Pressão do G7 por causa das queimadas pode gerar sanções
Para especialistas em relações internacionais ouvidos pelo R7, a política ambiental do governo pode ter consequências em acordos comerciais
Brasil|Ana Vinhas e Gabriel Croquer*, do R7
Após o presidente da França,Emmanuel Macron, convocar reunião do G7, grupo dos países mais ricos, para reunião emergencial sobre os incêndios que atingem a Amazônia, o Brasil deverá enfrentar uma grande pressão internacional. Além de constrangimento, segundo especialistas em relações internacionais, o país pode receber sanções e ter acordos comerciais prejudicados.
De 1.º de janeiro até terça-feira (20), foram contabilizados 74.155 focos de incêndio, alta de 84% ante o mesmo período de 2018, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Um pouco mais da metade (52,6%) desses focos têm ocorrido na Amazônia.
"O G7 não é um grupo com papel deliberativo num caso como este. Mas são potências internacionais que fazem pressão política por uma agenda ambientalista, o que gera constrangimento internacional", afirma o professor de política e relações internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Rodrigo Fernando Gallo.
Essa pressão pode resultar em sanções econômicas ou eventualmente prejuízos até para o comércio internacional. "Isso gradativamente faz com que o Brasil seja forçado a tomar uma atitude. A maior arma do G7 é a pressão internacional", explica o professor.
Leia também
Os acordos comerciais, como o do Mercosul com a União Europeia, por exemplo, também podem ser prejudicados. "A Amazônia é considerada Partrimônio da Humanidade. Quando negligenciamos o cuidado com a floresta, a gente sinaliza para o resto do mundo que não estamos cuidando de um patrimônio. Tratar a Amazônia com desdém é uma péssima sinalização do Brasil para o sistema internacional."
Além da desconfiança causada pela política ambiental do Brasil, as declarações do presidente Jair Bolsonaro, sobre supeita sem provas de incêndio criminoso por parte de ONGs, também tiveram grande repercussão internacional.
Para o professor, Arnaldo Francisco Cardoso, de Relações Internacionais da Universidade Mackenzie, as falas do presidente "não contribuem com a evolução de uma situação delicada, que já vem sendo tratada há muitos anos".
Ele ressalta o protagonismo do Brasil em acordos internacionais acerca da preservação ambiental. “Um país ao desrespeitar compromissos internacionais, se torna pária na comunidade internacional, pois rompe com o princípio da confiança”, afirma Cardoso.
O Brasil tem tido um papel efetivo na agenda do meio ambiente. Participou em 1972 da primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo e sediou a Eco-92 e a Rio+20.
"Nós construímos nossa política externa com um pé na agenda ambiental. Nós estamos negligenciando essa agenda agora. Depois de investir desde a década de 70, a gente não pode perder essa tradição. Não podemos dar ao luxo de perder um espaço que conquistamos no sistema internacional", conclui Rodrigo Fernando Gallo.
*Estagiário do R7, sob supervisão de Ana Vinhas