Comissão da Câmara discute reconhecimento da queimada como modalidade esportiva
Se aprovada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, proposta será analisada pelo Senado
Brasília|Hellen Leite, do R7, em Brasília
A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados pode votar nesta terça-feira (13) uma proposta que reconhece a queimada como modalidade esportiva. Caso a medida seja aprovada e convertida em lei, os praticantes poderão ter acesso a recursos e incentivos financeiros previstos em legislações, como a Lei de Incentivo ao Esporte. Hoje, a queimada já é reconhecida como esporte no Distrito Federal e em estados como Bahia e Paraíba.
Leia também
O relator da proposta na CCJ, deputado Diego Garcia (Republicanos-PR), recomendou a aprovação da matéria, que tramita em caráter terminativo na comissão. Dessa forma, se for aprovada, segue para a análise do Senado sem a necessidade de votação no plenário da Câmara.
A queimada — ou baleado — é um jogo em que duas equipes se enfrentam, cada uma ocupando um lado de uma quadra ou espaço delimitado. O objetivo é eliminar os jogadores do time adversário arremessando uma bola neles. Se a bola acertar um jogador e ele não conseguir pegá-la antes que toque o chão, ele é considerado “queimado” e deve sair do jogo, indo para uma área específica atrás da quadra do adversário.
O jogo termina quando uma equipe consegue queimar todos os jogadores do time oponente, garantindo assim a vitória.
A autora da proposta, Celina Leão (PP-DF), vice-governadora do Distrito Federal, ressalta que a queimada é um esporte coletivo popular tanto no Brasil quanto em diversos outros países. Ela afirma que o reconhecimento da queimada como modalidade esportiva traria mais investimentos para o esporte e para os atletas.
“Vai muito além de fortalecer uma prática que já é popular. Esse reconhecimento abre portas para maior apoio e investimento na modalidade, incluindo melhor infraestrutura e programas de incentivo para jovens atletas. A queimada, além de ser um esporte acessível e inclusivo, tem um valor cultural e educacional significativo, promovendo o trabalho em equipe e a estratégia”, afirma.
Na justificativa da proposta, Celina destaca que a prática da queimada exige poucos recursos financeiros, o que facilita sua incorporação em escolas e comunidades. Isso reforça a importância do esporte para o bem-estar e como um direito garantido pela Constituição.
Prática da modalidade
Jéssica Martins, líder e coordenadora geral do time Felinas DF, explica que os atletas de queimada no Distrito Federal alcançaram um novo patamar desde que a modalidade foi reconhecida como esporte na capital federal, em 2020.
“Acredito que falta mais informação para que todos entendam o quão longe podemos chegar com a lei sancionada. Aqui no DF, com a sanção da lei distrital, foi possível que os times se tornassem associações e instituições sem fins lucrativos, facilitando o patrocínio por parte de empresas que precisam declarar suas contribuições, o que impulsionou o esporte. Além disso, há uma maior profissionalização com acompanhamento técnico, fisioterapia e outras especialidades”, afirma.
Atualmente, o Distrito Federal conta com 46 equipes oficiais de queimada, tanto masculinas quanto femininas, que competem em busca de títulos em diversas regiões administrativas. As competições são realizadas anualmente, incluindo um campeonato de caráter distrital, com participação de times do DF e de outros estados. O CBQ (Campeonato Brasileiro de Queimada), realizado uma vez por ano, é financiado por emendas parlamentares e patrocinado pela Secretaria de Esporte do DF.
Jéssica Martins pontua que a falta de uniformidade nos regulamentos do esporte em diferentes estados é o principal obstáculo para o reconhecimento nacional da queimada como uma federação, o que dificulta, por exemplo, que o jogo se torne uma modalidade olímpica.
Esse desafio não é exclusivo do Brasil. O dodgeball, por exemplo, modalidade praticada no exterior semelhante à queimada, também luta por reconhecimento global devido à ausência de padronização.
“Essa falta de união entre os grupos praticantes impede a unificação em um único esporte. Já tivemos a oportunidade de avançar, e hoje a Bahia é o estado mais avançado, pois já possui uma federação. Para virar uma confederação, são necessários outros estados, mas as regras ainda são muito diferentes das nossas”, analisa Martins.