Calor e frio extremos elevam risco de morte infantil no Brasil, revela estudo inédito
Pesquisa da Fiocruz, UFBA e instituições internacionais analisou 20 anos de dados

Um estudo pioneiro realizado no Brasil mostrou que o clima tem impacto direto na saúde e na sobrevivência das crianças. A pesquisa, publicada no periódico Environmental Research, analisou mais de 1 milhão de mortes de menores de 5 anos entre 2000 e 2019 e concluiu que tanto o frio quanto o calor extremos aumentam significativamente o risco de mortalidade infantil.
Bebês no período neonatal (7 a 27 dias de vida) são os mais vulneráveis ao frio, com um risco 364% maior de morte em temperaturas muito baixas. Já o calor afeta com mais intensidade as crianças entre 1 e 4 anos, com um aumento de 85% no risco de óbito em dias de calor extremo.
Em geral, o risco de morrer por causas diversas chega a ser 95% maior em dias frios e 29% maior em dias quentes do que em períodos de temperatura amena que variam de 14 °C a 21 °C, conforme a região do país.
Diferenças regionais e causas de morte
O levantamento identificou variações importantes entre as regiões brasileiras. No Sul, o frio foi responsável pelo maior aumento de mortes (117%), enquanto o Nordeste registrou os piores índices relacionados ao calor (102%).
Essas diferenças estão ligadas a fatores climáticos e também sociais. “Embora o estudo seja nacional, ele mostra desigualdades regionais que refletem o acesso desigual a saúde, infraestrutura e condições de moradia”, explica o coordenador da pesquisa, Ismael Silveira, professor do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e colaborador da Fiocruz Bahia.
Segundo ele, o Brasil é um “laboratório natural” para entender os efeitos do clima na saúde infantil. A equipe cruzou dados do SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade) com registros meteorológicos diários do BR-DWGD, o que permitiu medir com precisão o impacto das temperaturas extremas sobre as mortes de crianças.
Efeitos do calor e do frio no corpo infantil
Crianças pequenas têm dificuldade em regular a própria temperatura corporal. Por isso, o frio pode levar à hipotermia e a complicações respiratórias e metabólicas. Já o calor aumenta os riscos de desidratação, insolação e doenças infecciosas.
“Tanto o frio quanto o calor estavam associados ao aumento das mortes por doenças infecciosas, especialmente diarreia. Já as doenças respiratórias mostraram relação apenas com o calor”, afirma Silveira.
Impacto das mudanças climáticas
Apesar de o Brasil ter reduzido de forma consistente a mortalidade infantil nas últimas décadas com queda média de 4,4% ao ano desde 2000, as mudanças climáticas colocam essa conquista em risco.
“Os achados trazem evidências científicas que podem orientar políticas públicas. O clima já tem impacto mensurável na saúde infantil e é urgente investir em ações de adaptação para proteger os grupos mais vulneráveis”, conclui o pesquisador.
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