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R7 Brasília

Clínica de reabilitação é interditada por torturar pacientes no Entorno do Distrito Federal

Segundo a Secretaria de Saúde de Goiás, a clínica atuava de forma irregular e não apresentava condições mínimas de higiene 

Brasília|Thaís Moura, da Record TV e Giovana Cardoso, do R7, em Brasília

Paciente encontrado amarrado em clínica
Paciente encontrado amarrado em clínica

Uma clínica de reabilitação para dependentes químicos, situada em Luziânia, no Entorno do Distrito Federal, foi interditada nessa terça-feira (2) pela Superintendência de Vigilância em Saúde de Goiás por suspeita de submeter pacientes a maus-tratos e tortura. Segundo a Secretaria de Saúde de Goiás, a clínica atuava de forma irregular e não oferecia condições mínimas de higiene.

Um vídeo gravado no local mostra as vítimas nuas amarradas pelas mãos e pelos pés e outras dormindo no chão. Nas imagens, um paciente mostra os ferimentos na barriga, que teriam sido causados por choques elétricos. De acordo com as denúncias, pelo menos dois pacientes morreram no local, em janeiro e março deste ano.

À Record TV e ao R7, ex-pacientes e parentes das vítimas disseram que funcionários torturavam os internos com choques elétricos, alta dosagem de medicamentos, agressões e humilhações. Além disso, há relatos de funcionários que teriam facilitado a circulação de drogas no local. 

“Fiquei internado neste ano na clínica, mas saí de lá justamente por causa desses motivos, porque eu não aguentava mais assistir a tudo isso. A entrada de drogas era frequente, inclusive o coordenador geral de lá levava drogas para a clínica. Presenciei muita tortura lá dentro, já chegaram a jogar os pacientes na piscina pelados durante a madrugada”, relatou um ex-paciente.


Um dos responsáveis pela clínica afirmou, em áudios enviados à Record TV, que as imagens divulgadas na denúncia foram gravadas em outra unidade de reabilitação em Luziânia e durante a gestão anterior da clínica. “Jogaram para essa unidade esses vídeos aí, como se fosse o coordenador dessa unidade que tivesse feito isso, e não foi. Nessa unidade é sempre procurado o melhor, lógico que não conseguimos agradar a todos, mas sempre procuramos o melhor”, disse um representante da clínica, que não quis se identificar.

Questionado sobre a interdição da clínica, o funcionário informou que o local permanece fechado e que, antes da interdição, estavam “providenciando os documentos para regularização”. “Não temos casos de agressão e nem de maus-tratos na unidade Restituindo Vidas”, reforçou.


Em nota, a Secretaria de Saúde de Goiás (SES-GO) afirmou que o estabelecimento não está regularizado e que os pacientes devem ser retirados devido à falta de condição sanitária do local. De acordo com a gerente de vigilância sanitária da pasta, Eliane Rodrigues, os pacientes estavam “sofrendo algum nível de maus-tratos e insuficiência de recursos, a exemplo da alimentação insuficiente e dos dormitórios em condições precárias”.

Denúncias

Em janeiro deste ano, um homem de 36 anos morreu após ser internado na clínica. Segundo a esposa da vítima, Miriam Ferreira, ainda não se sabe a causa da morte. Ela relatou que o homem já teria chegado sem vida à unidade de saúde. "Até hoje, não sei a causa real da morte do meu marido. Dói muito, porque me sinto culpada todos os dias", relatou.


A Polícia Civil de Goiás (PCGO) investiga o estabelecimento, e a delegacia de Luziânia (GO) abriu um inquérito policial para apurar uma denúncia de supostos maus-tratos e torturas na clínica. A delegacia também apura as denúncias sobre os óbitos registrados no estabelecimento.

A Federação Nacional de Comunidades Terapêuticas (FENACT) também tomou conhecimento das denúncias e repudiou as situações descritas nas ocorrências. De acordo com a federação, o local funcionava de forma clandestina e se apresentava como uma comunidade terapêutica.

“Esse tipo de caso mancha a imagem de comunidades terapêuticas sérias, que ajudam e já ajudaram muitos homens e mulheres a se libertar de vícios. As imagens divulgadas são muito graves e representam atos criminosos. É pelo amor que os dependentes químicos aprendem, e não através da dor”, afirmou Henrique França, diretor da Fenact na região Centro-Oeste.

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