O presidente Jair Bolsonaro durante reunião do Brics
Valter Campanato/Agência Brasil
Depois de diversos ataques do governo Jair Bolsonaro (sem partido) à China, o presidente baixou o tom e reconheceu a atuação do país asiático no combate à Covid. Durante discurso de abertura da 13ª Cúpula do Brics, na manhã desta quinta-feira (9), Bolsonaro mencionou a cooperação da China na luta contra o coronavírus, dizendo que grande parte das vacinas aplicadas no Brasil é feita com insumos produzidos no país. Bolsonaro afirmou ainda que espera firmar acordos bilaterais com os países do grupo econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Bolsonaro participou da abertura da reunião do Palácio do Planalto, em Brasília. O evento foi realizado por vídeoconferência, com transmissão feita a partir de Nova Deli, na Índia. O país asiático ocupa a presidência do bloco em 2021.
Durante o pronunciamento, o presidente brasileiro lamentou não ter a oportunidade de encontrar pessoalmente os líderes do bloco. Lembrou da reunião realizada em Brasília, em 2019. "Aquela foi, por exemplo, a última ocasião em que me reuni pessoalmente com o presidente Xi Jinping (da China), quando discutimos temas da Parceria Estratégica Global entre nossos dois países, bem como o bom estado de nossas relações bilaterais em diversas vertentes, mais especialmente no âmbito comercial e de investimentos. Esta parceria se tem mostrado essencial para a gestão adequada da pandemia no Brasil, tendo em vista que parcela expressiva das vacinas oferecidas à população brasileira é produzida com insumos originários da China."
Atritos com a China
As declarações do presidente Bolsonaro sobre a China amenizam a relação conflituosa que o presidente e integrantes do seu governo tiveram com o país asiático desde o início da pandemia de Covid. Bolsonaro chegou a insinuar que a China teria se beneficiado financeiramente com a pandemia e que o vírus teria sido criado em laboratório. "Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu seu PIB? Não vou dizer para vocês", disse o presidente em um discurso no Palácio do Planalto em maio deste ano.
Declarações semelhantes também foram feitas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e pelo deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente. O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub chegou a ser investigado por racismo após publicar uma tirinha de gibi da Turma da Mônica ridicularizando o sotaque asiático. A postagem gerou indignação da Embaixada da China no Brasil. Após a repercussão negativa, o post foi apagado e o ex-ministro se desculpou.
Parcerias bilaterais
Ainda durante o discurso na Cúpula do Brics, Bolsonaro ressaltou a importância das ações conjuntas entre o Brasil e a Índia, dizendo que a parceria vive um excelente momento. "Diversos instrumentos assinados durante a viagem estão rendendo frutos. Nossa cooperação tem avançado, em especial nas áreas de ciência e tecnologia, energia e saúde, sobretudo no combate à pandemia de Covid-19. O comércio bilateral tem crescido, em mais um sinal da retomada de nossas economias e do potencial de nossas relações."
A parceria estratégica com a África do Sul também foi lembrada pelo chefe de Estado brasileiro, como instrumento para fortalecimento do Brics. “Nossos laços humanos e nossas similaridades tornam o diálogo fluido e natural em temas como defesa, ciência e tecnologia, meio ambiente, comércio e investimentos, entre outros”, disse.
No momento em que falou sobre as relações com a Rússia, ressaltou a excelente relação política, as ações de cooperação em ciência e tecnologia e a importância nas trocas comerciais, sobretudo no agronegócio. “Temos interesse em diversificar nossa pauta exportadora, de forma condizente com o desenvolvimento de ambas as economias e para o benefício dos nossos povos”, declarou.