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‘Se existisse um mandante, já teria aparecido’, diz advogado de Adélio

Zanone acredita que agressor de Bolsonaro pode ficar livre em 2021. 'Com um laudo favorável, vou até as cortes internacionais para tirar ele da cadeia'

Brasil|Marcos Rogério Lopes, do R7

Zanone Filho, advogado de Adélio
Zanone Filho, advogado de Adélio

O advogado de Adélio Bispo de Oliveira, Zanone Manuel de Oliveira Júnior, afirma que não há mais nada para ser descoberto sobre o atentado a faca ao então candidato Jair Bolsonaro, que nesta sexta-feira (6) completa um ano. Para ele, a investigação e as “teorias da conspiração” que negam que o agressor agiu sozinho só servem para a vitimização do atual presidente. “A Polícia Federal (PF) ficou com as minhas informações um bom tempo e não achou coisa alguma. A verdade pode não ser tão interessante, mas o que aconteceu foi um ato de demência, de alguém que estava fora de si”, declarou em entrevista exclusiva ao R7.

O delegado da PF, Rodrigo Morais, pediu no início deste mês mais 90 dias à Justiça para encerrar o inquérito que investiga quem pagou os honorários de Zanone. “Convém para o Bolsonaro e seus defensores colocarem o presidente como alvo de uma grande conspiração, de uma armação de grupos poderosos. Mas a verdade é que nada disso tem fundamento. O Adélio sempre foi um doente solitário.”

Adélio Bispo foi preso em flagrante na Penitenciária Federal de Campo Grande no dia 6 de setembro de 2018 logo após o atentado a faca contra Bolsonaro, em Juiz de Fora (MG), durante a campanha eleitoral. Em junho deste ano, a Justiça de Minas Gerais aceitou a tese da defesa de que transtornos mentais o levaram a cometer o ato e o considerou inimputável.

O juiz da 3ª Vara Federal de Juiz de Fora, Bruno Souza Savino, decidiu


ainda que a internação “deverá perdurar por prazo indeterminado e enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade”. E que novos exames deveriam ser feitos em, no mínimo, três anos.

"Como não recorri%2C agora ele é maluco até morrer. Vai ficar em um manicômio judicial%2C uma prisão perpétua"

(Jair Bolsonaro)

Pode ser solto em 2021


A junta de advogados de Bolsonaro abriu mão do recurso e o caso foi encerrado com a absolvição do agressor. O presidente na ocasião alegou que, dessa forma, a punição acabara sendo maior. “Como não recorri, agora ele é maluco até morrer. Vai ficar em um manicômio judicial, uma prisão perpétua.”

O professor de Direito Penal da Universidade de São Paulo (USP), David Teixeira de Azevedo, explica que Adélio respondeu pelo crime de segurança nacional, previsto na lei 7.170, de 1983, com penas de 3 a 10 anos de reclusão. Por “inconformismo político”, ele se enquadrou no artigo 20, mas, de acordo com a decisão do juiz, também incorreu no parágrafo único, que dobra a pena em caso de lesão corporal grave à vítima.


Porém, por ter sido considerado incapaz de discernir o que estava fazendo, a pena (de 6 a 20 anos, portanto) só vale para determinar o tempo máximo que pode ficar sem liberdade. “A doutrina e a jurisprudência definiram um limite para situações assim. Para não aprovar o encarceramento até a morte, convencionou-se que o máximo permitido é o maior período que a pessoa poderia ficar presa se tivesse sido condenada”, esclareceu Teixeira de Azevedo. 

A aposta de Zanone é que o servente de pedreiro pode ser solto em 2021, desde que novos laudos atestem sua aptidão para viver fora da penitenciária. Para isso, precisa primeiro aceitar o tratamento. “Eu o encontrei no mês passado e o achei disposto. Está ligeiramente mais magro, mas nada exagerado”, disse. Nos primeiros meses em Campo Grande, o interno fez greve de fome e não aceitou o trabalho do psiquiatra.

Adélio foi preso em flagrante há um ano
Adélio foi preso em flagrante há um ano

“Na primeira cadeia de uma pessoa, demora de seis meses a um ano para a ficha cair, a autoestima e o lado psicológico ficam muito abalados e a pessoa não sabe lidar com essa mudança repentina em sua vida”, analisou o advogado.

“Se tudo correr bem, em três anos o Adélio já pode sair, vi mais de 40 vezes na minha carreira pessoas como ele serem soltas”, declarou o defensor. “Se fizer o tratamento, vou mandar psiquiatra lá e, com um laudo atestando que pode ir para a rua, vou até as cortes internacionais para tirar ele da cadeia.”

Ele acrescentou que, após o terceiro ano, as avaliações passam a ser feitas mensalmente. “O juiz nomeia uma banca e se os médicos disserem que não ele tem periculosidade, sai imediatamente.”

Admite, entretanto, que a pressão do governo pode impedir a saída, mesmo com autorização psiquiátrica. "Acho que enquanto o Bolsonaro estiver no cargo vai ser bem mais difícil ele ficar livre, mas com a lei do meu lado ninguém me segura."

“Vi mais de 40 vezes na minha carreira pessoas como ele serem soltas"

(Zanone Filho)

David Teixeira de Azevedo afirma que, pela legislação, após três anos, os exames podem ser feitos anualmente. “O advogado pode pedir ao juiz de execução avaliações mensais, mas não acho que exista essa necessidade”, opina. O professor da USP vê poucas chances, pelas atitudes que têm sido noticiadas de Adélio, de que tão cedo ele seja considerado saudável. “Agora ele se diz perseguido pela maçonaria, li esses dias. A tendência em situações assim é que os laudos ano a ano mostrem que os transtornos continuam, até que, bem lá na frente, admita-se que o sujeito possa voltar ao convívio social.”

Solidão

Zanone observa que seu cliente está confuso, passa a maior parte do tempo falando coisas desconexas e parece viver uma realidade paralela. “Ele é um doente solitário. Fica restrito ao mundinho dele, falando de Deus o tempo todo e repetindo frases sem sentido. O Adélio não analisa e vê os fatos como nós vislumbramos.”

Vive em uma cela individual, é bem tratado, mas não é procurado por familiares ou amigos. “A família é de Minas Gerais e muito pobre. Ninguém tem condição de ir até Campo Grande, a passagem é cara demais”, justificou.

O advogado falou ao R7 que sabia da carta que Adélio enviou a familiares, e foi divulgada quarta-feira (4) pelo jornal Folha de S.Paulo. Nela, o autor da facada afirmou que não tinha contato com seus defensores e que tentava, por meio da Defensoria Pública da União, transferência para o presídio de Montes Claros.

Zanone é contra a transferência por uma questão de segurança. “Eu quero ele num presídio federal porque não confio em policiais militares. O próprio juiz ao dar a sentença expressou essa opinião, de que fora de Campo Grande ele estaria em perigo”, declarou.

Segundo ele, um primo e uma ex-namorada de Adélio entraram em contato com a defesa logo após o crime, mas conversaram rapidamente e não voltaram a procurá-lo.

Investigação

O advogado acredita estar sendo monitorado 24 horas e, até por isso, afirma que não há mais nada para descobrirem. “Eu deixei meu celular com a Polícia Federal, foi feito o espelhamento de todas as minhas informações telefônicas e não acharam nada que incrimine ninguém. Se tivesse algo você não acha que já teria aparecido?”, questionou.

O escritório de advocacia de Zanone foi alvo de busca e apreensão da PF em 21 de dezembro do ano passado. Foram recolhidos documentos e aparelhos eletrônicos. No mês seguinte, a OAB de Minas Gerais impetrou um mandado de segurança ao TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) pedindo a suspensão da análise dos materiais e foi atendida em março, por meio de liminar do desembargador Néviton Guedes.

O professor David Teixeira de Azevedo concorda com Zanone nesse ponto. Para ele, se algo tivesse sido encontrado já teria aparecido. “A PF teria dado um jeito de esquentar a informação. Imagine se existisse lá um contato do financiador e fosse alguém importante? Certamente apareceria uma carta anônima revelando tudo ou confirmariam isso por alguma outra via.”

Zanone repetiu algumas vezes que tudo o que deveria ter dito já disse aos investigadores, com a omissão apenas do nome de quem pagou pelos seus serviços, segundo ele alguém que conhecia o futuro responsável pelo atentado de Montes Claros e se solidarizou com sua situação após o ataque. “Quem me contatou foi alguém que o viu nos cultos, porque o Adélio era muito religioso e estava sempre em igrejas da região”, afirmou. “Essa pessoa, inclusive, acertou comigo o valor de R$ 25 mil, me pagou os R$ 5 mil iniciais e, imagino por causa da repercussão que tomou o caso, desapareceu e não quitou o resto. Mas como me pediu anonimato, não posso revelar.”

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“O que não falta é teoria, já falaram que tem partido político, grupo nazista e até o talebã por trás do pagamento. Ouvi que era o PT, o PCC, esquema internacional com milhões de dólares para eliminar o presidente. Se fosse verdade, podiam me dizer onde está essa fortuna, porque estou precisando para pagar meus funcionários”, finalizou.

Veja outros trechos da entrevista de Zanone Filho:

R7 - É verdade que Adélio afirmou em depoimento recente à Polícia Federal que assim que sair da cadeia vai matar Bolsonaro e o ex-presidente Michel Temer?

Zanone - Sim, é 100% verdade, mas isso só mostra o quanto ele está mal e precisa ser tratado. Não mede as consequência do que diz e nem o peso de suas declarações. Está fora de si.

Documentário mostraria que ele não agiu sozinho
Documentário mostraria que ele não agiu sozinho

R7 - Você viu o documentário 'A Facada do Mito', que mostraria evidências de que Adélio não agiu sozinho?

Zanone - Vi sim. Olha, se não tivesse testemunhas dizendo que a faca estava molhada de sangue, eu até poderia acreditar naquilo tudo. Se todo mundo está mentindo, se foi armado, foi muito bem armado. O que tenho a dizer desse filme é o seguinte: se realmente o Bolsonaro armou isso tudo para se eleger, se coordenou toda a cena em Juiz de Fora e simulou até o tratamento para enganar todo mundo, ele é um mito mesmo, é um gênio maior que qualquer estadista do planeta.

R7 - É desgastante saber que está sendo investigado e que colocam em dúvida todas as suas declarações?

Zanone - Tudo o que faço há um ano está sendo monitorado. Essa nossa conversa com certeza está sendo gravada. Alô, pessoal da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), vocês estão bem? Toda minha família está grampeada, claro que sim. Troco de celular todo mês para evitar os grampos, mas sei que não adianta. De qualquer forma, não há nada para encontrar. Já inventaram muita coisa, já ouvi teorias absurdas até de repórter, mas é o que resta para quem quer uma grande história, afinal a realidade é simples: nunca houve ninguém por trás desse atentado.

R7 - Depois de tudo o que aconteceu nesse caso e após a pressão que você sofreu como advogado, se pudesse voltar no tempo aceitaria defender Adélio novamente?

Zanone - Olha, aí eu preciso pensar um pouco. Por causa desse caso eu perdi muita causa, essa defesa me tomou muito tempo, me tirou o foco dos meus livros, me tirou das palestras. Sem contar a questão psicológica, eu convivi com gente da minha equipe que estava com receio do que ia acontecer. Meu escritório em Minas sempre bombou, sempre fui um professor considerado, meu nome é conhecido e sou um dos mais procurados em casos que envolvem juro, mas com essa investigação talvez eu tenha sofrido um sério desgaste.

R7 - Você sofreu muitos ataques por ter entrado nesse caso? 

Zanone - Sim, mas mais no começo, logo após o atentado, me xingavam muito, principalmente em redes sociais e na rua. Xingaram muito a minha mãe.

R7 - Teme ficar marcado por essas, ditas por você, teorias da conspiração. Tem receio de sair desse caso como um advogado considerado financiado por grupos obscuros que tramaram a morte do presidente?

Zanone - Não acredito nisso. Na minha classe, entre os advogados, todos sabem que fiz o certo, busquei o melhor para o meu cliente. Eu torço para que fique claro que não há nenhuma conspiração nessa história e que a gente vire essa página. Tenho gente na minha equipe que votou no Bolsonaro e torço para o presidente deixar esse assunto para trás e melhorar nossa economia.

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