herdeiros do tio Aziz Chater, falecido em 2000. Com a ajuda do dinheiro ilegal, transformou o posto de apenas seis bombas em um complexo comercial de 16 bombas e faturamento mensal de R$ 4 milhões. 

De acordo com Alberto Youssef em depoimento que faz parte da delação, Chater era um 'doleiro à moda antiga', que não tinha problema em lavar dinheiro do tráfico de drogas, o que Youssef disse não fazer. Segundo Youssef Chater lavava dinheiro de qualquer origem. 

Em depoimento à Justiça, Chater nega ter atuado como doleiro e ter entregue dinheiro a políticos. 

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