Veja como é o trabalho de limpeza nas praias com óleo no Nordeste
Reportagem do R7 acompanhou por um dia inteiro o processo de coleta e remoções do petróleo em duas praias do litoral nordestino
Brasil|Márcio Neves, enviado especial do R7 a Barreiros (PE)

Usando raspadeiras, peneiras e até as próprias mãos, voluntários, homens das forças armadas e funcionários públicos e de empresas locais trabalham para limpar as praias de Mamucabinhas e Boca da Barra, no litoral pernambucano.
Os primeiros sinais do óleo que atinge o Nordeste brasileiro chegaram à região há 8 dias e, desde então, a força-tarefa se espalha pelos 5 km das praias afetadas. A reportagem do R7 acompanhou o trabalho durante 12 horas.
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"Não é fácil. O óleo brilha com esse sol, mas está espalhado na praia inteira, vamos indo de grão em grão", diz o voluntário e eletricista Jailton Silva, com as luvas grudentas do material que retirou durante 5 horas.
O material se espalha na região em manchas que variam de 1 a 15 cm e param na areira conforme o movimento do mar. Em alguns pontos, se misturam a algas e deixam a água suja.
Nos trechos onde a maré deixou o material, o óleo fica encrustado na areia e vai sendo enterrado pela força do mar, dificultando mais ainda o trabalho. Próximo aos mangues e na foz dos rios, o fluxo da maré também arrasta o petróleo para dentro e coloca em risco a fauna local.
Improviso de um lado...

O acesso à praia de Mamucabinhas, em Barreiros (PE), é limitado e difícil: são cerca de 11 km de estrada de terra, passando por uma fazenda de coqueiros e propriedades particulares.
Auxiliados por voluntários, funcionários da prefeitura improvisavam materiais de proteção para recolher o óleo. Com pás, luvas de coleta de lixo e botas simples, debaixo de sol a uma temperatura de, no mínimo, 38º, eles caminhavam ao longo da praia recolhendo o óleo.
Algumas pessoas se arriscavam sem luvas ou botas, tentando retirar o material que estava depositado na foz de um rio que separa a cidade do munícipio vizinho de Tamandaré. O contato direto com a substância é contraindicado e alguns voluntários relataram náusea, tontura e alergia.
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Um trator da prefeitura ajuda a reunir o material, que é depositado em uma vala improvisada até que seja levado para um destino final seguro.
O mesmo trator fazia o transporte das equipes até uma casa a cerca de 2 km do ponto de coleta na praia e que se tornou ponto de descanso, com comida e água.
...grande estrutura do outro

Já na praia da Boca da Barra, em Tamandaré (PE), com acesso mais fácil e próximo de casas e condomínios de veraneio, a poucos minutos do centro da cidade, as equipes ganharam reforço de contratados pela Petrobras, com uma grande estrutura.
A Defesa Civil montou barracas de apoio e caminhonetes faziam o transporte das pessoas. Nas tendas, água, protetor solar e até algumas frutas são oferecidos.
Nesta praia, as equipes contam com roupas, luvas e botas de proteção contra contaminação por produtos químicos. O material recolhido é acondicionado em sacos e levado para um ponto de descarte com caçambas, posteriormente recolhidas e levadas para um local definido pelo governo de Pernambuco.
Reforço da Marinha e do Exército

Na tarde de sexta-feira (25), após uma visita do Secretário Estadual do Meio Ambiente de Pernambuco, José Antônio Bertotti Júnior, que ouviu pedidos de ajuda, equipes de fuzileiros navais da Marinha e de soldados do Batalhão de Polícia do Exército chegaram ao local para reforçar o trabalho de limpeza.
Os esforços se concentraram na praia, onde a estrutura estava mais precária. Para otimizar o deslocamento, um bote do Corpo de Bombeiros ajudou a levar os militares ao outro lado, atravessando a foz do rio que separa as praias de Mamucabinhas e Boca da Barra, na divisa entre Barreiros e Tamandaré.
Os cerca de 40 soldados, com luvas, botas e pás, logo se espalharam pelo local e começaram a coletar e juntar óleo e preparar o material que estava na vala improvisada para ser removido.
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Mangue e Foz
A previsão é de que, até este domingo (27), as duas praias estejam 100% limpas. Entretanto, moradores e prefeitura estão preocupados com a área de mangue e a foz do rio.
Um mergulhador vistoriou o local e apontou presença do óleo no fundo do rio. Os mangues também foram afetados, com manchas de óleo visíveis.
Outras cidades do litoral nordestino afetadas pelo material também têm a mesma preocupação e têm encontrado dificuldades no processo de limpeza. Há dúvidas sobre como fazer o trabalho de forma eficiente e, principalmente, por quanto tempo mariscos e peixes devem ser proibidos para consumo, já que muitos deles vivem e se reproduzem nestes locais.

















