Bebê nasce em banheiro de hospital público no Distrito Federal
Caso aconteceu no Hospital Regional de Samambaia na manhã desta segunda (29); o pai ainda ajudou no parto
Brasília|Luiz Calcagno, do R7, em Brasília
Um bebê nasceu no banheiro do Hospital Regional de Samambaia na manhã desta segunda (29). O pai da criança, que pediu para não ser identificado, afirma que os profissionais da unidade de saúde recusaram atendimento. Ele ajudou no parto até que uma técnica de enfermagem entrasse no recinto e assumisse a função. “Foi um descaso, uma negligência, uma omissão de socorro. Eu não estava preparado para levar minha mulher para o hospital e eu fazer o parto”, reclamou o homem. O bebê, de pouco mais de 2 kg, passa bem.
Em conversa com o R7, o pai contou que a mulher começou a sentir as contrações às 8h. Ela ligou para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e a atendente orientou o casal a ir para o hospital. Na unidade, o casal fez a ficha de entrada e foi encaminhado à triagem. Nesse momento, pela primeira vez, ele insistiu com os profissionais que a situação era urgente. “A mulher disse que tinha que esperar ser chamada. Eu disse ‘olha como ela está aqui’. Ela acabou atendendo”, recordou.
Na triagem, o profissional que atendeu o casal checou os sinais vitais da mulher. A sensação, segundo o pai, era que ninguém acreditava quando eles falavam que ela estava muito próxima de dar à luz. “Olharam os sinais vitais, mas ninguém olhou se meu bebê estava vindo. Deram uma fita laranja e uma branca e encaminharam para o primeiro andar. Eu pedi para acompanhar”, contou.
O homem chegou a subir para o andar de cima com a companheira, mas o segurança no local não permitiu que ele ficasse no local. Ele desceu, mas, do térreo, conseguia ver a mulher. Uma técnica de enfermagem saiu e as duas conversaram. Em seguida, a grávida disse que teriam que ir para outro hospital, pois os dois médicos da unidade estavam em cirurgias.
“Pedi para o segurança para subir novamente. Eu bati na porta da técnica de enfermagem, e perguntei da situação. Ela falou que o plantão estava restrito, só tinha dois médicos e não tinha previsão de atendimento. Eu disse que ninguém olhou minha companheira direito. Ninguém examinou se ela tinha condição de esperar, de esperar, de ir embora. Eu pedi uma maca e ela negou. Na hora que eu ia sair, a bolsa estourou”, recordou.
Era por volta de 9h25. O homem contou que, nesse momento, a técnica disse para a mulher entrar no banheiro que ela buscaria um avental e uma fralda. A mulher obedeceu, mas, em seguida, gritou. Ele correu e colocou as mãos entre as pernas da companheira, e sentiu a cabeça do filho.
“Foi muito rápido. Ela levantou da cadeira, e disse que ia pegar uma fralda e um avental. Ela me mandou lá pra baixo. Eu disse que agora não descia. Eu pedi, pelo menos, para ajudar a botar o avental. Ela não deixou. Aí, minha mulher gritou. Eu sabia o que ela estava passando. Eu acreditava nela. E se tivessem acreditado na gente tudo teria sido diferente”, argumentou o pai.
Quando a técnica de enfermagem entrou e pegou o lugar do homem para ajudar a grávida a ter o bebê, ele pegou o celular e começou a filmar. A técnica chamou o segurança. Intimidado, o pai ligou para o 190 e relatou o ocorrido ao atendente,. Que o orientou a procurar a Delegacia de Polícia. À reportagem, ele contou que, a todo momento, a técnica dizia para ele apagar o vídeo.
“Na hora, dá pra ver na imagem que o bebê foi separado da gente sem identificação. Eu fiquei na confusão. Eu sabia que eles tinham agido errado e tinham que me escutar. Eu e minha família fomos tratados como lixo. Chegamos às 9h, meu bebê nasceu 9h25. Dava tempo de um profissional examinar, eles negaram atendimento”, reclamou.
Por meio de nota, a Secretaria de Saúde deu uma versão diferente. Afirmou que “imediatamente a paciente foi acolhida, recepcionada pela equipe multiprofissional do hospital, classificada e informada de que - em função da escala de plantão - os dois médicos que estavam na unidade no momento estavam em procedimento”. “Assim, ela teria que aguardar”, afirma a nota do órgão.
Ainda segundo o texto, “não houve tempo hábil para internação pré-natal, visto que enquanto a técnica em enfermagem do HRSam foi chamar o médico e a paciente estava vestindo um avental cirúrgico para ser internada , a criança começou a nascer”. “O bebê foi aparado pela própria técnica de enfermagem, que finalizou o parto e conferiu os sinais vitais da criança, e ambos foram internados no HRSam, onde permanecem recebendo toda atenção e cuidado.”