Bolsonaro afirma que não há 'caixa-preta' do BNDES
Em live nesta quinta-feira (27), chefe do Executivo criticou países, como Cuba e Venezuela, que receberam aporte do banco
Brasília|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília
Após cobrar transparência em atos passados e defender investigação do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o presidente Jair Bolsonaro reconheceu, nesta quinta-feira (27), que não há "caixa-preta" e criticou países como Cuba e Venezuela.
"O Ministério Público ia bater no Congresso, eu estava lá dentro, projetos de lei que estavam emendados [ao BNDES] e aí permitiram essas operações. Então, foi tudo legal. Não houve caixa-preta. Caixa-preta foi aquele período que não podia divulgar nada", afirmou.
Durante a campanha presidencial de 2018, o então candidato havia defendido a abertura da "caixa-preta", principalmente, do BNDES, responsável por financiar algumas obras de construtoras brasileiras em outros países.
De acordo com Gustavo Montezano, presidente do BNDES, que participou da live, cerca de R$ 420 bilhões foram desviados – Bolsonaro falava em aproximadamente R$ 500 trilhões. "O TCU [Tribunal de Contas da União] declarou, em 2021, que foi aportado de forma irregular aproximadamente R$ 420 bilhões", informou.
Montezano relatou que há o ‘calote’ de R$ 3 bilhões por parte de Cuba. Bolsonaro questionou o que o país deixou como garantia em troca do aporte. O presidente do BNDES, por sua vez, respondeu que “recebíveis de venda de charuto doméstico”. “Se Cuba não pagasse, o governo brasileiro iria lá penhorar as vendas de charuto em Havana”, acrescentou.
Bolsonaro destacou que, durante governos do PT, empreiteiras doaram cerca de R$ 300 milhões para o fundo partidário. O mecanismo era permitido, na época, e foi extinto em 2014.
"Houve caso em que apareceu na minha conta R$ 200 mil, doado pelo meu partido. Eu liguei para o gabinete e perguntei a origem: originária da JBS. Eu devolvi o recurso", contou. "Nesse caso, a JBS pegou do BNDES R$ 9 bilhões e R$ 400 milhões foram para fundos partidários", complementou.
Montezano relatou que, em 2008, órgãos de controle requisitaram uma série de informações sobre os aportes oferecidos pelo BNDES, que recusou a responder. "Daí o termo caixa-preta. E, em 2016, o STF [Supremo Tribunal Federal] decidiu que tinha que liberar [as informações solicitadas] gradativamente. Hoje já está tudo disponibilizado", afirmou.
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O presidente do BNDES falou, também, que alguns empréstimos tiveram “mal-uso de recurso público, mas que foram pagos”. Segundo Montezano, o "mal-uso" está nas delações premiadas e afirmações em público e que o dinheiro emprestado foi retornado ao banco.
Depoimento de Bolsonaro
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), mandou Bolsonaro prestar depoimento na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. De acordo com a decisão do ministro, o chefe do Executivo deve ser ouvido nesta sexta-feira (28), às 14 horas. A determinação ocorreu no âmbito de um inquérito que apura se o mandatário vazou documentos sigilosos.
De acordo com o magistrado, a data e a hora foram definidas após nem o presidente nem a AGU (Advocacia-Geral da União) marcarem o depoimento, que deveria ocorrer até a sexta-feira, sendo facultado ao presidente escolher data e hora. Moraes também retirou o sigilo do processo. Durante a live, Bolsonaro não mencionou o assunto.