Após seis horas diárias de estudo e muita vontade de mudar de vida, um interno de 18 anos da Unire (Unidade de Internação do Recanto das Emas), no Distrito Federal, passou no vestibular da UnB (Universidade de Brasília) e a partir de agosto cursará Educação Física. Com históricos de envolvimento com drogas, tráfico e em cumprimento de medida socioeducativa de nove meses após praticar um roubo, o jovem decidiu mudar os rumos de seu futuro. — Achei que era hora de começar uma nova etapa na minha vida. Pedi aos agentes que liberassem material de estudo e voltei a frequentar a escola aqui dentro. O rapaz conta que sempre morou no Cruzeiro, região administrativa do DF, e chegou a frequentar a Escola Militar de Brasília. Com planos de prestar concurso público para a Secretaria de Educação do DF quando estiver com o diploma em mãos, ele garante estar preparado para encarar esse novo desafio. Apesar da história de superação, ele não se vê como exemplo para ninguém, mas acredita que sua história pode incentivar outros colegas a seguirem por um caminho parecido. — Espero que o pessoal daqui se inspire e comece a estudar e buscar um futuro melhor. Bem longe das coisas ruins que o mundo oferece. Para o diretor da Unire, Jandir Teixeira, a participação da família foi fator determinante para o sucesso do rapaz. — Se os familiares das outros menores entenderem o papel deles, não tenho dúvida que teremos outros aprovados nos próximos vestibulares. Nossa escola oferece, aqui dentro, a mesma estrutura, professores e conteúdo das escolas da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Início das aulas O ano letivo da Universidade de Brasília começa no dia 11 de agosto. Matriculado, mas com alguns meses a cumprir na Unire, o rapaz espera por uma decisão da Vara de Execuções de Medidas Socioeducativas do DF. — Elaboramos um relatório técnico multidisciplinar no qual mostramos que se trata de um jovem com bom comportamento e pronto para voltar à sociedade, avaliou a vice-diretora da unidade Sheila Braga. Caso a liberdade do adolescente não seja deferida, ainda há a possibilidade de ele assistir às aulas acompanhado por uma equipe de atendentes de reintegração social. Assim, ele assistiria e voltaria após as aulas escoltado com os servidores da Unire.Perspectivas de mais aprovações O exemplo do jovem motivou vários colegas. Muitos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa estão solicitando a liberação de levarem materiais para estudar nos módulo. — A todos que se interessarem, nós vamos ajudar. Estamos aqui para das as condições necessárias para que eles se tornem cidadãos de bem e apoiar nos estudos faz parte desse trabalho, explicou o gerente de Segurança da Unire, Valdigne Baia. Responsável pela escola da unidade, a professora Regina Célia Nunes descreve como é difícil o cotidiano nessas salas de aula tão peculiares. Ela destaca a necessidade de práticas e planejamentos diferenciados, apesar de nada ser alterado nos conteúdos programáticos. Porém apesar de toda dificuldade, ela espera colher novos frutos em breve. — Já têm estudantes se capacitando para vestibulares, concursos públicos e, mais do que isso, jovens recuperando o interesse pelos estudos.