O prédio invadido e que foi atingido por um incêndio seguido de um desabamento, em São Paulo, expõe um problema persistente do governo federal: a má administração de imóveis públicos. O edifício Wilton Paes de Almeida pertencia à União e estava abandonado há mais de uma década. Acabou ocupado por integrantes de movimentos de luta por moradia. A União tem 2.937 edifícios em todo o país, sendo que 179 deles estão sem uso. Ao todo, o governo federal é dono de 655 mil propriedades, que incluem terrenos da Marinha, galpões, prédios que abrigam hospitais e universidades, entre outros. Boa parte dos prédios públicos serve para órgãos como Receita Federal, Procuradoria-Geral da República, Previdência Social etc. "A União é a maior e a pior imobiliária que existe", avalia o fundador e secretário-geral da Associação Contas Abertas, Gil Castello Branco, ressaltando que mesmo com tantos edifícios, o governo precisa alugar outros para abrigar os órgãos públicos. Anualmente, o Executivo federal gasta cerca de R$ 1,6 bilhão com alugueis, enquanto tem como receita dos imóveis próprios alugados para terceiros apenas R$ 800 milhões. O principal motivo de a União não fazer uso e nem conseguir vender os imóveis que possui são as más condições de conservação, segundo Castello Branco. "Muitos desses imóveis se encontram em estado precário, desvalorizados. Não é fácil também imaginar que a venda fosse algo muito simples", observa. No entendimento dele, o problema dos imóveis do governo federal não deveria ter chegado a tal ponto, mas a própria SPU (Secretaria do Patrimônio da União) não teria condições de administrar o grande volume de propriedades, sendo frequentemente aparelhada politicamente. "Basta ver quem é o superintendente regional da SPU em São Paulo, é o [ex-deputado federal] Robson Tuma", acrescenta. A SPU informou em nota que "está trabalhando no recadastramento de todos os imóveis inativos da União e irá implementar o respectivo plano para o seu aproveitamento". O R7 questionou a secretaria sobre quantos prédios estão invadidos, mas o órgão respondeu. O edifício Wilton Paes de Almeida foi construído nos anos 60 e tido como um dos mais modernos da época. Com 24 andares e fachada de vidro, foi um dos primeiros a ter sistema de ar-condicionado embutido. Sede da Companhia Comercial Vidros do Brasil, o prédio foi tomado pela União por causa de dívidas. De 1979 a 2002 funcionou lá a Superintendência da Polícia Federal em São Paulo. Porém, após a ida da PF para o bairro da Lapa, o prédio nunca mais foi totalmente ocupado. Uma agência do INSS chegou a funcionar no térreo, até 2009, mas foi fechada por causa da infestação de mosquitos Aedes aegypti. Reportagem do jornal Folha de S.Paulo publicada em janeiro de 2017 mostra que o governo Dilma Rousseff tentou leiloar o edifício por R$ 21,5 milhões, mas não houve interessados. O prédio no centro de São Paulo, onde viviam, 146 famílias, foi abaixo na madrugada de 1º de maio, após um incêndio que ainda não teve a causa esclarecida. Os trabalhos de busca por sobreviventes continuavam nesta quinta-feira (3).