Asfixia é a terceira maior causa de morte de criança no Brasil
Após menino de 10 anos morrer ao engolir um balão, especialistas alertam para importância da prevenção e dos primeiros socorros
Brasília|Priscila Mendes, do R7, em Brasília
Mais de 3.300 crianças morrem e outras 112 mil são internadas em estado grave por ano em decorrência de acidentes ou lesões não intencionais, segundo dados do Ministério da Saúde. E a asfixia aparece entre a terceira causa de morte entre crianças com até 14 anos, depois dos acidentes de trânsito e afogamento. Entre os bebês de até 1 ano, esse já é o principal motivo dos óbitos.
Leia também
Mortes e acidentes que poderiam ser evitados com ações de prevenção e primeiros socorros, alertam especialistas. Manobras de salvamento poderiam ter ajudado Pedro Henrique Silva, 10 anos. Ele morreu após engolir um balão de festa em Luziânia (GO), no último sábado (12).
"Ele correu na sala já abrindo os braços, pedindo socorro. Só que a amiga da mãe dele achou que ele estava brincando", conta Cláudio Gomes, cunhado da mãe da criança. Pedro desmaiou e chegou a ser levado para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Jardim Ingá, mas não resistiu e morreu no local.
"Em casos de asfixia e sufocamento, é preciso saber agir rapidamente e da maneira correta. Por isso, o ideal é que todos realizassem o Curso de Suporte Básico de Vida. Isso salvaria muitas vidas", ressalta Renata Dejtiar Waksman, médica do Departamento Científico de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria.
A médica explica que a asfixia é a obstrução das vias respiratórias. Isso impede a passagem de ar, o que pode ser fatal se ocasionar a falta de oxigenação e ventilação no cérebro. "A asfixia mata em 4 a 5 minutos e, se a criança sobreviver, poderá ficar com sequelas neurológicas graves", diz.
Lei Lucas
Muitas pessoas desconhecem, mas o caso de Lucas Begalli, 10 anos, levou ensinamentos e mais proteção aos ambientes escolares. Em 2017, ele morreu engasgado com o cachorro-quente servido na hora do lanche durante uma excursão da escola. O menino teve uma asfixia mecânica em questão de minutos.
"Ninguém sabia fazer manobras de primeiros socorros na época e isso poderia ter ajudado a reverter a situação. Ele ficou em parada cardiorrespiratória por 18 minutos até chegar o socorro, foi reanimado, mas por falta de oxigenação, teve morte cerebral", conta a advogada Alessandra. Begalli, mãe de Lucas.
A fatalidade envolvendo o único filho mudou a vida da advogada, que lutou pela criação da Lei Federal 13.722/18, conhecida como Lei Lucas. A medida torna obrigatória a aplicação de cursos que preparem os professores e funcionários, de escolas públicas e privadas de ensino infantil e básico, no atendimento de primeiros socorros ao estudantes.
"As pessoas precisam saber que a lei existe para que possam cobrar seu cumprimento. Pelo menos parte dos profissionais que trabalham com crianças devem receber treinamento anualmente para evitar tragédias", ressalta Alessandra, que hoje também é co-fundadora do Movimento Vai Lucas.