Daniel identifica notas musicais nos sons dos trens
Asley Ribeiro/Metrô-DFNa semana do Dia das Crianças, o Metrô do Distrito Federal realizou o sonho de Daniel, 11 anos: conhecer a cabine de um dos trens. O menino nasceu cego, deficiência descoberta pelos pais quando tinha dois meses, e aos três anos foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Desde essa época, os pais perceberam uma incrível sensibilidade sonora, tanto que suas primeiras palavras foram sons entoados como canto. Hoje, Daniel toca piano de ouvido, flauta transversal e escaleta. Mas o que ele quer mesmo ser quando crescer é piloto do Metrô.
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Chamado carinhosamente de Dan, ele tem ouvido absoluto, fenômeno auditivo que se caracteriza pela habilidade de uma pessoa identificar ou recriar notas musicais, mesmo sem referências. Sua nota musical preferida é Fá, e ele a identifica quando os trens da série 1000 do Metrô fecham as portas. Já a nota Sol é relacionada por ele aos trens da série 2000. No começo, o som era um pouco incômodo para Daniel, mas hoje ele está mais acostumado.
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Nesta terça-feira (10), Daniel chegou por volta das 8h30 na estação de Metrô da Asa Sul, em companhia da mãe, Hedrienny Cardoso, ansioso pelo dia especial. Ela entrou em contato com a companhia para realizar o sonho do filho de fazer uma viagem na cabine. “Esse é um momento muito especial para ele”, disse Hedrienny.
Morando no Jardim Botânico, Daniel já não usa o Metrô tão frequentemente, mas os pais encaram o transporte como um passeio e costumam levá-lo quando ele pede. Dessa vez, ele pediu para embarcar com destino a Samambaia, que é o maior percurso da rota.
Ao entrar na cabine do piloto de um trem da série 1000 — que faz o som que ele mais gosta —, Daniel se acomodou na cadeira, sorridente e animado, e ouviu com atenção as instruções dos pilotos que seguiram com ele durante a viagem. O trem estava fora de serviço e não levava passageiros. Foi reservado para proporcionar uma experiência mais tranquila para Dan.
Trabalhando na companhia há 20 anos, o instrutor e piloto da primeira turma do Metrô João Carlos Esteves se emocionou com a visita. “É muito gratificante quando as crianças vêm conhecer nosso trabalho, em especial alguém como Dan, que tem tanto fascínio pelo sistema”, declarou.
Ao longo do percurso, Daniel usou a buzina várias vezes e realizou os avisos sonoros. Ele sabe de cor a ordem de todas as estações, as falas dos pilotos e de qual lado as portas se abrirão quando o trem chegar à plataforma. “É impressionante. Nem nós, pilotos, decoramos tão rápido a ordem de todo o percurso”, contou Esteves.
Cursando a 5ª série em uma escola particular, Daniel estuda com o auxílio de tecnologias assistivas, como leitores de tela e sistema Braille para comunicação escrita e gráfica. Tem dois irmãos mais novos, uma menina de 9 anos, também deficiente visual e com altas habilidades para comunicação, e um menino de 7 anos.
A mãe, Hedrienny, faz questão de registrar a vida em família e as habilidades dos filhos em uma página nas redes sociais, chamada @notasdadiversidade. Ali, há outros exemplos da facilidade de Daniel em identificar qualquer tipo de som. Com mais de 90 mil seguidores, ele recebe sons de buzinas dos seguidores e identifica os tipos de carros, além de reproduzir os sons de pássaros.
Ao final da viagem, emocionada, Hedrienny confessou: “Acho que hoje foi o dia mais feliz da vida dele”.
Chefe do Núcleo de Desenvolvimento de Recursos Humanos, Daniele Gomes Prandi explicou que o Metrô-DF provoca, de fato, uma curiosidade grande nas crianças. Por meio do projeto Educação dos Trilhos, a companhia organiza visitas de escolas, com o intuito de explicar as regras de segurança do sistema.
“Chegam alguns pedidos especiais pela nossa Ouvidoria, principalmente de crianças com autismo. Neste caso, preparamos em conjunto com a mãe para entendermos a condição da criança e organizarmos tudo para que eles se sintam confortáveis e seguros”, finalizou Daniele.